Cover of Os dialectos romanicos ou neo-latinos na África, Ásia e América

Os dialectos romanicos ou neo-latinos na África, Ásia e América

Portuguese 32,897 words 548h 17m read Jul 14, 2010

Excerpt

The Project Gutenberg EBook of Os dialectos romanicos ou neo-latinos na
África, Ásia e América, by Francisco Adolfo Coelho

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

Title: Os dialectos romanicos ou neo-latinos na África, Ásia e América

Read the Full Text

The Project Gutenberg EBook of Os dialectos romanicos ou neo-latinos na África, Ásia e América, by Francisco Adolfo Coelho This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org Title: Os dialectos romanicos ou neo-latinos na África, Ásia e América Author: Francisco Adolfo Coelho Release Date: July 14, 2010 [EBook #33159] Language: Portuguese Character set encoding: ISO-8859-1 *** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK DIALECTOS ROMANICOS OU NEO-LATINOS *** Produced by Rita Farinha, José Carvalho and the Online Distributed Proofreading Team at https://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) *Nota de editor:* Devido ŕ existęncia de erros tipográficos neste texto, foram tomadas várias decisőes quanto ŕ versăo final. Em caso de dúvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final deste livro encontrará a lista de erros corrigidos. Rita Farinha (Julho 2010) SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE LISBOA OS DIALECTOS ROMANICOS OU NEO-LATINOS NA AFRICA, ASIA E AMERICA POR F. ADOLPHO COELHO Professor do Curso Superior de Lettras e socio effectivo da Sociedade de Geographia de Lisboa LISBOA CASA DA SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA 89, RUA DO ALECRIM, 89 1881 IMPRENSA NACIONAL Extrahido do Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa OS DIALECTOS ROMANICOS OU NEO-LATINOS NA AFRICA, ASIA E AMERICA N'uma conferencia feita ante a Sociedade de Geographia em 16 de fevereiro de 1878 chamámos a attençăo dos nossos consocios e do publico para as fórmas dialectaes particulares que algumas linguas europęas e particularmente o francez, o hespanhol e o portuguez, tinham tomado nas colonias e conquistas da Africa, Asia e America. Esses dialectos tęem até hoje attrahido muito pouco a attençăo dos linguistas, năo existindo ainda nenhum trabalho geral sobre elles. Era nosso desejo reunir os materiaes para um trabalho especial sobre os dialectos portuguezes, e um trabalho geral comparativo em que tentassemos determinar as leis de formaçăo d'esses dialectos, formaçăo que se póde por assim dizer estudar _no vivo_, porque um similhante estudo năo poderia deixar de nos ministrar dados importantes sob os pontos de vista glottologico, ethnologico e psychologico. Pedimos n'essa conferencia esclarecimentos, como já o tinhamos feito por outros meios, e os nossos pedidos năo foram de todo inuteis. Um mancebo intelligente da ilha de Santo Antăo, o sr. Cesar Augusto de Sá Nogueira, que assistíra á conferencia, deu-nos todos os materiaes para o estudo que publicâmos do dialecto creolo d'aquella ilha. O nosso amigo rev. R. H. Moreton continuou nos seus dedicados esforços para nos obter publicaçőes no dialecto portuguez de Ceylăo, e a elle devemos em grande parte poder dar hoje uma bibliographia já assás consideravel d'essas publicaçőes e, o que é mais, possuil-as, estando assim habilitados para publicar em breve um estudo bastante completo sobre a _Grammatica e vocabulario do indo-portuguez_. No meio de outros trabalhos mais consideraveis nunca perdemos de vista os dialectos creolos, que havia muito nos interessavam, e fomos assim reunindo uma serie de noticias, em parte simplesmente bibliographicas, cujo conjuncto nos parece offerecer já doutrina sufficiente para constituir materia de um artigo de ensaio. Por mais incompleto que fique o nosso trabalho estamos certos que vem preencher uma lacuna no quadro da glottologia. Fr. Pott no quadro systematico-bibliographico da glottologia que serve de prefacio ao tomo II, 4 das suas _Etymologische Forschungen_ (1870) nem sequer menciona os dialetos creolos; nos livros geraes de Whitney, Max Müller e outros sobre a glottologia em văo se busca uma noticia d'esses tăo interessantes productos; as opiniőes expressas por alguns linguistas sobre o caracter d'esses dialectos, săo, como veremos, indecisas ou erroneas, ou năo apontam os lados por que esses dialectos săo mais importantes para o observador. Comprehende-se este facto singular da historia da nossa sciencia quando se sabe que uma parte dos glottologos gastam o seu tempo á busca da soluçăo de problemas ou insoluveis ou cuja chave năo está ainda descoberta (etrusco, basco, acadiano, etc.), e outra anda absorvida pelos seus estudos especiaes, sem duvida interessantes e muitas vezes importantes, mas que fazem desviar a attençăo de questőes de muito maior momento, sendo poucos os que fazem progredir a sciencia de uma maneira sensivel. O nosso ensaio seria muito mais completo se tivessemos maior numero de informaçőes dos dialectos das nossas colonias e conquistas, e se tivessemos visto diversas publicaçőes sobre os dialectos similhantes das outras linguas europęas, que por diversas causas năo podémos examinar. Entre essas causas predominam a raridade de algumas d'essas publicaçőes e miseravel dotaçăo das nossas bibliothecas, que năo lhes permitte comprar senăo poucos livros que interessem a um pequeno numero de estudiosos. I. DIALECTOS PORTUGUEZES 1. Creolo da ilha de Santo Antăo (archipelago de Cabo Verde) Este dialecto é fallado principalmente pela populaçăo de côr e pelas creanças que o aprendem com as creadas e amas negras. Distinguem-se duas fórmas: o creolo _rachado_, creolo _fundo_, creolo _vejo_, fallado principalmente no interior da ilha e de que as noticias e documentos que publicâmos dăo conhecimento, e o creolo em que a grammatica portugueza é menos ignorada, distinguindo-se quasi unicamente pela pronuncia de algumas palavras ou sons e pelo accento geral. As cartas seguintes foram escriptas por pessoas instruidas que fallam bem o portuguez, mas conhecem bem o creolo rachado. O unico documento verdadeiramente genuino do dialecto de Santo Antăo acha-se na serie de adivinhaçőes que o nosso amigo o sr. Sá Nogueira nos ministrou. Carta 1.^a Nha amigo.--Cu préssa en scrębę | Meu amigo.--Com pressa escrevi ęs dôs fója di papel, qui dentro | estas duas folhas de papel que dentro d'ęs carta en tâ manda nhô. | d'esta carta lhe envio. | Talvęz algun cúsa, palabra, ou | Talvez alguma cousa, palavra ou móde nhů crę, stâ ęrrado. Cuza | como quizer, esteja errada. O que qn'en câ tâ dubída; pamóde pâ | năo duvido, porque por mais creolo más criôlo qui nós di Cabo Berde | que nós de Cabo Verde saibâmos, nú sabę, sénpre nu tâ ncontra | sempre encontrâmos difficuldade ou dificuldade ou enbaráço, quel'ora | embaraço logo que pegâmos na | qui nú pęga na péna pâ nu scrębę na | penna para escrevermos na nossa nós lingua. | lingua. | Ęs culpa ę câ di nós, ę di gobérno, | A culpa năo é nossa, é do governo qui si al bę animaba nós na | que longe de animar-nos em qualquer calquér cuza, ę tâ oprimíno cú má | cousa, opprime-nos com a má scoja di sęs empregado, qu'ę tâ | escolha dos seus empregados, que manda pâ Cabo Berde. | elle manda para Cabo Verde. | Ę tâ fazę bęn mal, pamóde assi | Faz bem mal, porque assim perde ę tâ pęrdę tudo amor, tudo stima | todo o amor e toda a estima que qu'ę pôdę tęn na pôbo di Cabo | póde ter no povo de Cabo Verde. Berde. Ęs cuza ę câ só na Cabo | Isto năo é só em Cabo Verde é por Berde, ę pâ tudo cábo, unde ę tęn | toda a parte, onde elle tem um palmo un palmo di chôn. En podę flába | de terra. Eu podia dizer-lhe nhô cuzás chéo a ruspęto di nós | muitas cousas a respeito do nosso gobérno na Cabo Berde, żmas paquę? | governo em Cabo Verde, mas para Ęs carta ę câ, sima portuguęs | que? Esta carta năo é, como dizem tâ flâ, di politica, e pamóde | os portuguezes, de politica, e por ęs en tâ bira pâ principio di nós | isso volto ao principio da nossa conbersa. Ę sima en staba tâ flâ | conversaçăo. É como lhe estava dizendo, nhô, en câ sabę si algun cuza stâ | năo sei se alguma cousa está tórto ou mál screbędo nęs dôs fójas | errada ou mal escripta n'essas duas di papel; mas câ m'inporta cú | folhas de papel; mas năo nos importemos ęs, e nhu ôubi cuss'ę qu'ent â flâ | com isso, e ouça o que nhô: Na fója un e na linha binte | lhe digo: Na folha 1 v. e linhas eu binte un, nhu tâ lé na banda | vinte e vinte um, na columna creola di criôlo «nha Dóna di nha Lucía» | «nha Dona nha Luzia», e no portuguez e na banda di portuguęs nhú câ tâ | năo encontro nada que, acha nada qui, sima portuguęs tâ | como dizem os portuguezes, lhe flâ, tâ corręspondęl. | corresponda. | Nhú sabę ę pamóde? Ę pamóde | Sabe a rasăo? É porque Dona ęs _Dóna_ ę un nóme qui na criôlo | n'aquelle logar é um nome que em tâ chomádo «nome di cassa», e ę | creolo se chama «nome de casa», tâ custuma pôdo n'algun minino | e usa-se nas meninas (creanças). fémea. Ę pâ ęs nóme que ęs minino | É por esse nome que ellas săo chamadas tâ chomado tioqu'ę grande, | até á maioridade ou até á ou tioqu'ę mórré. Ęs uso ę câ só di | morte. Este uso năo é só de Cabo Cabo Berde, na Brazil tanbę ę tâ | Verde, no Brazil tambem se usa, usado, e assi mi conchę ghentes | e assim conhecemos muita gente chéo cú nome di Nené, Nhanhina, | com os nomes de Néné .......... Nhánha, Sinhârínha, Nhásinhára, | ............................... Júca, Jóca, sin sér sęs nome di | ...... e Joca sem serem os seus batismo, ou _sęs nome di greja_. | nomes de baptismo. | Agora si nhú crę sabę cuss'ę quí | Agora se quizer saber o que quer Dóna crę flâ, en tâ flâ nhô, no | dizer Dona, eu lhe digo, em portuguez portugués ę _avó_ e Dóno ę _avô_. | é avó e Dono avô. | A ruspęto di berbo, criôlo câ tęn | Emquanto a verbos, o creolo năo tudo qui portuguęs tâ choma _ténpo_.| tem tudo quanto o portuguez chama tempo. | Prónóme ę sima ja'n esplicá nhô | O pronome é como já lhe expliquei na fója dôs. Na criôlo di Cabo Berde| na folha 2. No creolo de Cabo câ tęn _bós_ ou _abós_ pâ _vós_ di | Verde só ha _bós_ ou _abós_ para o _vós_ portuguęs, e ęs tâ flâ _nhô_, o | portuguez, e usam de _nhô_ quando qu'ęs tâ papiâ cú alguęn só, e | fallam a uma pessoa só, e de _nhôs_ _nhôs_, o qu'ęs tâ papiâ cú más | quando fallam a mais de uma. d'un. | | Agora _En_, _min_, _amin_ ę quasi | Agora emquanto a _Eu_, _min_, _amin_ tudo ô mésmo, cú algun différença, | é quasi tudo o mesmo, com alguma cónfórme conbersa tâ corrę. Tanbę | differença conforme o seguimento criôlo tęn _mi_. Ex.: | da conversaçăo. Tambem o creolo | tem _mi_. Ex.: | En crę ęs cuza. | Eu quero esta cousa. | Quęnhę qui fazę ęs cuza? Ę mi. | Quem fez isto? Fui eu. | Amin en sâ tâ bá enghęnho, ou | Eu vou ao engenho.......... Amin sâ tâ bá enghęnho, ou En | ............................ sâ tâ bá enghenho. | | Jâ bástâ. Nhú al stâ enfadado. | Basta. Deve de estar enfadado. Agóra tioque nu encontra na | Agora até quando nos encontrarmos biblióthéca. | na bibliotheca. | Nhú acreditan, cum'amigo (_ou_ | Acredite-me, como amigo, que sima'amigo) qui tâ respęta nhô chéo.| muito o respeita. Carta 2.^a _Césa._--Pan fartá-bo bontade en | Cesar.--Para vos fazer a vontade tâ scrębę-bo na nós lingua, na | eu escrevo-vos na nossa lingua, criôlo rachado, qu'en câ sabę si bô | em creolo fundo, que eu năo sei tâ entendę-le. | se vós o entendeis. | Flan: pâ que bô mestę pâ nű | Dizei-me: para que precisaes de scrębębo nęs lingua? Bô tenę gána | que vos escrevamos n'esta lingua? di estudâ si orige, fazę algun | Tendes desejo de estudar a sua gramatica ou dicionare? S'ę pâ algun| origem, de fazer alguma grammatica dęs cussa Deus juda-bos; mas dexam | ou diccionario? Se é para alguma fla-bo mę al fazę-bo suâ tioque | d'estas cousas, Deus vos ajude, bu câ podę más, tioque bi seinti... | mas sempre vos direi que isso | vos fará suar até năo poderdes mais, | até que o sintaes.............. | N'ęs ija quasi tudo alguęn tenę | N'esta ilha quasi toda a gente médo di Duco. Duco bu conchę-le? | tem medo de Duco: Duco vós conheceil-o? Estan mâ náu. Duco era un préso | Estou que năo. Duco era que staba na calabôs; ę entendę mę | um preso que estava no calabouço; câ stába lâ sábe, ę fugi ęle cű dôs | e entendeu que năo estava lá bem; companheros; ę stâ riba cháda; tâ | e fugiu com dois companheiros; está mátâ cábra, tâ forçâ mujéres, tâ | em cima da achada; mata cabras, fazę tudo casta di pouca borgonha. | força mulheres, faz toda a casta Flado mâ Duco manda flâ Henrique | de pouca vergonha. Diz-se (fallado) d'Olibéra, Puchim, Maia, Bencesláu | que Duco manda dizer a Henrique pâ ęs tomâ seintido cú sęs | de Oliveira, Puchim, Maia, Wenceslau bida, pâ ęs câ bá fóra, pamóde se | para que estes tomem sentido encontra cu ęles mę tâ matalos. | com a sua vida, para estes năo Fazę idéa mó ęs al tęnę mędo! | irem fóra, poisque se se encontra | com elles que os mata. Fazei idéa, | como estes terăo medo! | P. si bida ę dentro cartore; ę | Paulo a sua vida é dentro do stâ magro sima alguęn tisgo; ę flâ | cartorio, elle está magro assim como mâ só bo que sâ tâ fazę-le falta; | um tisico; diz que sois vós que ę mandá-bo mantenha chéo. | lhe tendes feito falta; elle manda-vos | muitas recommendaçőes. | Ti outr'ora; en câ ten mâs tempo. | Até outra occasiăo; eu năo tenho Bo armun, etc. | mais tempo. Vosso irmăo, etc. Carta 3.^a Nha estimado armun. En ręcębę | Meu estimado irmăo. Eu recebi carta di nhô, qu'in fica munto | carta do senhor, que eu fico muito contente con ęl, e pan fazę nhô | contente com ella, e para fazer ao bontade en tâ cumçâ screbę nhô na | senhor vontade eu começo a escrever criôlo. Primęro nobidade qu'in tâ | ao senhor em creolo. Primeira dâ nhô ę cumâ C. mâ tâ recitâ quęs | novidade que eu dou ao senhor é berços di dôda de Albano na criôlo | que C. recita aquelles versos da doida e ę ta cunçal sin: | de Albano em creolo, e começa | assim: | Benca li nha fijo sucuta: | Vem cá meu filho escuta: | Bę ę amigo di bu mái? | És amigo de tua măe? | Bé! nha mái, e que pergunta ę | Bem, minha măe, e que pergunta ęs? | é essa? | Pôs bęn, sima bu ojá ęs carnuja | Pois bem, assim como tu vęs este carnugado, ferucho feruchado ę | ferro enferrujado é sangue de teu sangue di bu pai; i bu tâ juran cumâ| pae, e tu juras-me como o vingas? bu ta bingal? | | En tâ jura! | Eu juro! | Ampôz ę Ricardo pai di Maria, | Pois é Ricardo, pae de Maria, qui matâ bu pai! | que matou teu pae! | Bé! mamái! Pai di Maria en câ | Bé! mamă! Pae de Maria eu năo podę matal, pamóde Maria stan | posso matal-o, porque Maria está dente nha côraçon. | dentro de meu coraçăo. | E assim cú munto cuza, mas | E assim com muita cousa, mas qu'in câ sabę, e por isso en câ tâ | que eu năo sei, e por isso eu năo pon. Quen qui costumá tanbę recital | ponho. Quem aqui tambem costuma ę Brito e mas Quinquim. | recital-os é Brito e mais Joaquim. | En pidi nhô di fabôr pá nhú mandan | Eu pedi ao senhor o favor de quęl dicionare; en pedi té na | mandar-me aquelle diccionario; eu portuguęs, gora en tâ biral na | pedi em portuguez, agora eu traduzo criôlo. Quę pâ fabur câ nhú | (viro) em creolo. Queira por desquecę. En tâ, cába ęs carta pan | favor năo se esquecer. Eu acabo porgunta nhô s'ę pęrciso escrębę nhô| esta carta por perguntar ao senhor en criôlo na tudo bapor, ou náo. | se é preciso escrever ao senhor em | creolo por todos os vapores ou năo. | Nhu adés, nhú dán tudo alguen | mantęnha chéo. Tudo ghentes di | casa tâ mandâ nhô mantenha chéo. | Phrases diversas Mâ nhu stâ? ou Mâ nhu pássâ? | Como está? ou como passa? | Cômmôdádo, nhô mâ nhu sa ta | Bom, e o sr. como tem passado? pássâ? | | Mâ ba ghentes tudo dinhô? _ou_ | Como estăo todos os seus? Móde ghentes tudo di nhô stâ? | | Tudo stâ bon, graças a Déus. | Todos estăo bons, graças a Deus. | Jâ dura qui en ca ôjâ nhô; Unde | Ha muito tempo que o năo vejo, nhu staba? _ou_ Unde nhu tęn stado? | onde tem estado? | Mi en stába la na Orgôn, _ou_ En | Eu estava nos Orgăos, ou eu tenho tęn stâdo la na Orgôn. | estado nos Orgăos. | Cuz'é _ou_ Cuss'ę nhu bá fazęba lâ? | O que foi lá fazer? | En bába oja (_ou_ en bá ojába) un | Fui ver uma parenta minha que nhâ parente, qui stába doente. | estava doente. | żQuęnhę, tia di nhô, nhâ Maria? | Quem? a sua tia, a sr.^a Maria? żCuss'ę qu'ę tęnba? | O que tinha ella? | E tęnba dór na péto, _ou_, ę ta | Tinha dores no peito, ou queixava-se quexaba di dór na péto. | de dores no peito. | Ę jâ stâ milhor? | Já está melhor? | En dęxal um pouco milhor, _ou_, | Deixei-a um pouco melhor. En dęxal más cômôdádo un pouco. | | Púndo nhu sâ tâ bai? (_gossi-n_). | Para onde vae agora? | En sâ tâ bai Praia. | Vou á Praia. | I mi en sâ tâ bai (_ou_ bá) Tarrafal| E eu vou para o Tarrafal. _ou_ Tarfal. | | Anton nhu tęn qui anda chęo | Entăo tem de andar ainda muito. inda. | | Qui horas ę gossin? _ou_ Canto | Quantas horas săo? hora jâ dâ? | | Já stâ pâ dôs hora. | Devem ser duas horas. | Dęxam bai, tioque nu torna ojá. | Deixe-me ir, até quando nos tornarmos | a ver. | Nhu adés. (_adés_). | Adeus. | F. En tâ pidi bo pâ bo escrębęn | F. Peço-te que me escrevas uma um carta na criôlo, mas num criôlo | carta em creolo, mas em um creolo bęrdadęro. | verdadeiro (puro). Has de achar Bu al acha galante ęs pidido; | exquisito (extravagante) este pedido, mas oc bu sabę ę pâ cuzé, bu al | mas quando souberes para que ficá conténte. Gossin en câ podę | é, ficarás satisfeito. Agora (n'esta flábo ę pâ que fin, pamóde en câ | occasiăo) năo posso dizer-te para tęn ténpo. | que fim é, porque năo tenho tempo. | Câ bu squęcę, żjá bu oubí? | Năo te esqueças, ouviste? | Bo armun amigo. | Teu irmăo, amigo. | Jâ bu râcębę nha carta qui en | Já recebeste a minha carta que scrębę-bo na criôlo? Respondęn e | te escrevi em crioulo? Responde-me e mandâ flan mode ghentes tudo | e manda dizer-me como estăo todos. stâ. | | Titia jâ stâ mijór di si dismaios? | A tia já está melhor dos seus Nha Dóna di nha Lucía inda câ | desmaios? A nha Dona da Luzia cômôda? | ainda năo está boa? | Logo qui[1] bu ręcębę ęs carta, | Logo que receberes esta carta bu ta manda chôma Roque, e bu | mandarás chamar o Roque, e lhe ta flal cumâ en ręcębę si carta, e | dirás que recebi a carta d'elle, e su xinti chęo di más, di máo tratos,| senti bastante dos maus tratos, que qui scribons sâ tâ dal. | os escrivăes lhe tęem dado. | Comâ gossin en câ podę fazel | Que agora nada lhe posso fazer, náda, e pâ ę spęra tioque en boltâ | e que espere até (quando) eu voltar C. Berde; e anton en tâ oja, si | a Cabo Verde, e verei entăo se algun cuza en tâ podę alcança na si | alguma cousa posso alcançar em fabôr. | seu favor. Adivinhaçőes «Os creolos em Cabo Verde, diz-nos o sr. Nogueira, pelo menos em Sant'Iago, tęem por costume contarem historias, isto é, lendas ou contos. «Quasi sempre essas historias săo contadas á noite, assentando-se as pessoas que tomam parte n'esse passatempo de caracter verdadeiramente familiar, á porta da rua ou entăo dentro de casa, fazendo d'esse passatempo um serăo. Precedem a essas historias as adivinhaçőes, sendo algumas d'estas bem obscenas.» Eis uma pequena serie d'essas adivinhas que o nosso collaborador nos ministrou: 1. Xintido. | Mi li, mi lá. | 2. Porco. | Mungo mungo tâ ba rúbera. | 3. Chúba na banána. | Ráque-ráque na pedragál. | 4. Ę un home que mátâ un buro, { Curupíu de dâs pé mátâ curúpíu de pamóde um pé de coube. { quato pé, sob curupiu de um pé. | 5. Ę ôjo. { In tęn nhâ dôs fijo na janélla nium { câ tâ ôjâ companhęro. | 6. Falla. { In tęn nhâ fijo in tâ mandal dento { chuba ę câ tâ môjâ. | 7. Máma di cadęra. { In tęn nhâ dôs fijo tâ córę tudo córę, { nium câ tâ pássâ companhęro. | 8. Oréja. { In tęn nhâ figuęrinha na pónta di { rócha, tâ queí, câ tâ queí. | 9. Sónbra. { In córę ín câ pęga, in xinta in { pęga. | 10. Bôca cú dente. | In tęn nhâ pucarínha cheio d'ôsso. | 11. Tripiche. { Chôro na cassa di riba, batuque na { cassa di baxo. | 12. Pánno. | Nôte di cumprido, di dia di trabęsado. | 13. Caldęron. { Ę tęn pé ę câ tâ ánda ę tęn aça ę { câ tâ buâ. | 14. Arco d'abęja. { Jôn di Pico, Manél d'Orgôn, sę câ { súbi ę al trabęssa. | 15. Pedra fôgôn. { In tęn tręs préto; si ún câ stâ, quęlouto { dôs câ tâ sirbi. | 16. Óbo. { Radondęte indęte _que năo tem_ tapo { nem tôpęte. | 17. Anzol:--ę tâ lęba isca mórto, { Préto côrcôbádo que tâ lęba mórto, ę tâ tarcę pexe { tâ trâzę bibo. | 18. Póte. | Ę bá dętado, ę bęn sâquédo. | 19. Estréla na Céo. { In tęn nha cúrál di cábra, nôte pâ { manheę nium. | 20. Máma de báca. { Nha quato bôli bóca pâ báxo lęte { câ tâ lánça. | 21. Estrubado. { Nhâ boi tâ bônba lâ na Tarafál, in { tâ oubi li. | 22. Mandioca. { Ríquití pé béjo fésta quę câ chiga, { ę câ sabe. | 23. Morte | In bai pân cá bęn más. | 24. Calbicęra. { Albo cú mâ albâiáda, verde mâ { vęrdęte, tęn côr di rabu de sancho, { mas ę câ ęl. | 25. Caminho. { Un hóme grande sin sónbra. | 26. Fumo. { Nha cabállo dento cóma na rua. | 27. Sino. { Sin câ pęga nha boi rábo ę câ tâ { bônba. | 28. E côco cú si pája, cu cumida, { In tęn un caza di pája dento quęl cu ágo. { caza di pája in tęn un caza branca, { dento caza branca in tęn un { fonte d'ágo. | 29. Cruz na cháda. { In tęn nha báca na cháda, in câ { tâ dâ pája, in câ tâ dé ágo, tudo { alghęn qui páçâ ta botan el um { mô de pája. | 30. Nabíu. { In tęn un óme grande na mę di { mar, s'ę câ bento ę câ tâ anda. Observaçőes phoneticas Dos sons do portuguez faltam no creolo de Santo Antăo _lh_, substituido por _j_ (_paja_, _ija_, _foja_, _fijo_, _scoja_), _v_ substituido por _b_ (_dubida_, _dębę_, _oubi_, _pobo_, _conbersa_, _biro_, _fabur_); os diphthongos nasaes (_Jan_==_Joăo_, _Orgon_==_Orgăos_, _coraçon_==_coraçăo_, _armun_==_irmăos_, _náo_==_năo_); o diphthongo _ei_, substituido por _é_, _ę_ (_proméro_, _ruspęto_, _figuęrinha_). Ha alguma tendencia para o iotacismo: _di_==_de_. _I_ desapparece em _pos_==_pois_, _mas_==_mais_. Mudanças varias nas vogaes atonas: _armum_==_irmăo_, _proméro_==_primeiro_, _borgonha_==_vergonha_, _ruspęto_==_respeito_. Mudança nas vogaes accentuadas: _cuza_==_cosa_, _favur_==_favor_. Apherese de vogal ou de syllaba: _sim_==_assim_, _nhô_==_senhor_, _nha_==_minha_[2]; _tâ_==_está_. Syncope de vogal: _cumçâ_==_começar_, _crę_==_querer_, _conchę_==_conhecer_. Apocope de vogal ou de syllaba inteira: _calabôs_==_calaboço_, _mó_ (como)==_modo_, _mo_==_molho_, _ęs_==_este_. Apocope de _r_: regular no infinito (_ser_ é uma excepçăo, se năo ha erro no paradigma que nos enviou o nosso informador); _nhô_==_senhor_, _pâ_==_por_. Varia: _ago_==_agua_, _sucuta_==_escuta_. Observaçőes morphologicas 1. _Genero._ Os adjectivos năo tęem fórmas que indiquem o genero. A fórma typica é em geral a fórma masculina portugueza; mas ha excepçăo, como _nha_==_minha_. 2. _Numero._ O emprego das fórmas do plural năo se póde estabelecer com certeza dos textos que temos á nossa disposiçăo, nem das noticias que nos ministraram. Os casos seguintes parecem-nos representar as tendencias do dialecto no emprego do _s_ do plural: a) os adjectivos e pronomes empregados como adjectivos năo tomam o signal do plural (mas diz-se _quel_, _quels_); b) com os numeraes o substantivo năo toma o signal do plural (mas na carta 2.^a ha _dôs companheros_); c) quando do contexto da phrase resulta a idéa da pluralidade falta o _s_ do plural. Exemplos: _es dos foja._ estas duas folhas. _tres preto._ tres pretos. _mujer, mujeres._ mulher, mulheres. Com relaçăo ao plural diz-nos o nosso informador: «A tendencia que ha hoje para empregar regularmente as fórmas do plural torna-se muito sensivel». 3. _Pronomes._ Os pronomes demonstrativos săo: _ęs_ (este, esse) e _quel_ (aquelle). _Ęs home._ Este homem. _Ęs mujer._ Esta mulher. _Ęs homes._ Estes homens. _Ęs mujeres._ Estas mulheres. _Quel rapaz._ Aquelle rapaz. _Quel rapariga._ Aquella rapariga. _Quels_ (ou _quel_) _rapaz_. Aquelles rapazes. _Quels_ (ou _quel_) _raparigas_. Aquellas raparigas. O interrogativo é: _quen_, _qui_, ou _quę-nhę_, quem. Eis o quadro dos pronomes pessoaes. Singular: _En_, _in_, _mi_ eu _-n_ -me _Bu_ (abó) tu _Di bó_ de ti _-bo_ -te _Ę_ elle _-l_ lhe _nhô_ lhe (vos) _ęl_, _-le_ o Plural: _Nós_, _nu_ nós _-no_ -nos _Nhô_, _nhôs_ vós _nhô_ vos _Ęs_ elles _-ls_ lhes _Quęn qui dan (dâ-n) el._ Quem m'a deu. _Quęn qui dá-bo el._ Quem t'a deu. _Quęn qui dá-nhô el._ Quem lh'a deu. _Quęn qui dá-no el._ Quem nol'a deu. _Quęn qui dá nhô el._ Quem vol'a deu. _Quęn qui dals (da-ls) el._ Quem lh'a deu. _Bu tâ entendęle._ Tu entendel-o. _En tâ jural._ Eu o juro. _Bu_ (vós) tendo usurpado o logar de _tu_, năo ha pronome da segunda pessoa do plural; o _pronomen reverentiae_ é substituido por _nhô_==senhor, _nhâ_==senhora. _Nhô_ tomou o signal do plural: _ô nh'amigos, nhôs al judan fazę ęs cuza_, ó meus amigos, vós haveis de me ajudar a fazer esta cousa. O pronome da segunda pessoa do singular diz-se _bó_ quando é precedido de proposiçăo: _di bó_, de ti. Nas ilhas de Barlavento ha _bucę_, _bucęs_, _bocę_, _bocęs_ em logar de _bó_, _abó_ e _nhô_. Os seguintes exemplos mostram as fórmas dos possessivos ou seus equivalentes: _Nha caballo._ O meu cavallo. _Nha caballos._ Os meus cavallos. _Nha egua._ A minha egua. _Nha eguas._ As minhas eguas. _Ęs caballo ę di men._ Este cavallo é meu. _Ęs caballos ę di men._ Estes cavallos săo meus. _Ęs egua ę di men._ Esta egua é minha. _Ęs eguas é di men._ Estas eguas săo minhas. _Bu cavallo._ O teu cavallo. _Bu cavallos._ Os teus cavallos. _Bu egua._ A tua egua. _Bu eguas._ As tuas eguas. _Ęs caballo ę di bó._ Este cavallo é teu. _Ęs egua ę di bó._ Esta egua é tua. _Si caballo, sęs caballo._ O seu cavallo, o cavallo d'elle. _Caballo di nhô_ ou _nhâ._ O seu (vosso) cavallo. _Ęs caballo ę di nhô._ Este cavallo é vosso, seu. _Nós boi._ O nosso boi. _Nós báca._ A nossa vaca. _Ęs boi ou ęs báca ę di nós._ Este boi ou esta vaca é vosso, vossa. _Si caballo, sęs caballo._ O seu cavallo (d'elles). _Ęs caballo ę di sęs, d'ęls_ ou _d'ęs._ Este cavallo é seu (d'elles). 4. _Verbo._ Esta parte da grammatica do creolo de Santo Antăo apresenta uma riqueza muito maior que em geral os outros dialectos similhantes. Năo é difficil explicar este facto: o contacto persistente entre a populaçăo que falla o dialecto e os que fallam o portuguez puro tende naturalmente a fazer penetrar no creolo maior numero de fórmas portuguezas. Vimos já o que se dava com as fórmas do plural. Damos os paradigmas da conjugaçăo e faremos depois algumas observaçőes sobre elles. Ser (sér) Indicativo Presente _Mi ę_ Eu sou _Bu, abo_ ou _abo bu ę_ Tu és _Ęl ę_ Elle é _Nós, nos nu ę_ Nós somos _Ęs ę_ Elles săo Perfeito composto _Eu ten sido_ Eu tenho sido _Bu ten sido_ Tu tens sido _Ęl, ę ten sido_ Elle tem sido _Nos, nu, ten sido_ Nós temos sido _Ęs tęn sido_ Elles tęem sido Imperfeito e perfeito _Mi era_ Eu era _Bu etc. era_ Tu eras _Ęl era_ Elle era _Nós era_ Nós eramos _Ęs era_ Elles eram Futuro _En al ser_ Eu serei _Bu al ser_ Tu serás _Ęl al ser_ Elle será _Nu al ser_ Nós seremos _Ęs al ser_ Elles serăo Condicional _En tâ sérba_ Eu seria _Bu tâ serba_ Tu serias _Ę tâ sérba_ Elle seria _Nu tâ sérba_ Nós seriamos _Ęs tęn de ser_ Elles seriam Subjunctivo Presente _En ser_ Eu seja _Bu ser_ Tu sejas _Ę ser_ Elle seja _Nu ser_ Nós sejamos _Ęs ser_ Elles sejam Imperfeito _Mi era_ Eu fosse _Bu era_ Tu fosses _Ęl, ę era_ Elle fosse _Nu era_ Nós fossemos _Ęs era_ Elles fossem Futuro composto _In ten de ser_ Eu tiver de ser _Bu ten de ser_ Tu tiveres de ser _El, ę ten de ser_ Elle tiver de ser _Nos, nu ten de ser_ Nós tivermos de ser _Ęs ten de ser._ Elles tiverem de ser Imperativo _Ser_ Sę tu _Nhu ser_ Sede vós Haver Este verbo é quasi exclusivamente empregado para a expressăo do futuro como auxiliar, portanto no presente do indicativo. A fórma _al_ provém de _ha-de_, por apocope e mudança de _d_ em _l_. O verbo _dębę_ é empregado como auxiliar, substituindo _al_. Na cidade da Praia diz-se _hôbe (oubi) tempo, tęn habido_, mas essas fórmas năo se acham ainda no creolo rachado. Ten (ter) No presente do indicativo _tęn_ para todas as pessoas no paradigma escripto pelo nosso informador; mas nas cartas 2.^a e 3.^a ha _tęnę_ como fórma fundamental, servindo pois para o presente só com os pronomes e figurando nos tempos compostos, como _ser_ no paradigma acima. O imperfeito e o perfeito do indicativo tem _tenba_, tinha, para todas as pessoas; o imperativo _tęn_. Emprega-se o participio _tido_. Stá (estar) No presente do indicativo _sta_ ou _star_ para todas as pessoas; no imperfeito _staba_, no perfeito _stębe_, ou no creolo rachado _staba_, como no imperfeito. Os tempos periphrasticos conformam-se ao paradigma de _ser_. Emprega-se o participio _stado_. Verbos năo auxiliares O presente em regra é expresso por _tâ_ (-stá) com o infinito, para todas as pessoas exemplos: _en tâ jurâ_, eu juro, _bô tâ flâ_, vós dizeis; mas occorre tambem como presente a simples fórma do infinito: _nhu sabę_, vós sabeis. Algumas fórmas do presente portuguez, principalmente da terceira pessoa, occorrem, sem variaçăo, com o auxiliar _tâ_ ou isoladas, exprimindo o presente: _en tâ bai_, eu vou; _ęl tâ lęba_, elle leva; _en péga_, eu agarro; _en tâ biro_, eu volto; _in xinto_, eu me sento. Ha fórmas do preterito como _fazeba_, fazia, _baba_, ia (sobre o presente _bai_). O perfeito parece ser expresso pelo infinito, como _recebę_, _fugî_ (elle fugiu), _xinti_, _matá_, _entendę_, nas cartas acima. O imperativo é expresso pelo infinito: _esquecę_, esquece, esquecei; _judá_, ajuda, ajudae. Occorrem algumas fórmas particulares como _ben_, vem, vinde. Ha participios em _ado_ como _usado_, _enfadado_, em _edo_ como _screbedo_, escripto, em _ido_ (normal?). Os tempos periphrasticos seguem o paradigma de _ser_ (auxiliar com a fórma principal, infinito presente ou participio passado). Algumas vezes o futuro é identico ao presente: _en tâ mandá_, mandarei; _bô tâ flal_, dir-lhe-has. Observaçőes lexiologicas A etymologia dos vocabulos creolos é geralmente transparente nos specimens que publicâmos; notâmos apenas particularmente os seguintes, comquanto outros chamem tambem a attençăo: _Câ_, năo; origem incerta. _Mâ_, _mę_, que; provirá da conjugaçăo adversativa _mas_? _Mantenha_ em _mantenha chéo_, significando muitas recommendaçőes; originou-se este emprego evidentemente da formula antiga de saudar: _Deus te mantenha_. _Pamóde_, porque; provém da formula _por amor de_, _por mór de_, muito usada em portuguez, significando por causa de. No dialecto de Macau usa-se no mesmo sentido a variante phonetica _prómódi_. _Papiá_, fallar; _flâ_ toma o sentido de dizer. _Sâ_ em _nhu sâ tâ passado_ como tem passado, e _sâ tâ dal_, lhe tem dado, etc., é obscuro para nós. _Sábe_ (de _saber_) serve para exprimir que uma cousa é agradavel; _câ sábe_, que é desagradavel; _ęs cumida ę sâbe_, esta comida é agradavel, sabe bem; _quel home tęn ar sábe_, aquelle homem ter ar agradavel; algumas vezes póde traduzir-se por _bem_. _Fede_ exprime o contrario: _chęrá féde_, cheirar mal; _fazęl féde_, offendel-o. _Tioque_, até que; _oque_ (_oc_), _oqu'ęs_, quando. Nomes hypocoristicos ou nomes de casa _Baca._ Lourenço. _Balanta._ Valentim. _Banda._ Domingos. _Barujo._ Vicente. _Beba._ Genoveva. _Bebé._ Bernabé. _Beto._ Alberto. _Beto._ Roberto. _Bibina._ Balbina. _Bina._ Etelvina. _Bocha._ Ambrosio. _Bomba._ } } Anna. _Bombina._} _Caella._ Michaela. _Caixa._ Nicolau. _Cote._ Torquato. _Chalino._ Marcellino. _Chamara._ Maximiana. _Chamaro._ Maximiano. _Chana._ Sebastiana. _Chana._ Luciana. _Chanchane._ Alexandre. _Chéché._ José. _Chella._ Marcella. _Chello._ Marcello. _Chencho._ Innocencio. _Chicha._ Narcisa. _Chichi._ Cecilia. _Chica._ Francisca. _Chico._ Francisco. _Chimí._ Cazimiro. _China._ Filippe. _Choga._ Chrysostomo. _Choncha._ Sebastiăo. _Chubanta._ Martha. _Chumpa._ Paula. _Cobra._ Francisco. _Coco._ Simoa. _Coima._ Paulo. _Colaça._ Nicolaça. _Cuna._ Joaquina. _Dada._ Felicidade. _Damás._ Damasio. _Delba._ Amaro. _Dico._ Frederico. _Didi._ Claudina. _Dindino._ Bernardino. _Dique._ Henrique. _Doca._ Theodora. _Doco._ Theodoro. _Doli._ Isidoro. _Doria._ André. _Dunda._ Domingos. _Jéjé._ José. _Faia._ Raphael. _Fan._ Estephania. _Fina._ Josephina. _Fita._ Antonio. _Fonfon._ Affonso. _Fronha._ Luiza. _Gena._ Eugenia. _Gruida._ Margarida. _Ia._ Maria. _Lela._ Magdalena. _Lelencha._ Florencia. _Lelencho._ Florencio. _Lena._ Helena. _Lorma._ Jeronymo. _Lota._ Izabel. _Maja._ Luiz. _Mana._ Germana. _Mano._ Germano. _Maral._ Pedro. _Mongido._ Hermenegildo. _Motas._ Thimotheo. _Munda._ Raymundo. _Nhaba._ Filippe. _Nico._ Manuel. _Oiro._ Miguel. _Pelico._ Polycarpo _Penha._ Gregorio. _Pomba._ Ignez. _Potâ._ Hippolyto. _Queta._ Henriqueta. _Quinquina._ Joaquina. _Ramal._ Antonio. _Roda._ Andreza. _Ronda._ Agostinho. _Supro._ Cypriano. _Tancha._ } } Constança. _Tantancha._} _Tantana._ Victoriana. _Tantano._ Victoriano. _Tatacha._ Anastacia. _Tatacho._ Anastacio. _Tetęa._ Dorothea. _Tętęs._ Matheus. _Tilia._ Mathilde. _Tinho._ Martinho. _Tino._ Faustino. _Tintim._ Valentim. _Tintina._ Catharina. _Tólo._ Bartholomeu. _Touco._ Victor. _Tuda._ Gertrudes. Ás formaçőes hypocoristicas que tęem limitadissima extensăo em Portugal, abriu-se um campo novo nos dialectos fóra da Europa; algumas d'essas fórmas vieram de lá para a metropole, como _Juca_, _Nhónhô_, etc. É difficil e em parte impossivel achar as relaçőes que existem entre algumas d'essas fórmas hypocoristicas de Santo Antăo e as usuaes correspondentes; para algumas năo haverá até talvez relaçăo etymologica; mas a difficuldade provém principalmente do pequeno numero das fórmas que conhecemos, que năo nos permittem reconhecer todas as variedades dos processos, a que devem a existencia. As fórmas difficeis de reduzir ou irreductiveis, em a nossa lista săo: _Baca_, _Banda_, _Barujo_, _Bomba_ (e _Bombina_), _Caixa_, _China_, _Choga_, _Choncha_, _Chubanta_, _Chumpa_, _Cobra_, _Coco_, _Coima_, _Delba_, _Doria_, _Dunda_, _Faia_, _Fita_, _Fronha_, _Lota_, _Maja_, _Maral_, _Nhabo_, _Oiro_, _Pelico_, _Pomba_, _Potâ_, _Ramal_, _Roda_, _Ronda_, _Touco_ (32 fórmas). As outras fórmas hypocoristicas de Santo Antăo provém das usuaes correspondentes por processos de formaçăo em geral perfeitamente regulares. O processo mais geral é o da simples apherese de todos os elementos que precedem a syllaba accentuada; essa alteraçăo raramente é a unica que se dá: quasi sempre se complica com outras. Em poucos casos a apherese deixa de fazer desapparecer todas as syllabas que precedem a accentuada (vid. infra _Mongido_ e _Chamaro_). Formaçăo por apherese _A._ Simples apherese. _Caela_ de _Michaela_. _Colaça_ » _Nicolaça_. _Fina_ » _Josephina_. _Lena_ » _Helena_. _Mano_ de _Germano_ _Queta_ » _Henriqueta_. _Tinho_ » _Martinho_. _Tino_ » _Faustino_. Em: _Ia_ de _Maria_ a apherese estendeu-se á consoante inicial da syllaba accentuada. _B._ Apherese complicada com outros phenomenos phoneticos. 1) Modificaçőes nas vogaes finaes: _Cate_ de _Tor-quato_. _Dada_ » _Felici-dade_. _Gena_ » _Eu-genia_. _Mota-s _ de _Ti-motheo_. _Munda _ » _Raymundo_. 2) Apocope: _Fan_ de _Este-phania_. 3) Apocope com retracçăo do accento: _Tólo_ de _Bartholo-meu_. 4) Alteraçăo da vogal accentuada: _Cuna_ de *_Quina_ de _Joa-quina_. 5) Quéda de _r_ da syllaba accentuada, com ou sem modificaçăo das vogaes finaes: _Beto_ de *_Berto_ de _Al-berto_. _Beto_ » *_Berto_ » _Ro-berto_. _Dico_ » *_Drico_ » _Fre-drico_, _Frederico_. _Guida_ » *_Grida_ » _Mar-grida_, _Margarida_. _Tuda_ » *_Trudes_ » _Ger-trudes_. 6) Modificaçőes nas consoantes das syllabas conservadas: a) _v_ em _b_. _Beba_ de *_Veva_ de _Genoveva_. _Bina_ » *_Vina_ » _Etel-vina_. b) _s_, _z_ (_ç_, _s_) em _ch_: _Chicha_ de *_Cisa_ de _Nar-cisa_. _Chello_ » *_Cello_ » _Mar-cello_. _Tancha_ » *_Tança_ » _Cons-tança_. c) _ci_, _si_, _ti_ em _ch_: _Bocha_ de *_Brosio_ de _Am-brosio_. _Chana_ » *_Ciana_ » _Lu-ciana_. _Chencho_ » *_Cencio_ » _Inno-cencio_. _Chana_ » *_Tiana_ » _Sebas-tiana_. Em _Bocha_ houve quéda de _r_ como em _Beto_, _Tuda_, etc., mudança de _o_ em _a_ como em _Munda_. d) Mudança de _ç_ em _ch_ com alteraçăo n'uma vogal protonica: _Chalino_ de *_Cellino_ de _Mar-cellino_. e) Mudança de _ç_ em _ch_ e desapparecimento d'uma consoante: _Chico_ de *_Cisco_ de _Francisco_. _Facico_ é a pronuncia pathologica do nome _Francisco_. f) Alteraçőes diversas regulares de consoantes (complicadas n'alguns casos com modificaçőes vocalicas). Assimilaçăo de _ld_ em _ll_ (_l_): _Tilia_ de *_Tilde_ de _Ma-thilde_. Assimilaçăo de _ld_ em _d_: _Mongido_ (_Mengido_) de *_Menegildo_ de _Hermenegildo_. _r_ em _l_, _n_ em _r_: _Lorma_ de *_Ron(y)mo_ de _Je-ronymo_. _r_ em _l_: _Doli_ de *_Doro_ de _Isi-doro_. _r_ em _d_: _Dique_ de *_Rique_ de _Henrique_. _n_ em _r_: _Chamáro_ de *_Chimiano_ de _Ma-ximiano_. _n_ em _l_: _Lela_ de *_Lena_ de _Magda-lena_. g) Alteraçăo consonantal irregular: _Doca_ de *_Dora_ de _Theo-dora_. h) Alteraçăo da consoante da syllaba accentuada com apocope de syllaba: _Chimí_ de *_Zimí_ de _Ca-zimiro_. _C._ Apherese e reduplicaçăo: 1) Sem apocope: a) _Bibina_ de *_Bina_ de _Bal-bina_. _Chanchane_ » *_Chane_ (_Chandre_) » _Alexandre_. _Dindino_ » *_Dino_ » _Bernar-dino_. _Lelencho_ » *_Lencho_ (_Rencho_) » _Flo-rencio_. _Tantancha_ » *_Tancha_ » _Constança_. _Tatacho_ » *_Tacho_ » _Anas-tacio_. _Tetea_ » *_Tea_ » _Doro-thea_. _Tetés_ » *_Tés_ (_Teus_) » _Ma-theus_. b) _Bebé_ » *_Bé_ » _Berna-bé_. _Chéché_ » *_Ché_ » _José_. _Jéjé_ » *_Jé_ » _José_. _Quimquim_ » *_Quim_ » _Joa-quim_. _Tintim_ » *_Tim_ » _Valen-tim_. 2) Com apocope: _Didi_ de *_Di_ (_Dina_) de _Clau-dina_. _Fonfon_ » *_Fon_ (_Fonso_) » _A-fonso_. _Chichi_ » *_Chi_ (_Chilia_) » _Ce-cilia_. _Chichi_ póde explicar-se tambem por apocope. 3) Com syncope: _Tantano_ de _Tano_ (_Trano_, _Triano_, _Toriano_) de _Vic-toriano_. _Tintina_ » _Tina_ (_Trina_, _Tarina_) » _Ca-tharina_. Formaçăo por apocope (sem apherese) _A._ Sem retracçăo do accento: _Damás_ de _Damasio_. _B._ Com retracçăo do accento e em geral alteraçăo da vogal sobre que elle vae recaír: _Balánta_ de _Valentim_. _Pelíco_ » _Policarpo_. _Supro_ » _Cypriano_. Algumas das fórmas difficeis de explicar resultam sem duvida, em parte, de uma complicaçăo de processos; _Potâ_, por exemplo, provém, de _Hypolito_ por apherese de _Hy_, syncope de _l_ com contracçăo de vogaes e protracçăo do accento, mas esta fórma permanece isolada. A derivaçăo póde tambem, como n'outras linguas, ter representado algum papel (_Lota_==_Izabelota_). Os processos de formaçăo que acabâmos de expor năo tęem nada de especial: encontram-se com simples variantes n'um grande numero de linguas antigas e modernas, falladas a distancias consideraveis, pertencendo a grupos radicalmente distinctos. Mr. Robert Mowat consagrou ás fórmas hypocoristicas um estudo muito interessante, _De la déformation dans les noms propres_, publicado primeiramente em _Mémoires de la société de linguistique de Paris_, e depois na brochura _Noms propres anciens et modernes_ (Paris, 8.^o, 1869), p. 41-59. Um grande numero de fórmas hypocoristicas germanicas acha-se estudada na obra especial de Franz Stark, _Die Kosenamen der Germanen_ (Wien, 1868, 8.^o), em August Fick, _Die Göttinger Familiennamen_ (Programma do _Gymnasium and Realschule erster Ordnung zu Göttingen_. Göttingen, 1875, 4.^o), em Ludwig Steub, _Die Oberdeutschen Familienamen_ (München, 1870, 8.^o peq.) Nos _Studien zur romanischen Wortschöpfung_ von Carolina Michaëlis ha uma collecçăo interessante de fórmas hypocoristicas romanicas (p. 70 ss). Săo essas as obras que temos á măo sobre o assumpto, mas ha outras que d'elle se occupam, como a de August Fick, _Griechische Eigennamen_. Vamos extrahir d'essas obras alguns exemplos que provam a existencia de leis geraes nas formaçőes hypocoristicas. Na Biblia _Aram_ (Gen. 22, 21) e _Ram_ (Job. 32, 2) designam o mesmo personagem; o mesmo se dá com _Jaziel_ (Chr. I, 15, 20) e _Aziel_ (Chr. I, 15, 18). Mowat, que cita esses exemplos, approxima _Lazaro_ (Evangelho de S. Joăo e de S. Lucas) de _Eleazaro_ (Livro dos Machabeos) e adduz o copta _Chael_ (cp. _Caella_ por _Michaela_ no creolo de Santo Antăo), o phenicio _Karthalon_ por _Melkarthalon_, _Stembal_ por _Manastambal_ (segundo Gesenius). No grego o processo da apherese é raro; exemplo: [Greek: Kletos] por [Greek: Anakletos] A apherese com derivaçăo observa-se em: [Greek: Stasoyla] de [Greek: 'Ana-stasie], suf. [Greek: oyla] [Greek: Stathakis] » [Greek: Ey-stathyos], suf. [Greek: ake]. Na mencionada lingua ao contrario o processo da apocope é frequente, sendo as terminaçőes supprimidas substituidas constantemente por a final [Greek: as]; exemplos: [Greek: 'Aleksas] de [Greek: 'Aleksandros] [Greek: 'Artemas] » [Greek: Artemidoros] [Greek: Epafras] » [Greek: Epafrodeitos] [Greek: Zinas] » [Greek: Zinosoros] [Greek: Kleopas] » [Greek: Kleopatros] [Greek: Kleofas] » [Greek: Kleofantos] [Greek: Loykas] » [Greek: Loykanos] [Greek: 'Antipas] de [Greek: Antipatros] [Greek: Minas] » [Greek: Minodoros] [Greek: Nikandas] » [Greek: Nikandridas] [Greek: Olympas] » [Greek: Olympiodoros] [Greek: Olympas] » [Greek: Olympiodoros] {[Greek: Parmenidis] [Greek: Parmenas] » { ou {[Greek: Parmeniskos] [Greek: Silas] » [Greek: Siloyanos]. O inglez, com a sua tendencia para accentuar a syllaba inicial, emprega de preferencia a apocope nas formaçőes hypocoristicas; essa apocope é complicada com outros factos phoneticos, de que mencionaremos alguns. 1. Apocope simples: _Chris_ de _Chrístian_ de _Christiánus_. _Clem_ » _Clemént_ » _Cleméntius_. _Dan_ » _Dániel_ » _Daniél_. _Tom_ » _Thómas_ » _Thomás_ ([Greek: Thômas]). _Greg_ » _Grégory_ » _Gregórius_. 2. Apocope e adjuncçăo de um _s_: a) Sem assimilaçăo de consoantes: _Cutts_ de _Cuth-bert_. _Edes_ » _Ed-ward_. b) Com assimilaçăo de consoantes: _Watts_ de _Walter_, _Gibbs_ de _Gilbert_. Comp. creolo _Motas_ de _Timotheo_. 3. Apocope com mudança de _r_ em _d_: _Dick_ de _Richard_, _Dobbs_ de _Robert_. Comp. creolo _Dique_ de _Henrique_. Nos seguintes nomes germanicos medievaes desappareceu ou a primeira ou a segunda parte: _Faro_ por _Burgundofaro_. _Giso_ » _Wartgis_. _Offa_ » _Ceolwulf_. _Prandus_ » _Rotprandus_. _Uffo_ » _Liudulfus_. _Bruna_ por _Brunihildís_. _Euva_ » _Evarix_. _Hrode_ » _Hruodolf_. _Sunna_ » _Suanilda_. _Tado_ » _Tadelbertus_. A suppressăo de uma parte do nome foi seguida ou acompanhada, como se vę, de outras modificaçőes, comparaveis em parte ás que observámos nas fórmas hypocoristicas do creolo de Cabo Verde. O processo de addiçăo de suffixos diminutivos ás fórmas mutiladas tem grande extensăo nas linguas germanicas. Exemplos: _Godi-ko_ de *_Gode_ por _Gode-fredus_. _Ghise-ke_ » *_Gise_ » _Gise-lbertus_. _Ghere-ke_ » *_Ghere_ » _Gere-hardus_. _Albi-so_ » *_Albe_ » _Albe-ricus_. _Gisle-zo_ » *_Gisel_ » _Gisel-bertus_. _Berti-nus_ » *_Bert_ » _Bert-randus_. _Feli-nus_ » *_Fel_ » _Fel-mirus_. Escolhemos agora alguns exemplos da lista das fórmas hypocoristicas francezas dadas por Mowat: _Bastien_ de _Sebastien_. _Billon_ » _Barbillon_. _Briel_ » _Gabriel_. _Brois_ » _Ambrois_, _Ambroise_. _Colas_ » _Nicolas_. _Cot_ » _Jacot_. _Delle_ » _Adčle_. _Fan_ » _Stephan_. _Fonce_, _Fons_ » _Alphonse_. _Gelle_ » _Angčle_. _Gory_ » _Grégory_. _Hippeau_ » _Philippeau_. _Guste_ de _Auguste_. _Livet_ » _Olivet_. _Mancet_ » _Clémencet_. _Mas_ » _Thomas_. _Maury_ » _Amaury_. _Nardon_ » _Bernardon_. _Pin_ » _Chopin_. _Pold_ » _Léopold_. _Randal_ » _Durandal_. _Sandre_ » _Alexandre_. _Thézard_ » _Balthazar_. _Vestris_ » _Silvestre_. Estes exemplos bastam para mostrar que as fórmas hypocoristicas creolas săo o resultado da acçăo de leis geraes. 2. Creolo de S. Thomé Conhecemos apenas o seguinte specimen que devemos á memoria de um amigo; săo versos de um portuguez que habita a ilha: Să Ma Plantá, Senhora Maria da Apresentaçăo, Să Ma jabo, Senhora Maria diabo, Floli blavo, Flor brava, Bujungá. Bujungá (nome indigena) Neni d'ňlo, Annel d'oiro Cun mimoia C'om argolas (memoria); Sâ za estoia, Isto é historia, Să zetá. Senhora rejeitar, Lenço seda Lenço de seda C'uma saia, C'uma saia Mé lagaia, ? Să zetá Senhora rejeitar. Să Ma Plantá. Senhora Maria da Apresentaçăo. 3. Creolo da Ilha de Sant'Iago (archipelago de Cabo Verde) Ao nosso amigo, o sr. Luciano Cordeiro, secretario da sociedade de geographia, devemos a communicaçăo da seguinte carta, dictada por uma negra de Sant'Iago, que se exprime no creolo d'aquella ilha: _Nho Dótore._ Senhor doutor. _Mi ten sódadi cheu di nho Dótore, a má di nha Dóna L._ Eu tenho saudades muitas do sr. doutor e mais da sr.^a Dona _Mi manda mantenha, cheu, cheu, cheu._ Eu mando recommendaçőes, muitas, muitas, muitas. _Mi a má Seyton nu está desamparados cheios di sódadi_ Eu e mais o Seyton nós estamos desamparados cheios de saudades _di nha Dotore e di nha L...._ do sr. doutor e da sr.^a _Oh! nhor Deus!_ Oh! senhor Deus! _Nha Sinhára manda mantenha cheu tambę A. cu J._ A minha senhora manda recommendaçőes muitas tambem A. e J. _Está magro tóraqui piscóço já sae fora._ Estăo magros até que (até o ponto) pescoço já sae fóra. (Isto é: está demasiadamente magro). _Agora qui já mi sabę cusa qui é falta di nho Dotore. Deos_ Agora que já eu sei cousa que é a falta do sr. doutor. Deus _al judan qui in torna, olhá nho._ ha de permittir-me que eu torne a ver sr. _Mi está na casa di nha Sinhára, mas en stá cu muito_ Eu estou na casa de minha senhora, mas eu estou com muitas, _muito sódadi di nhos tudo dós._ muitas saudades dos srs. ambos dois. _Mi é quel creada di nhós qui tâ chomado Maria._ Eu sou a creada dos srs. que se chama Maria. Este dialecto offerece naturalmente intimas similhanças com o de Santo Antăo, mas revela uma maior approximaçăo ao portuguez puro, que em parte póde ser puramente individual, poisque a negra que dictou a carta tem vivido muito com pessoas instruidas originarias da metropole. O dialecto possue um presente formado com _tá: en tá bá_, eu vou, como em Santo Antăo. A negaçăo é tambem _câ_, năo; _nh'armun_==meu irmăo, como em Santo Antăo; _al_==_hade_, _ajudan_==_ajudar-me_, e outras particularidades coincidem ainda nos dois dialectos, e provavelmente em todos os do archipelago de Cabo Verde. Observam-nos que _nhor_ e _nhara_ por _senhor_, _senhora_ săo mais respeitosos que _nho_ e _nha_ e se empregam dirigindo-se a pessoas de idade. _Nhanha_ é a senhora da casa, măe de familia; _nhanhinha_, menina; _nhonhosinho_, menino. 4. Creolo da Guiné portugueza Tudo quanto podemos apurar sobre o creolo portuguez da Africa (continente e ilhas) se reduz ao que precede e á seguinte noticia. _De la langue, créole de la Guinée portugaise. (Notes sur la Guinée portugaise ou Sénégambie méridionale_, par M. Bertrand-Bocandé). _Bulletin de la Société de Géographie_ de Paris, 3^e série, t. XII. 73-77 (1849 juillet et aoűt): «On conçoit que des hommes acoutumés ŕ se servir pour manifester leur pensée, d'un idiome aussi simple, ne purent facilement élever leur intelligence au génie d'une langue européenne. Quand ils furent en contact avec les Portugais et forcés de s'entendre avec eux, en parlant une męme langue, il a fallu que l'expression variée des idées acquises pendant tant de sičcles de civilisation se dépouillât de sa perfection, pour s'adapter aux idées naissantes et aux formes barbares du langage des nations ŕ demi sauvages. Le mot adopté dut conserver toujours le męme son; et perdre ces désinences variées qui servent ŕ distinguer les nombres, les genres, les pronoms, les temps ou les modes; il fut soumis seulement aux transformations absolument indispensables au discours, pour qu'il ne devînt pas uniquement des sons insignifiants. «Il se fit un retranchement graduel de toutes ces modifications qui servent ŕ exprimer les diverses nuances de la pensée, et quand il ne fut plus possible de rien retrancher pour conserver le discours encore intelligible, l'idiome fut fixée dans sa grammaire particuličre, devenue aussi simple que peuvent le permettre les rčgles de la grammaire générale de toute langue. Il exista alors ce que l'on appelle la langue _créole_ portugaise. «Pour se former, elle a dű d'abord se soumettre ŕ la prononciation habituelle des peuples d'Afrique. Ceux-ci ne peuvent, comme je l'ai déjŕ dit, prononcer les deux sons représentés par _je_ et _che_ qui sont devenus _ie_ et _kie_. «Les noms n'eurent plus de terminaison pour distinguer les _nombres_; on doit désigner la quantité de l'objet, ou dire s'il y en a peu, ou beaucoup. Le _genre_, en parlant des animaux seulement, se fait connaître en ajoutant au nom les mots _homme_ ou _femme_; on dit donc par exemple: un _boeuf homme_, un _boeuf femme_. «Il fallut adopter des pronoms. Il y a des pronoms personnels pour les différentes personnes et le nombre de ces personnes. «Le radical des verbes se termine toujours par une voyelle: on en a retrauché l'_r_; et ce radical peut ętre employé comme substantif, ou comme verbe. «Les pronoms ajoutés au verbe désignent seuls les personnes; il n'y a pas de désinences différentes pour les déterminer. «Quand aux temps _présents_, _passés_ et _futurs_, il fallait nécessairement un moyen de les distinguer. «Le _présent_ se fait connaître de deux maničres, ou bien en ajoutant simplement l'un des pronoms au radical, ou bien, au moyen du verbe _ętre_ suivi du mot _na_, qui signifie _dans_ et au radical: ainsi pour dire _j'écris_, on emploie cette tournure _moi écris_, ou _mois est dans écri_, qui équivaut ŕ _je suis ŕ écrire_; le passé se désigne avec la particule _ia_, (_déjŕ_), mis avant ou aprčs le radical; _ta_, placé devant marque un temps _futur_; _va_, aprčs, forme l'imparfait; enfin _ta_ précédant et _va_ suivant le radical indiquent le mode conditionnel. «J'ai connu au poste français de Séyou un de ces Papels-manjaga que l'on appelle portugais, qui était devenu sergent de poste; il n'avait pu apprendre le français; mais il avait adapté ŕ notre langue le mécanisme de la langue créole portugaise, et se serait parfaitement fait entendre de quelqu'un qui en aurait eu la clef; ses commandants avaient beaucoup de peine ŕ le comprendre. Ainsi il disait _moi faire_ ou _mois est na faire_, pour dire je fais; _moi ia faire_, j'ai fait; _moi faire va_, je faisais; _moi ta faire_, je ferai; _moi ta faire va_, je ferais ou j'aurais fait. «Le créole portugais n'est donc qu'une altération de la langue portugaise; il est composé de beaucoup de mots de cette langue dont quelques-uns sont hors d'usage aujourd'hui, de mots espagnols, et d'autres empruntés aux langues des peuples qui entourent ses différentes factoreries. «Ce créole varie dans chaque lieu: il a des mots, des expressions, une accentuation et męme quelquefois une ordre grammatical plus ou moins différents, suivant la langue qui a dominé pour faire subir ses modifications ŕ la langue portugaise, qui est toujours partout le fondement du créole. «Dans la Guinée il ressemble ŕ celui des îles du cap Vert; mais dans celle-ci on peut dire qu'on remarque autant de dialectes qu'il y a d'îles, et dans celle de San-Thiago seule, les créoles de la Villa da Praya, du centre de l'île et de Terrafal, et de San-Miguel offrent des changements notables: plus on s'approche de la Villa da Praya, plus le créole ressemble au portugais. Dans la Guinée, le créole de Bissao sera męlé davantage d'expressions _papels_, celui de Ziguichor, de _bagnoun_ ou de _floup_, celui de Farim et de Géba de _mandingue_. «Cet idiome se modifie encore suivant les personnes qui le parlent: la position sociale, l'éducation, les habitudes, influent d'une maničre aussi remarquable pour l'expression créole que pour les langues les plus parfaites. Il est facile ŕ la personne la moins exercée en entendant le créole, de deriver le rang ou l'éducation de celui qui le parle. On entendra męme des personnes, quoique sans instruction, s'exprimer dans cet idiome avec une facilité et une grâce que l'on ne pourra s'empęcher d'admirer; ils savent parfaitement en tirer parti, quoiqu'il paraisse si ingrat, pour composer des récits intéressants, et improviser des chansons dans lesquels la vérité des images et les circonlutions suppléent aux expressions qui manquent dans le langage, et dépeignent souvent élégamment les idées qu'ils veut suggérer. «Des personnes instruites qui tiendront une conversation en créole, se garderont difficilement de męler dans leurs discours des expressions, des tournures empruntées ŕ la langue portugaise, et principalement s'ils veulent exprimer quelque idée abstracte qui n'a point de mots en créole. «D'un autre côté, il est presque impossible ŕ un Portugais habitué long temps ŕ ne parler que le créole, de se soustraire ŕ une funeste habitude; des mots, des expressions, des phrases créoles se rencontreront dans sa conversation, dans ces écrits. Et s'il n'est pas soutenu par une connaissance profonde de sa langue, il la confondra bientôt avec le créole qu'il ne pouvait d'abord entendre, il finira męme quelquefois par parler un langage qui ne sera ni portugais, ni créole, car il n'en aura que le mécanisme.» 5. O portuguez no Brazil O Brazil com as suas 873:000 milhas quadradas, povoadas, é verdade por emquanto apenas por uns 10 milhőes de habitantes, offerece um campo vasto á alteraçăo do portuguez, á qual se oppőe porém a extensăo crescente da litteratura, e especialmente do jornalismo. Como o dominio litterario da velha metropole europęa năo cessou com o dominio politico, a linguagem litteraria do grande imperio da America meridional năo se afasta senăo n'algumas peculiaridades de importancia secundaria do portuguez da Europa. A linguagem fallada distingue-se, já na bôca dos mais instruidos, por essa entoaçăo geral, por essa tendencia determinada para tornar abertas todas as vogaes atonas, por esse amor do iotacismo, que nos fazem reconhecer ao fim da primeira phrase pronunciada por um brazileiro ou pessoa que se adaptou á pronuncia brazileira a sua proveniencia. Na linguagem popular, especialmente das provincias, na linguagem dos _matutos_, notam-se modificaçőes phoneticas mais consideraveis, a mais geral das quaes é a suppressăo do _r_ final, que permitte rimas como a que nos apresenta a seguinte quadra popular: Mariquinhas morreu hoje, Hoje mesmo s'éntirou: Sobre a sua sipultura Nasceu um pé de firô (flor). O vocabulario brazileiro apresenta naturalmente muitos termos compostos ou derivados de termos portuguezes, mas desconhecidos na nossa lingua da Europa, e um numero assás consideravel de termos provenientes dos dialectos indigenas, o _tupi_ e o _guarani_, e ainda de outras linguas americanas; as linguas africanas ministram tambem alguns termos. Uma parte das palavras peculiares do portuguez do Brazil foram já reunidas em um _Vocabulario brazileiro_, por Braz da Costa Rubim (Rio de Janeiro, 1853. 8.^o). Damos em seguida uma serie de versos populares do Brazil. As cantigas n.^{os} 1 e 4 a 12 foram-nos communicadas por um amigo; 2 e 3 acham-se na _Noticia da provincia de Mattogrosso_, por Joaquim Moutinho, p. 19; n.^{os} 13 a 20 acham-se na comedia _O matuto na côrte_ por Antonio Augusto de Araujo Correăo. Rio de Janeiro, 1863. 1. Cantiga de pretos Qui é queli santo Qui! vai no andô? É San Binidito É nosso sinhô. Chi, cha. 2. Cantiga dos cururueiros de Matto-grosso Em cima d'aquelle morro Siá dona Tem um pé de jatobá. Năo ha nada mais pió Ai, siá dona, Do que um home se casá. 3. Desafio dos cururueiros HOMEM. Eu passei o Parnahyba, MULHER. Dizem que a muyé é farça Navegando numa barça, Tăo farça como papé, Os peccados vem da saia, Mas quem vendeu Jesus Christo. Mas năo pode vir da carça. Foi home, năo foi muyé. 4. 7. Quando mozo vai ni rua, Zi eu vi, [~u]a baráta Camiza cheia di renda. No capóte di vóvó, Quitanda sei a qui reva: Quando eu fui prá pegálla Por fóça que acha venda. Báteu ázas e vóó. 5. 8. Zi criorinha dim Ba'ía. Minha Avó quando é di noite Za năo come bacai'ao; Custumava-se a banhá, Come só óvátáfá Quando entra na gaméra Cucu, farinha di páo. Começa rogo a chorá...! 6. 9. Zi criorinha dim Ba'ía Zi um gustinho lhe quero dá Quando vai lává ó má, Dá minha bunda quábráda Deixáram as água turva, Québra a bunda, mexe bunda Sendo ellas um cristá. Québra a bunda de Sinhá. Québra a bunda, mexe bunda Québra a bunda di iá-iá. 10. O negra trás café, chá e păo torrado, Para dar ó sôr pintor: vae pintar o meu sobrado. De verde amarello e incarnado; Onde eu faço o meu gingado. 11. 15. Minha mulatinha, Sô Mané diz que năo qué Meu muracujá Que o rato caia no mé, A maré é boa, As alegria dos Cabanos Vamous embarcá É matá os pápa mé. Á beira do rio, Olé! Olé! Á borda do má: Eu sou artilheiro Que sei atirá. 16. Peixinho do rio, Camarăo do má: Minha mulatinha Esta vai por despedida Diz-me o teu nome. Por dentro d'esta liminha. --Eu mi chamo botăo Ora viva Sinhá Dona Do calçăo do home. Sinhá Insolencia Zephina. Marca o passo, moça, barabos! 12. Patury năo se come sem limăo, As mulata me chamăo cidadăo. --Chiáu, ó rapariga! --Que pede, ó sinhó! 17. --Chiáu quer vir cumigo? --Sen surda, sinhó, --Chiaú, eu do dinheiro, Minha caboca bónita --Percebo, sinhó. Sapateia no tijolo, --Entăo, ven ja cumigo. Que a barra do teu vestido --Já, já, vou, sinhó. É prata e parece ouro. 13. 18. --Minha gente năo inore Ai a viola está com fóme Este meu cantar baixăo! E a prima está c'uma dô, Estou com o peito cerrado. Minha gente venhăo vę D'um marvado catarrăo. Que bahiano gemedô. --Senhô mestre cantadô, Ai que me mandou cantá, 19. Quero que me dę por conta Ai os peixe que tem no má. Diga lá, Senhó Doutô, Ai os peixe que tem no má Que aprendeu a lussophia, Carrego no meu chapéo, Qual é a ave que avôa Ai quero que me dę por conta. E que dá leite quando cria? Ai as estrellas que tem no céo. --Vocę me mandou cantá 20. Ai pensando que eu năo sabia, Eu năo sou cumo a cigarra Que no cantá leva o dia. Por favô, Senhô doutô, Me adecifre esta conta Vinte e cinco guardanapos 14. Com dois gintem em cada ponta? Sim senhô, eu advinho Ai! sô mestre cardereiro Sem fartá nem um dé réis, Metta a măo na męladura, Doze pátacas e meia Que a canna do Lavradô Vem a ser quatro mim réis. Só que dá é rapadura. Diversas particularidades caracteristicas dos dialectos creolos repetem-se no Brazil; tal é a tendencia para a suppressăo das fórmas do plural, manifestada aqui em que, quando se seguem artigo e substantivo, adjectivo e substantivo, etc., que deviam concordar, só um toma o signal do plural. Assim na cantiga n.^o 20: _dois gintem_==dois vintens. Ouve-se com frequencia _os homen_ por _os homens_; _as muyé_ por _as mulheres_; _duas boa pessoa_ por _duas boas pessoas_; _casas grande_ por _casas grandes_, etc. Mencionaremos ainda o habito de dar fórmas diminutivas aos pronomes: _ellasinha_==ella (referindo-se a uma menina); _umasinha_==uma (referindo-se a uma creança, a um animal, a uma cousa pequena). _Tens um căo? Tenho umzinho_ (isto é um căo pequeno). 6. Dialecto portuguez de Ceylăo ou indo-portuguez A primeira noticia que tivemos d'este dialecto achámol-a na obra de A. A. Teixeira de Vasconcellos, _Les contemporains portugais, espagnols et brésiliens_, t. I. _Le Portugal et la Maison de Bragance._ Paris, 1859, 8.^o, pag. 115-116, em que se acha um curtissimo extracto da parabola do semeador em indo-portuguez. A obra de lord Stanley _The three voyages of Vasco da Gama_ ministrava-nos depois um excerpto mais extenso (Genesis, cap. III). Depois, como já dissemos, reunimos assás abundantes materiaes para o estudo do dialecto. Hoje limitâmo-nos á parte historica e bibliographica, e no nosso ultimo capitulo indicaremos os principaes pontos de contacto entre o indo-portuguez e os dialectos similhantes. Em 1503 Lourenço d'Almeida submetteu um dos reis mais poderosos da ilha de Ceylăo, Boenago Pandar. Por esse tempo foi fundada a fortaleza de Colombo e deu-se o commando da ilha a um capităo portuguez[3]. O terceiro viso-rei da India Lopo Soares fundou ali um estabelecimento commercial em 1517, que porém decaíu. Só pela morte de D. Joăo Dharmapala, que legou os seus dominios ao rei de Portugal, entăo Filippe I (1581), é que os portuguezes adquiriram titulo á soberania da ilha, com excepçăo de Jaffna, de que reconheciam ainda o rei nominal, e de Kandy, em cujo throno elles queriam assentar a rainha Catharina. Apesar dos portuguezes desejarem impor suas leis e costumes, ficaram de pé as antigas leis e privilegios da ilha. N'esse periodo e no seguinte as guarniçőes dos fortes portuguezes regulavam por 20:000 homens, dos quaes apenas menos de 1:000 eram europeus. Colombo desenvolveu-se entăo muito: edificaram-se conventos, igrejas, hospitaes, e quando caíu em 1656 nas măos dos hollandezes residiam lá mais de 900 familias nobres, alem de 1:500 familias de empregados da justiça, commerciantes e negociantes. Em 1617 os portuguezes assenhorearam-se á măo armada de Jaffna. A alliança dos hollandezes com o rei de Kandy foi o ponto de partida para o seu dominio na ilha. Em 1658 tornaram-se senhores de todo o littoral e terras baixas e expelliram os portuguezes, tratando de destruir todos os vestigios da nossa influencia. As igrejas catholicas foram substituidas por igrejas protestantes; a lingua portugueza, que durante o nosso tăo curto dominio se implantára na ilha sob uma fórma dialectal, ao lado das linguas indigenas, o singalez e o tamul, foi perseguida. Rapava-se a cabeça de todos os escravos que fallavam portuguez; multavam-se por negligencia os seus senhores: os hollandezes esperavam assim, como diziam n'uma proclamaçăo «destruir a lingua dos portuguezes para que o nome dos nossos inimigos pereça e o nosso proprio floreça em seu logar». (Emerson II, 70.) «O dominio da Hollanda em Ceylăo foi quasi igual em duraçăo ao de Portugal, cerca de um seculo e quarenta annos, mas a politica dos dois paizes deixou uma muito differente impressăo do caracter e instituiçőes do povo em cujo seio elles viveram.» (Emerson II, pag. 70.) Ha uma palavra portugueza que os hollandezes năo perseguiram, antes aproveitaram como fonte de receita. O titulo de _dom_ era muito estimado pelos indigenas de Ceylăo: os portuguezes permittiam o seu uso pela quantia de alguns centos de dollars. Escrevia-se o nome do comprador n'uma placa de prata com o desejado _dom_ á frente; o comprador ajoelhava ante o governador ou pessoa por elle regularmente auctorisada; collocava-lhe a placa na cabeça e a auctoridade dizia: Levanta-te, dom Fulano. Os hollandezes continuaram a vender o _dom_ rendoso, reduzindo o preço, que chegou por fim a dez dollars, tornando-se assim accessivel ás bolsas modestas. Hoje ainda a ilha está cheia de dons. O hollandez foi esquecido totalmente, até pelos descendentes dos que o fallavam; a repressăo odienta năo poude ao contrario destruir o portuguez. Senhora da ilha desde 1796, a Inglaterra adoptou uma politica diversa da dos seus predecessores: os inglezes estudaram o indo-portuguez, como elles chamam ao dialecto portuguez de Ceylăo; deram-lhe uma pequena litteratura, de que damos mais abaixo noticia, e serviram-se d'elle como meio de propaganda politica e religiosa. Muito mais facil de estudar que as linguas indigenas, o tamul que, é fallado na costa norte, e o singalez, fallado ao centro e na costa sul, comprehendido por muitas familias principaes das cidades, que ainda se ensoberbecem com o seu _dom_, os seus nomes portuguezes, precedendo os appellidos indigenas, o indo-portuguez era um instrumento precioso que os inglezes com o seu genio administrativo năo podiam deixar de aproveitar. As informaçőes que reunimos sobre a extensăo e importancia actual do indo-portuguez năo săo sufficientes para formar sobre este assumpto um juizo inteiramente seguro. Um missionario que esteve na ilha escrevia, em data de 13 de novembro de 1875, que o indo-portuguez é quasi exclusivamente a lingua dos descendentes dos portuguezes e hollandezes que se estabeleceram na ilha; que a lingua năo é considerada pelos missionarios como importante meio de instrucçăo, tanto quanto os que a usam fallam outra lingua; que os missionarios Wesleyanos tęem um serviço publico em portuguez em Colombo e em duas ou tres cidades; que o dialecto está em extrema decadencia, e que com o curso de outra geraçăo se extinguirá totalmente. O missionario que deu estas noticias năo estava, porém, bem informado, porque diz que o indo-portuguez năo tem grammatica nem diccionario, o que nós sabemos năo ser exacto. Um outro missionario, que residiu tambem em Ceylăo, descreve com data de 20 de março de 1877, que durante o exercicio das suas funcçőes de missionario em Ceylăo năo encontrou uma só pessoa com quem o portuguez podesse ser empregado como meio de conversaçăo; que nos districtos do norte e do oriente da ilha o portuguez está quasi inteiramente extincto; que a missăo tinha deixado de o empregar para o serviço publico havia alguns annos, ao norte da ilha; que ao sul estava em rapida decadencia. Alguns testemunhos, em verdade anteriores aos d'esses missionarios, cujas informaçőes devemos ao nosso bom amigo rev. R. H. Moreton, attribuem ao dialecto maior importancia e extensăo; a bibliographia que damos mais abaixo depőe tambem n'este sentido. Na _Cruz de Christo_ lę-se: «O auctor te da sua guardismento per o publico, per o modo ne qual sua _Versos sagrada_ tinha recebido; dos cento e cincoenta livrinhos de aquel tinha impressado e vendido per o povo quem te sabe portuguez; esti lingoa mais que assi corrupto, tem papiado extensivomente nesti Ilha, e tem ainde doci, mellifluozo, como seu parente Frances e Italiano». «O indo-portuguez é mais ou menos entendido por todas as classes na ilha de Ceylăo e por toda a costa da India; a sua extrema simplicidade de construcçăo e facilidade de acquisiçăo tendo-o posto extensamente em uso como um meio de trafico. Mas o povo de que é vernaculo e que, em Ceylăo só, sobe a mais de 50:000 individuos, é constituido por descendentes dos hollandezes e portuguezes, os primeiros dominadores (europeus) da India.» _The Bible of Every Land_, pag. 275-276. Damos em seguimento a nota bibliographica das publicaçőes em dialecto portuguez de Ceylăo ou relativas a elle, de que até hoje tivemos conhecimento; as que năo possuimos e nem sequer vimos văo indicadas com o signal [++]. _Bautismo: sua subjectos e modo de sua administraçăo. Parte premeiro: Tocando o bautismo de nocentes._ Colombo: impressado ne officia de Missăo Wesleyano. 1869, 44 pp, in-12. _Bom novas._ N.^o 15. March. 1869. p. 57-60. Colombo: printed at the Wesleyan Mission Press. É um numero de um pequeno periodico religioso. _Cantigas por adoraçăo publico em lingoa portugueza de Ceylon._ De Robert Newstead, missionario wesleyano. Terceiro vez impressado. Colombo impressado ne officina Wesleyana. 1823. 8.^o 22-4 pp. (de index). [++] _Compendium (A) of the Ceylon-portuguese language_ by W. B. Fox. Colombo. 1859. _Cruz (A) de Christo._ Colombo: Impressado ne officio de A. H. Peterson. 1859. 23 pp. A _Intrudiçăo_ acha-se subscripta por J. A. C. No nosso exemplar acha-se o nome manuscripto por inteiro: John Arnold Cristophelaz. [++] _Dictionary (A) in the Singhalese, Portuguese and English languages._ Second edition, enlarged. By W. B. Fox, Wesleyan Missionary. (Publicado em 1820). _Fórma (A) da oraçăo publico e administraçăo dos Sacramentos, conforme ao uso da Igreja Inglaterra. Traduzido, por o missăo, em lingua portuguez de Ceylon._ Pelo Robert Newstead, missionario Wesleyano. Em Colombo: Impressado na officina Wesleyano. 1820. 44 pp. [++] _Grammatical (A) Arrangement on the method of learning the corrupted portuguese as spoken in India_, by Berrenger. Sec. edit. Colombo, 1811. Indicaçăo do sig. Teza no artigo alludido infra. _Horte de paraiso. Em o nome de o Jesus crucificado._ (XIV oraçőes.) Impressado ne Officio de Baptiste Missionarios, Kandy. 32 pp. _Hum caminho per inferno._ Folha avulsa, 1 p. _Hum catecismo per o ensino de criances ne o principiô de relize, e hum curto catecismo de o nomis ne o escritura._ Colombo: impressado ne officio de Wesleyanos. 1837. 12 pp. _Indoportoghese._ E. Teza. 8.^o 10 pp. Estratto dal Periodico:--Studi Filologici, Storici e Bibliografici Il Propugnatore. Vol. V. É o primeiro estudo scientifico sobre este dialecto. [++] _Instructions for children._ By the late Rev. John Wesley, A. M. of the University of Oxford. In portuguese and english. (Publicado antes de 1820.) _Meditacăos e oracăos_ (sic) _sober differenti subjectos e por differenti casiăos._ J. Campbell, Printer, Hulfsdorp Press. 50 pp. 4.^o peq. _Novo (O) Testamento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Christo, traduzido ne indo-portugueza._ Colombo, officina de Missăo Wesleyano, 1852. 8.^o _Oraçăos, Dez Mandamentos, O sermăo riba do montanha._ 16 pp. _Psalterio (O), ou Psalmos de David, como apontado a ler nas igrejas. Traduzido em lingoa portugueza de Ceylon, e publicado por a Sociedade Biblia de Colombo._ A Colombo: Impressado na officina Wesleyano. 1821. 8.^o 102 pp. _The singhalese Tract Society_, n.^o 6, 1856. _O Serpente de Cobre._ 8 pp. No fim acha-se a indicaçăo: Preço hum challi de-cobri, huma ou senao oito fanam hum cento. _Voz de verdade._ (Pequeno periodico religioso mensal; temos alguns numeros desde 1 de outubro de 1870, em que começou a publicar-se, até janeiro de 1873. Sem logar de impressăo.) 4 pp. cada numero. _Vocabulary (A) in the Ceylon Portuguese, and English Languages, with a series of Familiar Phrases._ By John Callaway, Wesleyan Missionary. Colombo: Printed at the Wesleyan Mission Press. 1820. Price six fanams. 44 pp. in 12.^o A maior parte das publicaçőes mencionadas que possuimos devemol-as á dedicaçăo do nosso bom amigo o rev. R. H. Moreton, que se empenhou para com a missăo Wesleyana e missionarios seus amigos para nol-as obter. Na obra: _The Bible of Every Land, a history of the Sacred Scriptures in every language and dialect into which translations have been made_, etc. London, Samuel Bagster and Sons. 4.^o, p. 275-276, achâmos as seguintes noticias com relaçăo ás traducçőes do Antigo e Novo Testamento em indo-portuguez. «Com o declinar dos governos portuguez e hollandez na India, os membros d'estas naçőes foram deixados sem meios de instrucçăo religiosa excepto os que offereciam os missionarios catholicos romanos; e em consequencia, o catholicismo romano tornou-se a fórma prevalecente da sua religiăo. Em 1817, Mr. Newstead, missionario wesleyano, que residia em Negombo, em Ceylăo, começou uma traducçăo do Novo Testamento para beneficio espiritual d'este povo. Partes d'esta traducçăo foram lidas por Mr. Newstead do pulpito, e foram tambem emprestadas livremente a pessoas doentes, uma das quaes, diz-se, morreu com o evangelho de S. Joăo debaixo do travesseiro. O povo mostrou tanto interesse pela obra, que uma ediçăo impressa foi em breve resolvida, e, em 1819, a versăo do evangelho de S. Matheus foi publicada em Ceylăo, á custa da Sociedade biblica auxiliar de Colombo; e os psalmos seguiram-se, em 1821, á custa da mesma sociedade. «Pouco depois Mr. Newstead completou a sua traducçăo do Novo Testamento, e a obra foi submettida a uma miuda revisăo por uma commissăo nomeada para esse fim, consistindo de tres missionarios e de seis dos mais intelligentes indo-portuguezes. A revisăo foi terminada em 1824; e Mr. Newstead emprehendeu uma viagem a Inglaterra para sollicitar o auxilio da Sociedade biblica ingleza e estrangeira para a publicaçăo da obra. A traducçăo foi recommendada com instancia á adopçăo da commissăo pelo rev. T. J. Twisleton, archidiacono de Ceylăo; e, como o seu valor foi attestado por outros juizes competentes, duas ediçőes foram impressas em Londres, a expensas da sociedade, em 1826, sob a superintendencia pessoal de Mr. Newstead. A segunda ediçăo do Novo Testamento, consistindo de 5:000 exemplares, appareceu em Colombo em 1831; e, no anno seguinte, uma versăo dos livros do Genesis, Exodo, e parte do Levitico foi publicada no mesmo logar, a expensas da mesma sociedade. O Pentateucho e o Psalterio foram impressos em Colombo, em 1833, n'uma ediçăo de 5:000 exemplares; annuncia-se como estando em progresso a traducçăo de todo o Antigo Testamento. «Uma outra ediçăo do Novo Testamento indo-portuguez foi mais recentemente emprehendida, e projectou-se no começo imprimil-a em Londres, sob a inspecçăo de Mr. Newstead, o traductor, e á custa da Sociedade biblica ingleza e estrangeira. Mas Mr. Newstead, depois de muitos annos de ausencia de Ceylăo, năo sentiu sufficiente confiança no seu conhecimento da lingua para fazer imprimir o Novo Testamento; e em consequencia d'isso resolveu-se imprimir só o evangelho de S. Matheus em Londres, para fim provisorio, emquanto a impressăo da obra inteira seria confiada a missionarios residentes em Ceylăo, com a vista de a imprimir na imprensa da missăo n'aquella ilha. O evangelho de S. Matheus foi acabado em 1852, sob a superintendencia de Mr. Newtead. Deram-se ao mesmo tempo instrucçőes para a impressăo em Colombo de 2:000 exemplares do Testamento inteiro, á custa da Sociedade biblica ingleza e estrangeira. Esta ediçăo foi completada em 1853, sob o cuidado de uma commissăo de revisăo escolhida para esse fim.» Eis um specimen do dialecto: O sermăo riba do Montanha Ne Evangelho de Săo Matheus Capitulo V[4] E Jesus olhando o multidăos (de gentes) ja foi riba de hum montanha, e elle quando ja santa sua disçipulos ja chegar perto per elle. 2 E Jesus ja abri sua boca, e ja ensina per elotros fallando. 3 Bendito _tem_ os pobres ne espirito, porque per elotros tem o reyno de ceo. 4 Bendito _tem_ elotros quem tem tristes, porque elotros lo ser consolados. 5 Bendito _tem_ elotros quem tem paçiente ne coraçaő (humildes), porque elotros lo herida o terra. 6 Bendito _tem_ elotros quem te senti fome e securo por justiça, porque elotros lo ser enchido, (per elotros lo tem baste). 7 Bendito _tem_ o gentes misericordioso, porque elotros lo acha (reçebe) misericordia. 8 Bendito _tem_ os limpos ne coraçaő, porque elotros lo olha per Deus. 9 Bendito _tem_ o gentes quem te faze paz, porque elotros lo ser chomado filhos filhas de Deos. 10 Bendito _tem_ elotros quem te suffri (padeçe) per o causo de justiça: porque per elotros tem o reyno de ceo. 11 Bendito tem vosoutros quando _gentes_ te engeita per vosoutros, e perseguir _per vosoutros_, e te falla toquando de vosoutros, tudos sortes de mal, falsamente, sem rezaő por o causo de mi. 12 Allegré com muito grande allegria, porque vossas paga ne ceo _tem_ grande, porque assi (mesmo modo) elotros ja perseguir per os prophetas, quem tinhe antes (mais diante) vosoutros. 13 ¶ Vosoutros tem o sal de terra, mas si o sal ja perdi aquel so sabor, acquel com que lo ser salgado? aquel despois nunca valé nada, senaő per fica pinchado fora, e per fica massado baixo de pes de gente 14 Vosoutros tem o lume de o mundo, hum cidade que tem riba de um montanho non pode ser escundido. 15 Nem gentes nunca sandé hum candecera e (despois) aquel bota baixo de hum medida, mas riba hum candeler, e aquel te da lumi per tudos (pessaős) quem tem ne caza. 16 Vossas lumi desse luzi diante de gentes, que vossas bom fazeres elotros pode olha, e glarifica per vossas Pai quem tem ne ceo. 17 ¶ Naő lembra que eu ja vi per destrui o lei ou o prophetas, eu nunca vi per destrui, mas per guarda (per faze) aquel lei. 18 Em verdade eu te falla per vosoutros, (que) ate que ceo e terra lo ser passado, nehum palavra, nehum lettra de o lei nada ser passado, ate que tudo lo ser cabado. 19 Videaquel, quem seja lo quebra uma de istes mais piquinino manedmentos e assi lo ensina por gentes, (per faze) el lo ser chomado o mais piquinino ne o reyno de ceo; mas, quem seja lo faze e lo ensina istes mandamentos, aquel mesmo pessaő lo ser chomado grande ne o reyno de ceo. 20 Porque eu te falla por vosoutros, doque _o justiça_ de os escribos e (de os) phariseos, si vossa justiça non ten mais grande, vosoutro si nem hum modo nada entra ne o reyno de ceo. 21 ¶ Vosoutros ja ovi que tinhe fallado de elotros de tempo antigo, (velho tempo) vos nada mata, e quem seja te mata, lo ser ne perigo de o juizo. 22 Mas Eu te falla per vosoutros, que quem seja com sua irmaő tem raibe sem rezăo, lo ser ne perigo de o juizo, e quem seja per sua irmaő lo falla, Raca, (vil pessaő,) lo ser ne perigo de o supremo counselho, e quem seja que lo falla vos dodo, lo ser ne perigo de o fogo de inferno. 23 Videaquel, si vos te trize vossa sagoate per o altar, e ali te cahi ne sentido que vossa irmaő tem alun cousa contra vos. 24 Ali guarda vossa sagoate diante o altar, e anda vos, primeiro com vossa irmaő fica bom amizade, e depois de aquel, vi, e offerçe (da) vossa sagoate. 25 Accorda com vossa enimigo prestamente que hora vos tem ne o caminho com elle, ou senaő ne alum tempo, o enimigo pode entrega per vos per julgador, e o julgador te entrega per vos per sapier, e vos te fica lançado ne prisăo. 26 Em verdade Eu te falla per vos, que vos nem hum modo nada vi fora (de aquel lugar) ate que vos ja paga o trazeiro padas de dinheiro. 27 Vosoutros ja ovi que tinhe fallado, de elotros de tempo antigo vos nada faze adulterio. 28 Mas, per vosoutros Eu te falla Que quem seja com impuro deseijo te olha sobre hum mulher, ja faze adulterio com ella ne sua coraçăo. 29 E si vossa olha dreito te offende par vos (tem um cassiăo per vos per offende) ranca aquel, e pincha fora de vos, porque tem mais bom per vos que uma de vossas olhos te fica destruido, e năo que vossa enteiro corpo lo ser lançado ne inferno. 30 E si vossa maő dreito (mesmo modo) te offende per vos, corta aquel, e lança fora de vos, porque doque vossa inteiro corpo per fica lançado ne inferno, tem mais bom que uma de vossa măos te fica destruido. 31 Tinhe fallado que quemseja lo reda (bote fora) sua mulher, elle miste da per ella hum carta de seperaçaő. 32 Mas eu te falla per vosoutros que quem seja lo reda sua mulher senaő (forde) per rezaő de fornicaçaő, ella te causo per faze adultero, e quem seja lo caza com aquel mulher, (tambem) te faze adulterio. 33. Torna, vosoutros ja ovi que tinhe fallado de elotros de tempo antigo, vos ne mista da falsa juramento, mas miste paga per o Senhor vossa permita: 34 Mas Eu te falla per vosoutros, que enteiromente ne miste jura nem pelo ceo porque aquel tem o throno de Deus. 35 Nem pelo o terra porque aquel tem o estrado de sua pes: nem pelo Jerusalem porque aquel tem o cidade de o grande Rey. 36 Nem pelo vossa cabeça porque vos nonpode faze branco ou preto hum cabello. 37 Mas vossas cőmmunicaçaő desse fica sem, sem naő, naő, porque doque iste que seja tem mais, te vi de mal. 38 ¶ Vosoutros ja ovi que tinhe fallado, hum olho por hum olho, e hum dente por hum dente. 39 Mas Eu te falla per vosoutros que vosoutros ne miste dessa mal: mas quem seja quando buftea per vos ne façe dreito; vira per elle o outra tambem. 40 E si alum homi lo çita per vos ne hum corte de justiça, e tira vossa cabai, elle desse toma vossa mantle tambem. 41 E quem seja lo força par vos per anda hum leagou, anda com elle dous leagous. 42 Da per elle quem te pedie com vos, e ne miste vira de elle quem lo toma per deuda de vos. 43 Vosoutros ja ovi que tinhe fallado, vos miste ama per vossa vizinho, e abhoreçe per vossa enimigo. 44 Mas Eu te falla per vosoutros. Ama por vossas enimigos, benze per elotros quem te maldiçoa per vosoutros, faze bom per elotros quem te abhoreçe por vosoutros, e roga (com Deos) por elotros, quem te faze mal, e te perseguir per vosoutros. 45 Que vosoutros pode fica o filhos filhas de vossas Pai quem tem ne ceo, porque elle te faze o Sol por luze sobre o maldito gentes, e sobre o bom gentes, e te manda chuve sobre os justos, e (tambem) os injustos. 46 Porque si vosoutros te ama per elotros, quem per vosoutros te ama, vossas meriçementos que tem? O maldito gentes o mesmo te faze. 47 E si vosoutros per vossas irmaős namais te mostra bondade, vosoutros que te faze mais doque outros? O maldito gentes o mesmo te faze. 48 Videaquel, seja vosoutros perfeito, ate assi como vossas Pai quem tem ne ceo, tem perfeito. Capitulo VI Toma cuidade que vosoutros nunca faze caridade, (da ismolas,) diante de gentes per fica olhado de elotros; ou senaő vosoutros nunca recebe nem um paga de vossas Pai quem tem ne ceo. 2 Videaquel, vos quando te da ismolas, ne miste son hum trombetta diante de vos, (per da sabe vos que te faze) assi como os hypocritas te faze, ne os synagogas, e ne os ruas que elotros pode acha honra de gentes; Em verdade, eu te falla per vosoutros, (Que) elotros te acha elotros su paga. 3 Mas vos quando te da ismolas, vossa maő escarde naő desse sabe, vossa maő dreito que te faze. 4 Que vossas ismolas pode ser ne segrade, e vossa Pai, quem ne segrade te olha, sua mesmo ne publico lo paga per vos. 5 ¶ (E tambem) vos quando te ora (te roga com Deus) ne miste fica mesmo per os hypocritas porque elotros te dizer per ora ne os synagogas, e cantos de ruas, que elotros pode ser olhado de gente. Em verdade eu te falla per vosoutros que elotros te reçebe elotros su paga. 6 Mas vos, quando vos te ora, entra ne vossa cambre, e quando vos ja ficha porta, ora com vossa Pai quem tem ne segrade e elle quem te olha ne segrade ne publico lo paga par vos. 7 Mas vos outros quando te ora, naő usa vaő palavras, assi como os gentios te faze, porque elotros te lembra que elotros lo tem ovido per rezaő de elotros su muito palavras. 8 Videaquel vosoutros ne miste fica mesmo per elotros, porque vossas Pai (celestial) enteiromente te sabe vosoutros que cousas te mista ansque vosoutros te pedie de elle. 9 Videaquel, ne iste modo vosoutros miste roga. Pai nossa quem tem ne ceo, sentificado seja tua nome. 10 Venho o tua reyno, seja feito a tua vontade asis ne terra como ne ceo. 11 O paő nossa de cada dia nos da hoje, 12 E perdoa nos nossas dividas, assi como nos te perdoa per nossos dividores. 13 E nos naő desse cahi ne tentaçaő, mas livra nos de mal, porque teu tem o reyno e o poder, e o gloria, pera tudo sempre, Amen. 14 Porque, si vosoutros te perdoa per gente elotros su offenças, vossas Pai celestial tambem lo perdoa per vosoutros. 15 Mas si vosoutros per gente nunca perdoa elotros su offenças, vossas Pai celestial tambem nada perdoa (per vosoutros) vossas offenças. 16 ¶ Torna, vosoutros quando te jingua, noő fica mesmo per o hypocritas, com hum rosto de tristeza, porque elotros te faze feu elotros su rostas, que pode parçe per gente que elotros te jingua. Em verdade eu te falla per vosoutros (que) elotros te reçebe elotros su paga. 17 Mas vos, quando vos te jingua, onta (com azete) vossa cabeça e lava vossa rosta. 18 Que per gente naő pode parçe que vos te jingua, mas per vossas Pai, quem ne segrade te olha, e vossas Pai quem ne segrade te olha, ne publico lo paga par vos. 19 ¶ Vosoutros nemiste junta thesouros (riquezas) ne o terra, onde pouches e forea te dana, e onde ladraős te entra e te furta. 20 Mas junta per vossa mesmos, thesouros ne ceo, onde nem pouche nem forea nunca dana, e onde ladraős nunca entra e furta. 21 Porque vossas thęsouro onde tem, ne aquel lugar tambem vossas coraçaős lo fica. 23 O lumi de o corpo tem o olho, videaquel si vossa olho tem puro (sinçero,) vossa inteiro corpo lo tem enchido de lumi. 23 Mas si vossa olho tem mal, vossa inteiro corpo lo tem enchido de escuridade, videaquel si o lumi que tem dentro de vos tem escuridade que grande tem aquel escuridade! 24 ¶ Nem hum homi nonpode servi per dous Senhors, porque elle lo abhoreçe per huma, e por outra hum lo ama, ou senaő, elle lo tem firme per huma, e por outra hum lo disimporta, vosoutros nonpode servi per Deos, e tambem per Mammon (ou requezas). 25 Videaquel Eu te falla por vosoutros naő toma nem hum cuidade toquando de vossas vida, vosoutros que lo comer, ou vosoutros que lo bebe, nem toquando de vossas corpo, vosoutros com que lo tem vestido, doque comer, nontem o vida de valia mais grande, e (tambem,) o corpo do que vestidos? 26 Olha os pastros de ar! porque aquelles nunca bruffa, nem nunca faze novidade, nem nunca junta ne celleiros, ainda, vossas Pai celestial te sustenta per aquelles, (e) doque aquelles nontem vosoutros muito mais bom? 27 Com muito lembranças quem de vosoutros pode faze sua mesmo hum covido mais alto? 28 E porque vosoutros te cuida toquando vestidos? considera os fules de o campo, (varze,) aquelles ne que modo te cresçenta, aquelles nunca servi, nem nunca travai. 29 E ainda, Eu te falla per vosoutros, que ate Salomăo ne tudo sua gloria (grandeza) non tinhe vestido assi (bunito) como huma de istes (fules). 30 Videaquel si Deos assi te vesti os fules de o campo, que hoje te fica, e amiam tem lançado ne forno (ou fogo,) Nontem sua vontade muito mais pera vesti per vosoutros? O vosoutros de bem pouco fe! 31 Videaquel, non toma cuidade fallando, nos que lo comer, ou nos que lo bebe? ou nos com que lo tem vestido? 32 (Porque tudo de istes cousas os Gentios te busca,) porque vossas Pai celestial (bemfeito) te sabe que vosoutros tem necessidade de istes cousas. 33 Mas, primeiro vosoutros miste busca o reyno de Deos, e sua justiça e (aquelhora) tudo de istes cousas per vosoutras lo ser dado. 34 Videaquel naő toma nem hum cuidade toquando de amiam, porque o amiam lo toma cuidade toquando os cousas que per aquel te compete. Per cada hum dia o mal tem baste, que te compete per aquel dia. Capitulo VII Nao julga, que vosoutros nunca ser julgado. 2 Porque com que julgaçaő vosoutros te julga (per gente) vosoutros (tambem,) lo ser julgado (de Deos,) e com que medida vosoutros te medi, aquel mesmo per vosoutros lo ser medido torna. 3 E porque vos te olha o mote (piquinino erro) que tem ne olho de vossa irmăo, e nunca considera a grande faltançe que tem ne vossa mesmo olho? 4 Ou quely vos lo falla per vossa irmaő, Eu desse tira o mote fora de vossa olho; e Olha! hum grande faltançe tem ne vossa mesmo olho? 5 Vos hypocrita! primeiro, fora de vossa mesmo olho, pincha aquel grande faltançe e aquelhora, mais claromente vos lo olha per tira o mote fora de vossa irmăo su olho: 6 ¶ Aquel que tem santo, naő da per os cachors nem pincha vossas aljoffries diante os porcas, ou senăo (istes bom cousas) aquelles (porcas e cachors) lo massa baixo de pe; e torna lo vira, e lo rompa per vosoutros. 7 Pedie (com Deos) e aquel lo ser dado per vosoutros, busca, e vosoutros lo asserta, bate, (per o porta de misericordia,) e per vosoutros aquel lo ser aberto. 8 Porque cada hum pessaő quem te pedie (ne dreito modo,) te recebe, e elle quem te busca, te asserta, e per elle quem te bate o porta lo ser aberto. 9 Ou, entre de vosoutros, qui homi tem, quem per sua filho lo da hum pedra, elle quando te pedie păo? 10 Ou, si elle te pedie hum peixe, elle lo da hum serpente. 11 Antos, si vosoutros, tendo mal, te sabe perda per vossas filhos bom cousas, que tanto mais vossas Pai quem tem ne ceo lo da bom cousas per elotros quem te pedie de elle. 12 Videaquel tudos cousas que seja que vosoutros te querre que gente per vosoutros miste faze, o mesmo (cousas,) vosoutros miste faze per elotros, porque iste tem (o mandemento,) de o lei, e de o prophetas. 13 ¶ Entra vosoutros ne o porta estreito, porque largo tem o porta, e largo tem o caminho que te leva per destruiçăo, e bastantos tem quem ne aquel te alcança. 14 Videque estreito tem o porta, e estreito o caminho que te leva per vida, e poucos namais, aquel te asserta. 15 Toma cuidade de falso prophetas, quem per vosoutros te vi, ne vestidos de ovelhas (de enganho,) mas dentro, elotrem tem bem maldito. 16 Vosoutros lo conheçe per elotros, de elotros su frute, gente te panha ouves de espinhos? ou bom fruite de mal albris? 17 Ate assi, cada hum bom albri te produçe bom fruite, mas hum mal albri mal fruite nenhum mal albri nonpode produçe fruite bom. 18 Hum bom albri non pode produçe mal fruite, nem, hum albri corrupto non pode produçe bom fruite. 19 Cada hum albri, que nunca produçe bom fruite tem cortado e pinchado ne o fogo. 20 Videaquel de elotros su fruite, vosoutros lo conhece per elotros. 21 Naő cada um pessaő quem par me te falla Senhor! Senhor! nada entra ne o reyno de ceo, mas elle (namais,) quem te faze o vontade de meu Pai quem tem ne ceo. 22 Bastanto (pessaős) lo falla par mi, ne aquel dia (de julgaçaő,) Senhor, Senhor, nos nunca prophecia ne tua nome? e ne tua nome ja lança fora diabos? e ne tua nome ja faze bastantos obras espantoso? 23 E aquelhora, per elotros Eu lo declara, Eu nem hum tempo nunca conheçe, per vosoutros, sahi de mi, vosoutros quem te faze iniquidade! 24 ¶ Videaquel, quem seja te ovi istes meu ensinos, e aquelles te faze, Eu lo papia de elle assi como de hum homi sizo, quem je concerta sua caza riba de hum rocha (muito grande e força pedra). 25 E o chuve ja cahi, e os aguas, ja vi e os ventos ja abala, e ja bate sobre aquel caza, e aquel nunca cahi, per o causo que aquel tinhe fundado riba de um rocha. 26 E cada hum pessaő quem te ovi istes meu ensinos e aquelles nunca faze, toquanto de elle eu lo papia assi como hum homi dodiçe, quem sua caza ja concerta riba do area. 27 E o chuve ja cahi, e os aguas ja vi, e os ventos ja abala, e ja bate sobre aquel caza, e aquel ja cahi e grande tinhe o ruido de aquel. 28 E aquel ja vi per suste, Jesus quando ja caba istes ensinos, que os gentes tinhe espantado com sua doutrino. 29 Porque Jesus ja ensina per elotros assi como huma quem tinhe com authoridade (poder) e năo assi como os escribos. 7. O dialecto portuguez de Malaca John Cameron, que viajou na India ha vinte e tantos annos, descrevendo na sua obra _Our tropical possessions in Malayan India_ (London, 1865, pag. 374[5]) os descendentes dos portuguezes estabelecidos em Malaca, os quaes săo uma raça mixta de portuguezes e indigenas, nota que durante um periodo de cerca de dois seculos elles tęem conservado a sua lingua original e continuam a fallar uma especie de portuguez corrupto (_broken portuguese_); que elles săo grandes musicos, que săo muito prolificos, e que ao caír da tarde os homens casados se assentam nas varandas de suas casas dando para a rua, tocando geralmente no violino alguma melancholica melodia para divertimento de suas mulheres e familias que estăo reunidas em roda d'elles. 8. Dialecto macaista D'este só conhecemos o que nos ministram as duas cartas que reproduzimos; a primeira foi publicada em 1865 no _Ta-Ssi-Yang-Kuo_, jornal de Macau, e reproduzida na _Gazeta de Portugal_; a segunda te-mol-a n'uma folha avulsa, tiragem á parte de um jornal provavelmente o mesmo _Ta-Ssi-Yang-Kuo_. As cartas foram forjadas por quem conhecia a lingua litteraria; um documento verdadeiramente popular falta-nos infelizmente. Năo ha n'esse dialecto distincçăo de generos; o _P. S._ da primeira carta indica que a influencia do jornalismo ía introduzindo as fórmas, da lingua măe. O plural é expresso pela repetiçăo da palavra: _china china_, os chinas; _criança criança_, crianças; _sium sium_, senhores; _amigo amigo_, amigos. As fórmas verbaes estăo reduzidas a uma, que é o infinito geralmente, ou uma fórma do presente, a qual póde ser empregada como infinito; assim _calote de vae pescar_, tolice de ir pescar; _hora de vem_, hora de vir; _pôde tem_, póde ter. A mesma fórma serve para todas as pessoas. O _r_ do infinito foi apocopado excepto no verbo _ser_: _tirá_, tirar; _mandá_, mandar; _fazę_, fazer; _coré_, correr; _subí_, subir. O presente é expresso: 1) pelo infinito: _vosso tio gostá_, vosso tio gosta; 2) por uma fórma do presente: _china sam tolo_, o china é tolo; 3) por _tá_ (está) com o infinito: _tá fazę_, faço, fazes, faz, etc., _tá andá_, ando etc., _tá fallá_, fallo, etc.; 4) por _tá_ (está) com a fórma do presente que toma o logar do infinito: _tá vai_, vou vae, etc. O futuro é expresso por _logo_ com o infinito: _logo ficá_, ficará; mas n'alguns casos esse processo serve para exprimir o presente. O passado é expresso: 1) pela formula fundamental: _augmentá_, augmentou; 2) por _já_ com a fórma fundamental: _já principiá_, principiou; mas este processo parece tambem exprimir o presente. Conservam-se os participios passivos: _impurado_, _costumado_, etc. Notem-se, entre outras, as seguintes fórmas: _mestę_, ser preciso, de ver; _promódi_, por amor de, porque; _pastro_, passaro; _assilai_, tal. *Carta de Siára Pancha a Nhim Miquela* Macáo _3 de janero de 1865_. «Minha querida Miquéla. Tanto tempo eu já querę respondę vosso carta, mas sempre sentî doente, porisso tanto tardá este resposta. Vôs minha Miquéla nadi ficá reva cô eu; vôs sabe qui eu mutu querę pra vôs, e se nunca escrevę mas ásinha san prómódi já tá múto véla. Otro dia acun-ha mofina di ama abri janella, eu irguí cedo, sai fóra, apanhă vento, ficá constipada. Priméro toma sincap, misinha de vento, raspá mordicim, mas nunca pôde ficá bom, cada dia sintí corpo más fraco, perna azedo. Dôtôr falá sam doença d'idade, mas eu nunca sintí assim, chomá męstre Ahoi, qui tudu gente falá sam capaz, elle já curá. Agora sentí um poco forte, mas męstre nômquęro que eu fazę mutu força, e mandá tomá ninho di pastro. Nosso Macáo, minha Miquéla tem grande novidade. Governo nôvo sam capaz e já virá tudo. Mas um pôco tempo tudo lôgo ficá virado. Rua agora já nomtęm pedra pedra, sam otro lai môdo, fazę duro cô téra. Fazę gosto olá di bonito. Pra vanda de mar, na praia grandi, já botá qui tanto arvi; tudo gente cioso e intrimittido falá numpresta, qui sabe qui foi, mas eu nunca sintí assim. Campo de Sam Francisco já fichá, fazę jardim, escada grande já nomtęm, fazę ali muro; ali riba, aquelle calvario tamęm tá vai iá pra fazę quartel di soldado, qui já principiá, logo ficá grandi. Porta di Campo e di Santo Antone já nomtęm tamęm, agora sam rua largu, tudo aquelle arvi fronte di Gularte sua casa já cortá, china china falá corę sangui, mas eu sentí china sam tôlo. Aquelle porcaria di fonti perto di cano real tamęm já tapá, abri poço alá vanda. Tudu poço agora tem sua cobertor bem fęto, e bomba di novo invençám. Si minha Miquéla agora pôde ólá tudo aquelle lugar, certo nadi crę qui sam Macáo. Santo Antone qui bem fęto! Aquelle bariga di adro já vai dentro, ficá bonito, e rua mas um pôco grandi. Padri nunca contente, mas qui cuza logo fazę! A nôte já nômtem aquelle escuridám costumado, hoze candía tem tres bico, e china china si querę furtá azčte vai cartá mati. Genti di Senado sempre durmido, nomtęm aquelle genio di Governo, que tem ôlo vivo, e nadi iscapá nada. Cędo, cędo, já tem na rua, tirá telhęro di botica, rancá pagôde di porta di china china, cortá rua fazę dręto, qui fazę gosto ólá. Otro dia Voluntario inglez d'Hongkong já vem Macáo! Qui lai di bonito! eu já vai ólá tamęm. Macáo paręce França, tudo gente fallá. Tem tifin, rivista di tropa, salva di vinte un-ha tiro, balsa á note qui bonito, gastá cô tudo aquelle flamancia tres mil fóra pataca. Algum gente qui nunca gostá assilai cuza, já vai ólá cova de Sam Francisco Xavier eu tamęm muto quere pra santo, mas nunca vai. Agora tá gavartá Sam Paulo; achá un-ha buracu na Monte, ôtro na frontipicio di igreja e gente antigo fallá sam caminho di basso di téra qui vai di igreja pra fortaleza na tempo de paulista, porisso agora gavartá tudo aquelle mato, pra descobri caminho. Tudu gente fallá ali tem tanto pataca qui jisuita interá, eu achá graça: pôde crę? Padri padri qui cusa pôde tem? coitado! Eu sintí sam historia. Mesmo caminho, qui sabe? Elôtro qui cuza fazę cô caminho basso di téra? Elôtro nunca sam heregi como pedręro livre, qui cusa fazę di lugar pra escondę? Minha Miquéla nomęstę esquecę di mandá nova di tudu qui ólá ali; si marido tem vagar mandá tamęm escrevę. Gente tá fallá qui moda di balám já cavá pra nhonhonha, eu sintí qui si sam assim sam fortuna. Eu tamęm nompôde gostá di assilai cusa; quando vento grandi sam mutu pirigoso, e quando incustá na janéla, ou ficá capido, impurado pra traz, frôvę sangui ólá. Dá bença pra criança criança e nomęstę esquecę de tudu aquelle receta qui eu já mandá quando apanhá saván. Nomęstę lembrá sam brinco, eu fallá cô experiencia: tudu gente ri, qui foi eu pilá costa a note intęro, mas eu inda tá vivo, elôtro tudu qui fazę cusa de moda tá morę mas ásinha. Eu já mandá dos amchôm di achar di gamęn, un-ha balsa di sucri pedra, dos jara di jagra para vós e criança criança, mas nunca achá resposta, porisso eu ficá cô pençám. Já intrá anno novo; mutu bom anno, filicidade, vida, saude para vôs, vosso marido e tudo criança criança. Nosso senhôr deçá criá. Eu tá muto lembrá pra vós, querę mandá um pôco de alúa mas nômpôde, paciencia. Masqui nompôde acetá bom vontade d'este vella chacha qui mutu querę pra vôs. Dá lembrança pra Pepe, falá cô elle múto contente eu já ficá, ouvi falá, elle já ficá bom de espinhéla. Vosso tio padri tamęm mandá lembrança, elle coitado nunca sam nada já. Nhum Quimquim já vai viazi, imbarcá de piloto na navio que levá chuchai, ganhá tanto pataca. Vosso chacha _Pancha._ P. S.--Vós lôgo sintí grandi differença na minha modo di escrevę. Eu já aperfeçoá bastante neste um pôco tempo. Tudu este escóla novo de machu e femia, e aquelle gazetta _Ta-ssi-yang-kuo_ já fazę indretá bastante nosso lingu. *Carta de tia Paschoela á sua sobrinha Florencia* Macáo, 5 de otubro de 1869. Minha Querida Chencha. Como vôs lôgo querę sabe tudo novidade de Macáo, porisso que eu já pedi com tudo sium sium, parecero de jogo, pra trazę tudo novidade de fóra pra eu pôde escrevę pra vôs. Macáo agora já tá muto mudado; já nontęm inveja de Éropa. Pra tudo rua săo careta, săo cavalo; de tanto que já tem, que já nontęm lugar pra guardá; maior parte ficá pinchado na meu de rua de S. Lorenço. Agora tá fazč ung-a casa qui lai de grande na horta de governador, tamem pra guardá careta e cavalo. Olá um pôco, minha Chencha, fazę palacio na cidade pra cavalo, tudo pobre pobre vae pará pra casinha de campo! Agora tá com força de prepará pra recebe principe de Inglaterra. Já pedi com sium Carlito pra dá moda pra fazę ung-a cadera pra cartá principe. Querę cadera que tem quatro pinga pra oito cule; mas como vosso tio gostá muto de figurá, já lembrá de pedí pra convidá oito comendador pra cartá aquelle bemaventurado principe, pra vosso tio tamem pôde entrá na meu. Nosso governador lôgo vae ficá na casa vasio de sium Lorenço pra dá palacio pra principe. Nosso juiz tá perto vae já pra Goa. Coitado de vęlo, já soffrę ung-a molestia bem de grande que escapá morę. Agora tá andá côtę; assim mesmo este um pôco de farizęo nunca perdoá de desesperá aquelle pobre vęlo, que se nunca săo cuidado de Padre Maximo, com sua misinha cazera, já vae já pra otro mundo! Já cavá lua de batę páu, mas lua de batę costa de china china inda nompôde cavá, porisso que este um pôco desabrogunhado rabo de porco cada vez tá mas atrevido. Otro dia eu já assistí festa de Senhora Rozario. Sentí na greza ung-a chęro bem desagradavel. Vem casa a note, tá contá com tio Joăo, elle entăo que dá conta, que já levantá um pôco alto parte trazero de capela-môr; já fazę ali ung-a lugar pra botá imundicia. Quando vem chua, tudo agu de aquelle porcaria porcaria, contaminá pra pę de parede, vem pra dentro de capela-môr. Vôs inda lôgo ovi, minha Chencha, que algum dia inda lôgo mudá tudo cavalo de policia pra dentro de greza, pra tem mas cham pra fazę palacio grande grande pra official. Agora já nunca contentá cada ung-a com dos cela. Cada official querę sete cela, qui lai môdo pôde chegá? Padre Rondina já livrá de ung-a desgraça qui lai de grande! Que sabe qualo mapeçoso aquelle que já vae tirá de sua lugar ung-a botle de enxarope, bota ung-a botle de verniz. Coitado de padre, sem sabe de nada, virá muto socegado na sua botle pra copo de agu; quando bebę primero pucado, entăo que sentí que săo verniz! Nunçám obra de maliçombrado! querę vernizá tripa de gente como vernizá cadera, canapé?! Vosso tio tá muto triste. Este anno já perdę quanto mil pataca com laia laia de condenaçăo de historia. Se o menos pôde tem agora grande negocio de cule, tamem săo bom; pôde chubi um pochinho de aqui, um pochinho de ali, discontá o que já perdę. Jogo este anno já nompôde tirá muto. Dispeza cada vez mas grande. Familia augmentá. Divida nompôde cobrá; maior parte săo gente grande grande que tá devę. Assim mesmo, minha Querida Chencha, inda nompôde quexá de falta que comę; perna de presunto que china china mandá de presente, armado de ung-a ponta pra otro ponta de cusinha; mas vosso tio nompôde comę ôtro cusa mas que pece fino, chilimeçô de casa algum vez lamci di Cantăo. N'otro tempo pescaria săo na agu salgado; agora săo na agu doce. Que sabe qualo bragero aquelle que já inventá que na Praia Grande tem pescaria de pece pedra, aquelle rapaz de botica de Neves já cae na calote de vae pescá anote fronte de sua botica. Pinchá linha cae na sęco; em quanto tá safá linha, senti comedura; quando puça, apanhá ung-a casta de susto qui laia de grande! era que săo ung-a cuzaçuso de rato, como ung-a letăo, ganchado na anzol. Aquelle tentaçăo de animal principiá côrę pra tudo Praia Grande com linha na boca, e pobre de rapaz a côrę traz de tal rato pra salvá sua linha; de sorte que já fazę ri tudo aquelle gente na Praia Grande com tal pescaria de pece pedra, que ramatá, largá sarangong. Manjor Julio já tem quanto mez já de morto. Aquelle tolo de Boletim parte que dá peza sua viuva, vae dá pra tudo sua amigo amigo. Que sabe se na Éropa săo costumado assim? Tudo vez que eu sae na janella intopá com ung-a official de vapor que casta de-chistoso, mas historero, sevandizio que más nompôde ser. Tem ung-a nome que laia de galante; eu já nompôde lembra se săo Homecaco o Monocaco, mas săo ung-a cusa assim de caco. Máu genio, lingustero, intremetido, até querę intremetę com emprego de sium Miguel Simőes, e tá fazę conta já de intrá naquelle lugar. Pra tudo gente săo meçá chavoqueada, tirá dente, tira lingu; mas medrozo como cachoro china. Como já săo hora de vem tudo parecero de jogo, eu já nompôde escrevę mas novidade. Amestę olá fazę chá, tirá sucre, mandá fazę torada, comprá manteguilha na botica de barbero. Adeus, Minha Querida Chencha, Deus conservá saude pra vos e pro vosso Abelardo, Eu, vosso tio, tia tia, tio Joăo, tudo mandá muto lembrança. Vai ung-a botle de achar laia laia e ung-a flandi de bolo batę-pau torado. Vosso tia e amiga _Pascoela._ 9. Appendix: O portuguez alterado como o fallam os negros e os estrangeiros que possuem mal a lingua tem sido muitas vezes imitado, principalmente no theatro e na litteratura de cordel. Apesar do interesse secundario d'essas imitaçőes damos, alguns specimens. (_Indo Gonçalo seu caminho, apartando-se do Clerigo, topa hum Negro grande ladrăo, e entra cantando buscando hum mulato: e diz Gonçalo, depois de cantar o Negro:_) GONÇ. Dize, negro, es da côrte? NEG. Qu'esso? GONÇ. S'es da côrte? NEG. Ja a mi forro, nam sa cativo. Boso conhece Maracote? Corregidor Tibăo he, Elle comprai mi primeiro; Quando já paga a rinheiro, Daita a mi fero na pé. He masa tredora aquelle, Aramá que te ero Maracote. GONÇ. Mais tredor era o rascote Que m'a mim furtou a lebre. NEG. Qu'he quesso que te furtai? GONÇ. H[~u]a lebre de meu pae, De meu cunhado huns capőes, E marmelos e limőes; Abonda tudo lá vai. NEG. Jesu, Jesu, Deoso consabrado! Aramá tanta ladrăo! Jesu! Jesu! hum caralasăo: Furunando sá sapantado. Jesu! cralasam. Pato nosso santo paceto ranho tu e figo valente tu e cinco sego, salva tera păo nosso quanto dăo dá noves caro he debrite noses ja libro nosso gallo. Amen Jeju, Jeju, Jeju. Sa pantaro Furunando. Dize, rogo-te, fallai: Conhece tu que furtai? Porque tu nam bruguntando? GONÇ. Perguntarei por meu pae. NEG. Cal-te: Deoso cima sai, Que furtai ere oiai. Deoso nunca vai dormi, Sempre abre oio assi, Tamanha tu sapantai. Guarda mar esso mal, E senhora Prito santo. Nunca rirá homem branco Furunando furta real. Năo sabe mi essa careira: Para que? para comę? Muto comę muto bebę Turo turo sa canseira. Vira mundo turo canseira: Senhor grande, canseira; Home prove, canseira; Muiere fermoso, canseira; Muiere feio, canseira; Negro cativo, canseira; Senhoro de negro, canseira; Vai missa, canseira; Prégaçăo longo, canseira; Crerigo nam tem muiere, canseira; Crerigo tem muiere, canseira; Grande canseira: Firalgo sôlto, canseira; Chovere muto, canseira; Năo póde chovere, canseira: Muito filho, canseira; Nunca pariro canseira; Papa na Roma canseira; Essa ratinho, canseira; Năo vamo paraiso, grande canseira; Vira reza mundo turo turo he Canseira. Mi nam falla zombaria. Pos para que furtai? Que riabo sempreza! Abre oio turo ria. Mi busca mulato bai. Ficar abora, ratinho. GONÇ. Eu aguardo meu padrinho, Que va comigo a meu pae. Eu vou ao rio perem, Porque hei sęde e beberei, E sicais que nadarei Emquanto o clerigo vem. Leixarei o chapeirăo Mettido nesta mouteira, E o cinto e esmoleira, Porque lá logo o verăo, Năo me aqueça outra tal feira. (_Espreita o negro como Gonçalo esconde o chapeirăo e o al, e tanto que se vai entra dizendo:_) NEG. A mi abre oio e ve Ratinho tira besiro: Ere dexa aqui condiro: Năo sei onde elle mettę. Senhora Santo Francico, Santa Antonia, San Furunando! Pois mi ha d'andar buscando, E levare elle na bico O servo Santa Maria. Sabe a regina Matho misercoroda nutra d'hum cego savel até que vamos. A oxulo filho d'egoa alto soso peamos ja mentes ja frentes vinagre qu'elle quebrárăo em balde ja ergo a quante nossa ha ilhos tue busca cordas oculos nosso convento e geju com muito fruta ventre tu ja tremes ja pias. Seuro santa Maria dinhero me lá darăo he ve esa carta da me mucho que furte cantara Furunando. (_Acabada assim esta_ salve regina, _acha o Negro o que Gonçalo leixou escondido, e diz:_) Ei-lo aqui sa! Deoso graça. Graça Deoso esse he capote; Nunca dexa aqui palote: Ratinho, quem te forcasse! Aramá que te ero villăo! Que palote saba sam, Barete também bo era. Mi cansai e á deradera A mior fica sua măo. Vejamos bolsa que tem: Hum pente para que bo? Tres ceitil sa qui so: Ratinho nunca bitem. O riabo ladarăo! Corpo re reos consabrado! Essa villăo murgurado Sa masa prove que căo. Quando bolsa mi achase Fernăo d'Alvaro, esse si; Nunca pente sa alli. Ah reos! quem te furtasse Bolsa, Nuna Ribeiro! Home bai busca rinheiro: A toro ere rise: Ja rinheiro feito he. Aramá que tu ero gaiteiro! Fernăo d'Alvaro m'acontenta; Elle nunca risse nam. Logo chama ca crivam, --Crivaninhae esormenta; Toma rinheiro, vas embora. Boso, home de bem, que buscae? --Mi da cureiro agarba sae. --Boso que buscai corte agora? --Buscae a Rei jam Joăo, Paga minha casaramento. --Dá ca, moso, trae esormento; Crivaninhae boso, crivăo: Home, tomae hum dos quatro sete: Vas embora turo turo. Sua rinheiro sa segura, Mioro que elle promete. Marco Estevez moladeiro. Elle rise: Santa Maria! Rinheiro boso queria? Bai bai dormir paieiro.-- Boso que pedir, muieiro? --Tanta filho mi tem qui... --Quem manda boso pari, Boso grande parideiro? --Boso seria muito bô: Vaca ne Francico paia; Tenha seis filho e mi so Nam temo comere ni migaia. Elle rise: Que culpo tem a Rei jam Joăo Boso parir como porco, Bai buscai sua pae torto, Que dai a sua fio păo. Velha, que boso querę? --Molla, que a mi pobre sai. Elle rise: Porque boso nan guardai Rinheiro que boso bebę?-- Jesu! Jesu! moladeiro Sa riabo aquella home: Quando a mi more da fome Nunca buscai sua rinheiro, Porém graça a Reos, a mi Nunca minga que furtá; Pouco ca, pouco relá, Pouco requi, pouco reli, Grăo e grăo gallo fartá, Quem furta, home sesuro: E louvar a Reos com turo E senhoro Prito Santo. A mi bai furta emtanto Camisa que sá na muro. Gil Vicente, O Clerigo da Beira. _O preto, e o bugio ambos no mato discorrendo sobre a arte de ter dinheiro sem ir ao Brazil._ Lisboa. Na officina patriarchal de Francisco Luiz Ameno 1789. 4.^o 21 pp.--Excerpto: «Já non pore deixá de incricá os cabeça, e confessá, que vozo doutrina sá huns doutrina tăo craro, e verdadeiro, que pla mim sá huns admiraçom non sé platicada per toro o mundo. O trabaio a que vozo obliga os pleto, e os blanco; sá huns trabaio a que ninguem se pore negá sem melecé huns cóssa bom; porque os genia, e os incrinaçom do natureza a toro gente move pala ere, e fóla de trabaio ninguem pore vivé em satisfaçom. Mim agola sem trabaiá nom pore conté, ainda que mim ter abominaçon a captiveiro cruere de blanco, de que sá forro; com turo non aglada a mim estar aqui sem nada fazé: evita vozo tanta plegiça, os excessa de plodigo, e dos varento, que nozo poderemo toro assi havé os oira, e triunfá dos indigencia; e de turo quanto pore infelicitá. Se aqui apalecera agola uns blanco, que pole escrevé os mavioso doutrina, que vozo platicá, e toro o gente ouvire cos oreia aberto, faria ere ao familia toro do mundo hum favoro, que meoro non pore imaginá.» p. 21. II. DIALECTOS HESPANHOES 1. Creolo de Curaçáo Esta ilha, cujo nome é lembrado por um licor bem conhecido, que d'ella tomou o seu, é uma das tres ilhas denominadas de «sotavento»; está situada em frente da costa de Venezuela entre a lat. 12° 3' e 12° 24' e long. 68° 47' e 69° 16' Gr. Com as outras ilhas do grupo pertenceu á Hespanha depois de seu desenvolvimento até 1648 em que a Hollanda ficou de posse d'ella, e conservando-a até hoje, apenas com uma interrupçăo produzida pelo dominio de Inglaterra de 1807 até 1815. A primitiva colonisaçăo hespanhola foi muito limitada. Hoje a populaçăo da ilha sobe a mais de 15:000 habitantes, de que apenas cęrca de um quinto săo brancos. A populaçăo negra parece ter passado para lá em grande parte das colonias hespanholas; o dialecto creolo que ella falla tem por base o hespanhol e contém alguns elementos lexiologicos ministrados pelo hollandez. O sign. E. Teza consagrou a esse dialecto um artigo no _Politecnico_, vol. XXI, p. 342-352, tendo por base de investigaçăo o livro: _Catecismo pa uso di catolicanan di Curaçao. Cathecismus ten gebruike der katholyken van Curaçao door Martinus Joannes Niewindt, bissehop van Cytrum, karmerheer van Z. H. en apostolisch vicarius van Curaçao. Gedrukt te Curaçao ter drukkery van zyne doorluchtige hoogwardigheid_. Segundo o illustre professor italiano esse catechismo năo foi impresso muito antes de 1845. _The Bible of Every Land_, p. 270, dá-nos a seguinte noticia: «Uma traducçăo de parte do Novo Testamento n'esta lingua foi feita pelo rev. Mr. Conradi; e uma pequena ediçăo do evangelho de S. Matheus foi impressa em 1846, a expensas da Sociedade biblica neerlandeza». O sign. Teza năo soube da existencia d'essa traducçăo, de que a obra ingleza citada nos dá um specimen em orthographia hollandeza, que vamos reproduzir enterlinhando-o com as palavras hespanholas correspondentes, tanto quanto conseguimos determinal-as. *S. Matheus, cap. V v. t. 12* 1. _Anto ora koe Hezoes a mira toer e heende nan eel a soebi_ Entonces hora que Jeus ha mirar todo el hombre--el a subir _o en seroe; deespues eel a sienta i soe desipel nan a bini_ a un sierra; despues el a sentado y su discipulo--ha venido _seka dje._ cerca del. 2. _I eel a koemisa di papia i di sienja nan di ees manera._ Y el ha comenzar de papiar y de enseńar -- de esta manera. 3. _Bieenabeentoera ta e pober nan na spiritoe, pasoba reina_ Bienaventurado está el pobre -- spíritu, por-este-obra reino _di Dioos ta di nan._ de Dios está de-- 4. _Bieenabeentoera ta ees nan, koe ta jora pasoba lo_ Bienaventurado está este --, que está llorar, por-este-obra-- _nan bira konsolaa._ -- consolado. 5. _Bieenabeentoera pasifiko nan, pasoba lo nan erf tera._ Bienaventurado pacifico --, por-este-obra -- -- tierra. 6. _Bieenabeentoera ees nan, koe tien hamber i sedoe di hoestisij,_ Bienaventurado este --, que tiene hambre y sed de justicia, _passoba lo nan no tiene hamber i sedoe mas._ por-este-obra -- -- no tiene hambre y sed mas. 7. _Bieenabeentoera ees nan, koe tien mizerikoordia, pasoba_ Bienaventurado este --, que tiene misericordia, por-este-obra _lo heende tien mizerikoordia koe nan,_ -- hombre tiene misericordia con -- 8. _Bieenabeentoera ees nan, koe ta liempi di koerasoon, pasoba_ Bienaventurado este -- que está limpio di coraçon, por-este-obra _lo nan mira Dios._ -- -- mira Dios, 9. _Bieenabeentoera ees nan, koe ta perkoera paas, pasoba_ Bienaventurado este --, que está procurar paz, por-este-obra _lo nan ta jama joe di Dioos._ -- -- está llamado hijo de Dios. 10. _Bieenabeentoera ees nan, koe ta persigido pa motiboe di_ Bienaventurado este --, que está persiguido por motivo de _hoestisji, pasoba reina di Dioos ta di nan._ justicia, por-este-obra reino de Dios está de --. 11. _Bosonam lo ta bieenabeentoerado koe ta koos nan zoendra_ Vosotro-_nan_ -- está bienaventurado que está -- -- -- _i persigi bosonan, i koe ta koos pa mi kausa nan ganja_ y persiguido vosotro-_nan_, y que está -- por mi causa -- gańar _toer soorto di maloe ariba bosonan._ todo suerte de malo arriba vosotro-_nan_. 12. _Legra bosonan i salta di legria, pasoba bosonan_ Alegrar vosotro-_nan_ y saltar de alegria por-este-obra vosotro-_nan_ _rekompeensa ta grandi deen di Ciëloe; pasoba nan a persigi_ recompensa está grande dentro de Cielo; por-este-obra -- ha perseguido _di ees manera e profeet nan, koe tabata promee koe bosonan._ de este manera el profeta --, que estaba primero que vosotro-_nan_. Para auxiliar a comprehensăo d'esse excerpto damos a versăo hespanhola dos doze versiculos de S. Matheus. 1. Mas viendo Jesus este gentío, se subio á un monte, donde habiéndose sentado, se le acercaron sus discípulos; 2. Y abriendo su boca, los adoctrinaba diciendo: 3. Bienaventurados los pobres de espíritu, porque de ellos es el reino de los cielos. 4. Bienaventurados los que lloran, porque ellos serán consolados. 5. Bienaventurados los mansos, porque elles poseerán la tierra. 6. Bienaventurados los que tienen hambre y sed de justicia, porque ellos serán saciados. 7. Bienaventurados los misericordiosos, porque ellos alcanzarán misericordia. 8. Bienaventurados los limpios de corazon, porque ellos verán á Dios. 9. Bienaventurados los pacificadores, porque ellos serán llamados hijos de Dios. 10. Bienaventurados los que padecen persecucion por la justicia, porque de ellos es el reino de los cielos. 11. Bienaventurados sereis cuando los hombres per mi causa os maldijeren, y os persiguieren; y dijeren con mentira toda suerte de mal contra vosotros. 12. Alegráos y regocijáos, porque es muy grande vuestra recompensa en los cielos: del mismo modo persiguieron á los profetas que ha habido antes de vosotros. Como se vę, n'este dialecto năo ha nenhuma distincçăo formal de genero nem de numero: a pluralidade exprime-se pela adjuncçăo de _nan_, que é o pronome da terceira pessoa plural: _ees nan_, estes ou aquelles; _pober_, pobre; _pober nan_, pobres. Quando um substantivo é precedido de adjectivos só se segue o signal do plural depois do substantivo: _toer el heende nan_, todos os (aquelles) homens. O presente é geralmente expresso pela fórma _ta_ (==está) e o infinito, tendo todos os infinitos perdido o _r_ final. O futuro é expresso por _lo_ (==luego?). 2. Hespanhol fallado nos campos de Buenos-Ayres e Montevideu M. Maspero publicou em _Mémoires de la Société de Linguistigue de Paris_, t. II, p. 51-65 (Paris, 1875), um artigo sobre as alteraçőes experimentadas pelo hespanhol no Rio da Prata. Essas alteraçőes săo sufficientes para lhe dar uma feiçăo dialectal assás bem caracterisada; mas săo muito differentes das que determinam os dialectos creolos, como o de Curaçáo, etc.; săo principalmente lexiologicas e phoneticas. A vida nova dos europeus n'essas regiőes deu principalmente logar á creaçăo de palavras novas do velho fundo do idioma nacional e á introducçăo de termos das linguas indigenas, por exemplo, de _pié_ fez-se _pialar_, pear um cavallo, de _manco mancarron_, um cavallo máo, que năo serve para nada. Alguns dos termos das linguas indigenas adoptados encontram-se tambem no portuguez do Brazil e parte vieram até ás linguas europęas, como _jacaré_, _yacaré_ (termo guarani). As alteraçőes phoneticas encontram-se sobretudo na linguagem do camponio oriental ou _Porteńo_. III. DIALECTOS FRANCESES 1. Creolo da ilha Mauricio A este dialecto pertencem algumas poesias da collecçăo intitulada: _Les essais d'un bobre africain_, seconde édition, augmentée de prčs du double, et dédiée ŕ madame Borel jeune, par F. Chrestien. Ile Maurice, G. Deroullede et C^{ie}, 1831, pet. in-4. Achámos a indicaçăo d'esta obra no catalogo da bibliotheca de Burgaud des Marets e n'um artigo de M. P. Meyer: _Revue critique_, 1872, artigo 50. A ilha Mauricio, depois do dominio do portuguez e hollandez (1598-1715) esteve em poder dos francezes de 1715 a 1810, em que se tornou possessăo ingleza. O dr. A. Bos publicou na _Romania_ muito recentemente (vol. IX, p. 571-578) uma nota sobre o dialecto creolo d'essa ilha, a qual pudémos ler ainda á ultima hora. Resumimos o seu conteúdo. «Esse creolo, diz o auctor, formado para o uso commum, laço de communicaçăo entre as differentes raças que habitam a ilha, é muito desprezado; năo se escreve e năo é empregado pelos brancos senăo para se fazerem comprehender dos seus creados de côr. O plantador de Mauricio năo falla creolo senăo a seus servos ou trabalhadores, negros ou indios, e ainda a seus căes de caça, repellindo para longe de si a idéa que esse _patois_ informe possa jamais converter-se n'uma lingua. E, todavia, o creolo de Mauricio, como diremos mais abaixo, cresce e prospera de dia em dia; encaminha-se para a fortuna de uma lingua.» Com relaçăo á phonetica notaremos o seguinte: 1. O accento tonico năo se desloca. 2. Ha alongamento frequente de _a_: _[-a]-ccent_, _p[-a]-rent_. Esse alongamento é de lei quando ha quéda de consoante: _p[-a]-ti==partir_ (alongamento por compensaçăo). 3. _E_ medial atono muda-se em _i_: _vini_ (venir) ou cae; _e_ final atono cae sempre. 4. _Ui_ muda-se em _i_; _oi_ ás vezes em _o_. 5. _Ch_, _g_ (e, i), _j_ mudam-se respectivamente em _ç_, _z_. 6. _R_ final cae sempre, até nas ligaçőes como _tre_, _bre_; p. ex. _cambe==chambre_. _R_ medial entre vogal e consoante cae igualmente: _Zoze==Georges_. 7. _X_ é pronunciado como _s_ (ç): _éçélan==excellent_. Com relaçăo ás fórmas eis o mais interessante: 1. Năo ha distincçăo de generos: permanecendo a fórma masculina para o masculino e feminino, _mon fame_, _ton lakaze_, ma femme, ta maison. 2. A distincçăo do numero tende igualmente a desapparecer. Os pronomes pessoaes que săo palavras differentes para o singular e plural conservam-se: _moa_, eu; _nou_, nós; _toa_, tu; _vou_, vós. 3. A suppressăo do artigo é quasi completa. Como no dialecto da Trinidad o artigo e ainda a preposiçăo partitiva coalescem com varias palavras: _lacaze_, casa (maison); _dilo_, _dipin_, _divin_ (_de l'eau_, _du pain_, _du vin_). Como no dialecto da Trinidad se diz _zoreis_==oreilles (o _s_ é o resto do artigo _les_), assim n'este temos, p. ex,: _zozo_, oiseaux. O _z_ apparece tambem no singular: _čne zozo_, un oiseau, _li zozo_, les oiseaux. 4. Pronomes: _moi_, _toa_, _li_ (lui); _nous_, _vous_, _li_. Os pronomes sujeitos do singular _je_, _tu_, _il_ do francez desappareceram pois; o pronome da terceira pessoa do plural é identico ao do singular. 5. Uma unica fórma verbal--o infinito, é empregada no creolo da ilha Mauricio. O passado é expresso pelo infinito do verbo principal com o infinito auxiliar _fini_: _moi fini travaďé_, j'ai travaillé; _mon fini broçe chambre_, j'ai fait (_brosser_) la chambre. Para a expressăo do futuro empregam-se com o infinito diversas locuçőes adverbiaes. Para alguns verbos, segundo o dr. Bos, essa fórma unica que substitue todas as outras năo saíu do infinito, mas sim do presente: _koné_==connais, connaît; _voulé_==voulez. A explicaçăo verdadeira d'essas fórmas está n'outro principio que o artigo que analysâmos nos ministra. Os infinitos em _oir_ e _re_ foram substituidos por infinitos analogicos pelos typos em _e_ (_er_) e _i_ (_ir_); assim _éteindre_ por _éteignir_, _tezi_ por _taire_. Estas fórmas assentam sobre as do plural _éteignons_, _éteignez_, _éteignent_, _taisons_, _taiser_, _taisent_, ou antes sobre os substractos _éteign-_, _tais-_ com a desinencia do infinito _i_. O dr. Bos, tendo primeiro explicado _voulé_ por _voulez_, apresenta-o depois como exemplo d'este processo. 6. O verbo _avoir_ foi substituido por _gagner_ (como na Luisiana). 7. Năo se usam conjuncçőes; as proposiçőes săo raras. A construcçăo approxima-se do typo chinez: _moa kosé vou alé baza_, je vous dis (cause) d'aller au marché (bazar); _toa guété çival pa pati_, tu regarderas (guetter) á ce que le cheval ne parte pas; _mamzčle kosé kóme ça mamzčle pa vini mamzčle faď_, mademoiselle m'envoie vous dire précisément qu'elle ne peut pas venir, parce qu'elle est malade; _vou kontan moa alé promené_, ętes-vous satisfait, aimez-vous que j'aille me promener? Com relaçăo ao vocabulario diz-nos o nosso auctor: «O creolo apenas conservou do francez poucas palavras, as palavras que bastam para exprimir as primeiras necessidades da vida, as relaçőes mais ordinarias. Evidentemente seria difficil e mesmo impossivel tratar um assumpto de philosophia em creolo; o mesmo succedeu provavelmente com o francez nos seus primeiros começos. A essas poucas palavras francezas que formam quasi em totalidade o seu vocabulario, o creolo ajuntou algumas recebidas dos paizes vizinhos: _baza_, mercado, _salam_, bons dias; _tiffin_ (pronuncia-se _toffin_), o paladar, d'onde _tiffiner_, provar, palavras que pela maior parte se acham no francez em uso em Mauricio.» «Esse creolo de Mauricio, apesar de ser tăo grosseiro, está longe de querer desapparecer deante das linguas muito mais perfeitas, o francez e o inglez. A maior parte da populaçăo de Mauricio é hoje india; póde prever-se que ella augmentará cada dia mais, graças ás immigraçőes continuas da India. Deante d'essa onda que sobe, a antiga populaçăo creola, brancos, negros e mulatos, diminue proporcionalmente. Ora entre indios, chinezes, malgaches, creolos, mulatos e brancos o laço commum é o creolo. Um indio, um chinez, um arabe, um branco (europeu?) tratarăo uns com os outros os seus negocios em creolo, e esse neo-francez tomará maior extensăo ao passo que a populaçăo variegada da ilha for augmentando. É possivel até que n'uma epocha, muito afastada é verdade, o francez desappareça, como a populaçăo que o falla tende a diminuir. O creolo, ganhando ao contrario terreno, poderá tornar-se a lingua usual, commum, e até a lingua geral, como elle é já a lingua do povo, a _rustica vulgaris_.» O auctor pensa que o inglez permanecerá exclusivamente como lingua de administraçăo sem influencia sobre o creolo. No francez da ilha Mauricio algumas palavras indicam a proveniencia dos primeiros colonos, porque se acham lá como na Bretanha, de onde elles emigraram; além d'isso esses colonos eram marinheiros. Achando coincidencia de termos entre o creolo d'essa ilha e o de outras possessőes europeas no vocabulario em contraposiçăo com o do francez litterario, deve admittir-se que ella tem a causa em que esses colonos levam no seu vocabulario termos do francez de Bretanha e do vocabulario nautico que se encontram nas outras linguas romanicas. No francez de Mauricio diz-se, por exemplo, _amarrer_ năo _attacher_, _espérer_, năo _attendre_, _larguer_ năo _lâcher_, como em portuguez. 2. Creolo da Luisiana Na _Mélusine_ I, col. 495-497, acha-se reproduzido um conto em francez-creolo da Luisiana com traducçăo franceza. É talvez ocioso recordar aos nossos leitores que os francezes descobriram em 1699 a foz do Mississipi e fundaram em 1717 Nova Orleans, e que tendo a Luisiana feito parte dos dominios de Hespanha desde 1762 até 1800, passou n'esse ultimo anno de novo para o dominio da França, que a cedeu aos Estados Unidos em 1803 por 60 milhőes de francos. Esses factos explicam a existencia da colonisaçăo franceza e do dialecto francez-creolo n'aquelle estado da republica norte americana. Eis um excerpto do conto: Ein joie, dan tan lé zot foi, Compair | Un jour, au temps d'autre fois, Bouki couri dîné côté so ouasin | compčre Bouc alla dîner chez son Compaire Lapin. Compair Lapîn | voisin, compčre Lapin. Compčre té pa gagné ein goute do lo pou | Lapin n'avait pas une goutte d'eau boi. Ça fé Compair Bouki di com | ŕ boire. Alors compčre Bouc dit ça ŕ Compair Lapin; | comme ça ŕ compčre Lapin: | --Mouen non pli, mo pa gagné | --Moi non plus, je n'ai pas do lo; si to olé vini padna, no va | d'eau; si tu veux venir par lŕ, nous fouyé ein pi. | allons creuser un puits. | Compair Lapin soucouyé so la | Compčre Lapin secoua la tęte: tęte: | | --Non! Compair Bouki; gran | --Non compčre Bouc; le bon matin bon matin, mo boi la rosé on zerbe; | je bois la rosée sur l'herbe et dans dan jou, kan mo souaf, ma boi dan | le jour, quand j'ai soif, je bois dans piste la ouach. | la piste de la vache. Alors compčreBouc | fouilla son puits tout seul. | Ça fé Compair Bouki fouyé so | Aprčs qu'il eut fouillé le puits, pi li tou sel. Apé li té fouyé pi lŕ, | quand il courut chercher de l'eau kan li couri charché so do lo bon | de bon matin, il vit la trace de matin, li ouâ trace Compair Lapin | compčre Lapin au ras du puits. Il au ra so pi. Li graté so la tęte et | se gratta et s'écria: li jonglé. | | --Bambail, mo Compair, mo va ! --Mon compčre, je vais t'attraper. trapé toi. | | Li couri pran so zouti et lifé ein | Il court prendre ses outils et il gro catin avé boi laurié. Li godroné | fait une grosse catin[6] avec du bois li, godroné li si tan jika lité noi | du laurier. Il la goudronne, la goudronne com négresse guinain. Soleil bas, | jusqu'ŕ tant qu'elle fűt noire Compair Bouki couri planté so catin | comme négresse de Guinée. Le soleil déboute au ra so pi. Dan la | tombé, compčre Bouc courut nuite la line tapé cléré, Compair | planter sa catin debout au ras du Lapin vini avč so baqué pou charché | puits. Dans la nuit, la lune tapait do lo. Kan li ouâ ti négresse | clair; compčre Lapin vint avec lŕ, li rété, li baissé, li gardé ben. | son baquet pour chercher de l'eau. | Quand il voit la petite négresse, | il s'arręte, se baisse et la regarde | bien. | --Ki bétail ci lŕ? | --Quelle bęte est-ce lŕ? | Li hélé on li; ti négresse lŕ pa | Il la hčle; petite négresse ne grouyé, li pas réponne. | bouge pas, ne répond pas. _Observaçőes phoneticas._ 1) _u_, _ui_ mudado em _i_: _jiká_==_jusqu'ŕ_, _line_==_lune_, _pli_==_plus_, _pi_==_puits_; 2) _au_ em _ou_: _oussi_==_aussi_; 3) _eu_ em _é_: _pé_==_peu_, _fé_==_feu_, _sel_==_seul_; 4) _oi_ em _č_, _é_: _drčte_==_droite_, _cré_==_croire_, _olé_==_vouloir_; 5) _r_, _re_, _le_ apocopados: _ouâ_==_voir_, _noi_==_noir_, _pou_==_pour_, _jou_==_jour_, _cré_==_croire_, _pran_==_prendre_, _zot_, _lot_==_autre_, _enco_==_encore_; _capab_==_capable_; 6) _r_ sincopado entre vogal e consoante ou consoante e vogal: _fanne_==_fendre_, _réponne_==_répondre_, _foce_==_force_, _moceau_==_morceau_, _apé_==_aprčs_; 7) _v_ vocalisado ou supprimido: _choual_==_cheval_, _ouach_==_vache_, _ouâ_==_voir_, _olé_==_vouloir_ (mas _volé_==_voler_); 8) assimilaçăo: _fanne_==_fendre_, _moune_==_monde_, _réponne_==_répondre_; 9) apherese: _cré_==_sacré_, _ti_==_petit_; _baissé_==_abaisser_, _rété_==_arręter_, _voyé_==_envoyer_, _contré_==_rencontrer_, _gardé_==_regarder_. _Genero e numero._ Năo ha nenhuma distincçăo formal de genero e numero: _ti_ ou _petit_==_petit_ e _petite_; _moceau_==_morceau_ e _morceaux_. _Artigo._ Ora é empregado ou supprimido, assás arbitrariamente: _La main goche collé aussi_, la main gauche se colle aussi; _pié collé_, le pied se colle. O artigo apparece entre o possessivo e o substantivo: _so la main_, sa main; _mo lot la main_, mon autre main (l'autre main), _so la tęte_, sa tęte. O artigo coalesceu com alguns substantivos: _lo_, eau; _do lo_, de l'eau (litteralmente: _du l'eau_), _so do lo_, son eau (litteralmente: _son du l'eau_), mas _mo fron_, mon front, _so pi_, son puits. N'alguns casos coalesceu com o substantivo o _s_ (z) de _les_, e a fórma com essa prothese é empregada como singular ou plural: _so zepol_, son épaule; _zerbe_, herbe; _zot_, autre (tambem _lot_), _so zouti_, ses outils; _so zoreil_, son oreille, ses oreilles; o mesmo se dá na Trinidad e Mauricio. _Pronomes._ 1.^a pessoa singular, _mo_, _mouen_ sujeito: _mo boi_, je bois; _mouen non pli_, moi non plus; _mouen_ regimen: _lâché mouen_, lâche-moi. 2.^a pessoa singular, _to_ sujeito: _to gardé_, tu regardes; _toi_ regimen: _to cré choual voyé cou pié on toi_, tu croiras qu'un cheval t'a envoyé un coup de pied; _mo va trapé toi_, je vais t'attraper; _qui cogne toi_, qui te cogne. 3.^a pessoa singular, _li_ sujeito e regimen: _li fé_, il fait; _li gratté_, il sa gratta; _li voyé li_, il l'envoya. 1.^a pessoa plural, _no va fouyé_, nous allons creuser (fouiller). As outras fórmas faltam no conto sobre que se baseiam estas nossas observaçőes. Năo ha pronome reflexo: _li rété_, il s'arręte; _li baissé_, il s'abaisse; _li gratté_, il se gratta. _Verbo._ Com excepçăo de _té_==_était_ (_étais_), todas as fórmas verbaes săo substituidas pelo infinito, que serve para exprimir o presente, o futuro, o preterito de todos os modos. A fórma _té_ serve porém para exprimir com um infinito (ou o participio passivo?) periphrasticamente o preterito: _li té pá gagné_, il n'avait pás; _li té fouyé_, il eut fouillé; _to té di_, tu avais dit. _Preposiçăo_. As principaes preposiçőes săo: _avé_, avec, _dan_, dans, en; _on_, en; _au_; _pou_, pour. A preposiçăo _de_ é supprimida: _pierre tonnair_, pierre de tonnerre; _boi laurier_, bois de laurier; _ta branchaille sec_, tas de branches sčches; _piste la ouach_, piste de la vache; _au ra so pi_, au ras de son puits; _cou pié_, coup de pied. _Suppressăo de verbos_, etc.: _Comencé colair_, il commence ŕ ętre colčre; _kan mo souaf_, quand j'ai soif. 3. Creolo da Guyana MM. de Saint Quentin publicaram ha alguns annos um livro contendo contos populares (um só na prosa original), fabulas traduzidas do francez e cançőes creolas dos auctores n'este dialecto. Temos noticia d'este livro apenas por uma indicaçăo na _Mélusine_, I, 55 (Paris, 1877). Na _Mélusine_, I, n.^{os} 1 e 2, ha traducçăo, mas sem o original, de dois contos da Guyana franceza. Esta possessăo da França foi colonisada por francezes no começo do seculo XVII e permaneceu colonia franceza até hoje, com excepçăo do periodo de 1808-1817, em que esteve em nosso poder. 4. Creolo da Ilha de S. Domingos Encontram-se um _Voccabulaire, français et crčole_, dialogos e cançőes n'este dialecto no _Manuel des habitants de Saint-Domingue_, par Duc[oe]urjoly. Paris, Lenoir, 1802, t. II, p. 283-393. 5. Creolo da Trinidad O dialecto francez-creolo d'esta ilha póde estudar-se na obra _The theory and practice of creole grammar_, by J. J. Thomas. Port of Spain (Trinidad), the _Chronicle_ publishing office. In 8.^o, 134. p. Tenho noticia d'essa obra apenas por um artigo de M. Paul Meyer na _Revue critique_, 1872, art. 50. «A conservaçăo entre os negros das Antilhas, diz M. P. Meyer, de _patois_ mais ou menos differentes uns dos outros, mas tendo incontestavelmente uma origem franceza, é um facto digno de attençăo. É-o sobretudo na Trinidad que nunca foi colonia franceza. É evidente que todos esses negros vęem originariamente de colonias francezas, e aquelles mesmo da parte meridional dos Estados Unidos que fallam o inglez que nos fizeram conhecer os romances de Mrs. Beech-Stowe ou de M. Kirke, deviam ter fallado outr'ora um _patois_ francez. Parece até que o _patois_ da Ilha de França offerece, na deformaçăo do francez, analogias com o da Trinidad que năo săo explicadas sufficientemente pela communidade do ponto de partida. A expansăo de um _patois_ negro formado do francez depende naturalmente das deslocaçőes a que foram submettidos aquelles que o fallavam, e isso é um assumpto que năo é geralmente conhecido, pelo menos d'este lado do Atlantico. «O fundo do _patois_ é francez, com alguns emprestimos do hespanhol (a Trinidad foi colonia hespanhola até 1797) e do inglez. «Ha algumas particularidades curiosas no systema dos sons. A apocope e mais ainda a apherese (o fim da palavra sendo geralmente protegido pelo accento) representam n'elle um grande papel. Assim: _tč_ por _étais_, _était_ (ou antes talvez pelo participio _été_); _sé_ por _serais_, _serait_. Outras suppressőes effectuam-se sobre o centro das palavras; assim: _vlez_ por _voulez_, em que vemos a extensăo de um facto que o anglo-normando nos offerece em _frai_ (_ferai_), _fras_, _frad_, etc. As liquidas _l_ e _r_ caem deante d'uma outra consoante, e a vogal precedente torna-se longa: _mâgré_ (_malgré_), _pâler_ (_parler_), _môdre_ (_mordre_). Algumas vezes tambem _l_ e _r_ caem depois do accento diante de um _e_ mudo, que seria melhor năo escrever; assim: _tabe_ (_table_), _vîte_ (_vitre_). Todos que tiveram occasiăo de ouvir negros ou mulatos das colonias tiveram occasiăo de notar os mesmos factos na sua pronuncia, ainda quando elles fallam francez. «Năo é á phonetica que pertencem os factos mais caracteristicos do creolo, mas á flexăo e á composiçăo das palavras. O que n'essa parte se observa é bem feito para elevar ao mais alto o assombro dos que acham já enormes as formaçőes novas que nos offerecem os idiomas romanicos comparados com o latim. Nós dizemos _celui-lŕ_ emquanto o latim vulgar dizia _eccillum_; mas os negros pőem _lŕ_ a todo o instante depois dos substantivos como um demonstrativo a que năo ligam já grande valor (M. Th., p. 15). O sentido das particulas e dos artigos está de tal modo obliterado que já năo se empregam senăo absolutamente confundidos com as palavras a que se juntaram e fazendo corpo com ella: _difé_, _dithé_, _divin_, _dleau_ (p. 18) querem dizer: _feu_, _thé_, _vin_, _eau_; _zoreies_ quer dizer as orelhas; _pęncor_ (p. 122) quer dizer _pas encore_, contracçăo que nos offerece tambem o provençal _pancaro_. N'um idioma tăo empobrecido é só o logar das palavras que indica as relaçőes. Assim n'este proverbio: _Pas fôte langue qui fair bęf pas sa pâler_ (p. 121) (Ça n'est pas faute _de_ langue qui faire b[oe]uf pas savoir parler). «Os verbos parecem, pelo menos muitas vezes, reduzidos a uma só fórma, a do infinito (a năo ser que alguma outra fórma tenha sido preservada por causa de uma differença bem sensivel e de um uso frequente). Estudar-se-hăo com interesse os diversos tempos compostos com os quaes os negros remediaram as lacunas da conjugaçăo, e achar-se-ha n'isso materia para diversas comparaçőes com os factos parallelos das linguas romanicas. Todavia é mister năo esquecer que a comparaçăo năo tem aqui senăo a mais fraca base. Os negros quando aprenderam o francez, estavam habituados a uma linguagem absolutamente differente, e nunca souberam senăo as palavras e as fórmas mais usuaes do seu novo idioma, emquanto o latim vulgar de que saíram as linguas romanicas por desenvolvimentos individuaes e locaes, foi sempre um idioma assás completo, cujas transformaçőes foram assás lentas para que as lacunas tivessem tempo de se encher ao passo que se formaram.» 6. Creolo da Martinica Cremos que versa principalmente sobre este dialecto a obra seguinte, que conhecemos apenas pelo catalogo da bibliotheca de Burgaud des Marets: _Catéchisme en langue créole, précédé d'un essai de grammaire sur l'idiome usité dans les colonies françaises_, par M. Goux, missionnaire ŕ la Martinique. Paris, Vrayet de Suroy, 1842, in 8.^o Mais recente é o livro de Turiault: _Étude sur le langage créole de la Martinique_. Brest. 236 pp. in 8.^o en deux volumes. 1876. (Paris, Viaut.) Contém uma serie de enigmas, numerosos proverbios, alguns contos, algumas cançőes e diversas traducçőes do francez. Vid. _Mélusine_, I, 55. Paris, 1877. IV. LINGUA FRANCA Littré, _Dict. de la langue française_, s. v. _franc_ 4, define lingua franca: «jargon mélé d'italien, d'espagnol, etc. ŕ l'usage des Francs de l'Orient» isto é, dos europeus do Levante. J. Creswell Clough no ensaio _On the existence of mixed languages_, p. 11, define, fundado na auctoridade de Malte Brun, a lingua franca do Mediterraneo como uma mistura de catalăo, limosino, siciliano e arabe, originada nos estabelecimentos de escravos dos mouros e turcos. O auctor năo conheceu porém nenhum specimen d'essa lingua. (_The Athenaeum_, 1877. January to June, p. 545.) Segundo o mesmo periodico inglez, vol. cit. p. 608, ha um _Dictionnaire de la langue franque, ou petit mauresque, ŕ l'usage des français en Afrique_, publicado ha alguns annos em Marselha. O vocabulario comprehende palavras italianas, algumas fórmas approximando-se do hespanhol e ainda um certo numero de termos locaes usados na Argelia. O principe L. L. Bonaparte considera, com rasăo, a lingua franca como estando para com o italiano litterario na mesma relaçăo que o indo-portuguez para com o portuguez, os dialectos creolo-francezes para com o francez, o negro-hollandez para com o hollandez, (_Athenaeum_, vol. cit., p. 640 e 703.) Lingua franca | Italiano | Bon giorno, Signor; comme ti | Buon giorno, Signore; come stai?--Io star?--Mi star bonu, e ti?--Mi | sto bene, e tu?--Io son contente star contento mirar per | di vederti.--Grazie.--Poss'io ti.--Grazia.--Mi pudir servir per ti | servirti in qualche cosa?--Molte per qualche cosa?--Muciu grazia.--Ti | grazie.--Dŕ una seggiola al dar una cadiera al Signor.--Non | Signore.--Non ho bisogno. Io sto bisogna. Mi star bene | bene cosě.--Como sta il tuo acousě.--Comme star il fratello di | fratello?--Sta molto bene. ti?--Star muciu bonu. | (_The Athenaeum_, 1877, 1.^o sem., p. 640). L. L. Bonaparte dá as seguintes regras que caracterisam a lingua franca: 1.^a Os nomes năo tęem plural: _amigo_==amigo e amigos. 2.^a Os verbos năo tęem conjugaçăo, mas só um futuro periphrastico e um participio terminando em _ato_ ou _ito_: _mi_, _ti_, _ellu_, _noi_, _voi_, _eli_, _andar_ significam năo só eu vou, tu vaes, elle vae, nós vamos, vós ides, elles văo, mas tambem eu ia, etc., eu fui, etc.; _bisogno andar_ significa eu irei, etc. 3.^a _Star_ significa _ser_ e _ter_, quando săo usados como verbos auxiliares. 4.^a _Avir_ ou _tenir_ significam _ter_, mas só com a idéa de _possuir_. 5.^a O regimen directo dos pronomes pessoaes é precedido da preposiçăo _per: mi mirar per ella_, eu vejo-o. Moličre no acto IV do _Bourgeois gentilhomme_ deu uma imitaçăo da lingua franca. «Scčne X.--_Le Muphti, Dervis, Turcs, chantans et dansans; Monsieur Jourdain_, vętu ŕ la turque, la tęte rasée, sans turban et sans sabre. _Le Muphti, ŕ M. Jourdain._ Se ti sabir, Ti respondir, Se non sabir, Tazir, tazir. Mi star muphti, Ti qui star si? Non intendir, Tazir, tazir. «Scčne XI.--_Le Muphti, Dervis, Turcs chantans et dansans._ _Le Muphti._ Dice, Turque, qui star quista? Anabatista? anabatista? _Les Turcs._ Ioc. _Le Muphti._ Zuinglista? _Les Turcs._ Ioc. _Le Muphti._ Coffita? _Les Turcs._ Ioc. _Le Muphti._ Hussita? Morista? Tronista? _Les Turcs._ Ioc, ioc, ioc. _Le Muphti._ Ioc, ioc, ioc. Star pagana. _Les Turcs._ Ioc. _Le Muphti._ Luteranos. _Les Turcs._ Ioc. _Le Muphti._ Puritana? _Les Turcs._ Ioc. _Le Muphti._ Bramina? Moffina? Zurina? _Les Turcs._ Ioc, ioc, ioc. _Le Muphti._ Ioc, ioc, ioc. Mahametana? Mahametana? _Les Turcs._ Hi Valla. Hi Valla. _Le Muphti._ Como chamara? Como chamara _Les Turcs._ Giourdina, Giourdina. _Le Muphti_ (sautant). Giourdina, Giourdina. _Les Turcs._ Giourdina, Giourdina. _Le Muphti._ Mahameta, per Giourdina, Mi pregar, sera e matina. Voler far un paladina De Giourdina, de Giourdina; Dar turbanta e dar scarrina, Con galera, e brigantina, Per deffender Palestina, Mahameta, per Giourdina, Mi pregar sera e matina. Star bon Turca Giourdina? _Les Turcs._ Hi Valla. Hi Valla. _Le Muphti_ (chantant et dansant). Ha la ba, ba la chou, ba la ba, ba la da. _Les Turcs._ Ha la ba, la la chou, ba la ba, ba la da. «Scčne XIII.--_Le Muphti, Dervis, Monsieur Jourdain, Turcs, chantans et dansans._ _Monsieur Jordain_ (aprčs qu'on lui a ôté l'Alcoran de dessus le dos). Ouf! _Le Muphti_ (ŕ M. Jourdain). Ti non star furba? _Les Turcs._ No, no, no. _Le Muphti._ Non star forfanta? _Les Turcs._ No, no, no. _Le Muphti_ (aux turcs). Donar turbanta. _Les Turcs._ Ti non star furba? No, no, no. Non star forfanta? No, no, no. Donar turbanta. _Les Turcs dansans_ mettent le turban sur la tęte de _M. Jourdain_ au son des instruments. _Le Muphti_ (donnant le sabre ŕ _M. Jourdain_). Ti star nobile, non star fabbola, Pigliar schiabolla. _Les Turcs_ (mettant le sabre ŕ la main). Ti star nobile, non star fabbola Pigliar schiabolla _Les Turcs dansans_ donnent en cadence plusieurs coups de sabre ŕ _M. Jourdain_. _Le Muphti._ Dara, dara Bastonnara. _Les Turcs._ Dara, dara Bastonnara. _Les Turcs_ donnent ŕ _M. Jourdain_ des coups de bâton en cadence. _Le Muphti._ Non tener honta, Questa star l'ultima affronta. _Les Turcs._ Non tener honta, Questa star l'ultima affronta.» O uso frequente na lingua franca da palavra _sabir_, principalmente na expressăo _mi no sabir_ com que os levantinos e argelinos respondiam ás perguntas que lhes faziam os estrangeiros e que elles năo comprehendiam, fez dar a essa lingua o nome de _sabir_, _lingua sabir_. Vid. Littré, _Dictionnaire de la langue française. Supplément_, s. v. _Sabir_. A. Darmesteter, _De la création actuelle de mots nouveaux dans la langue française_, p. 261, n. define ainda: «Le _sabir_ ou langue franque, mélange d'italien, de français, de provençal et d'arabe parlé par les marins de la Méditerranée». Algumas phrases ou expressőes da lingua franca chegaram, sem duvida por intermedio dos marinheiros, até ao calăo ou girias dos diversos povos da Europa. No _cant_ (calăo de Inglaterra) ha por exemplo: _nantee dinarly_ (năo tenho) nenhum dinheiro, da lingua franca; _niente dinaro_, do italiano _niente_, nada (==fr. _néant_) e _denario_ (==port. _dinheiro_, hesp. _dinero_, fr. _denier_, do lat. _denarius_). Em portuguez ha _nentes_ do ital. _niente_, que năo veiu ao que parece por intermedio da lingua franca. _Nicles_, nada, da giria dos garotos portuguezes parece estar por _niks_ e corresponder ao _nix_ da lingua franca. «The well-known _Nix mangiare_ stairs at Malta derive their name from the endless beggars who lie there and shout «Nix mangiare», i. é. «nothing to eat»,--an expression which exhibits remarkably the mongrel composition of the Lingua Franca, _mangiare_ being italian, and _Nix_ (germ. _Nichts_), an evident importation from Trieste, or other Austrian seaport.» _The Slang Dictionary_, apud Johan Storm, _Englische Philologie_ I, 162-3. Storm junta em nota a pag. 163: Li n'um romance maritimo inglez a seguinte lamuria de um pedinte maltez: «_Me_ molto miserabile, signore! _Nix_ padre, _nix_ madre, _nix_ mangiare _per sixteen days_, per Gesů Christo.» _Nix_ é considerado geralmente na Italia pelo povo como a negaçăo allemă ou estrangeira. Mas o emprego de uma expressăo como _nix_ ou de termos extranhos năo determina de modo algum o caracter da lingua franca. O emprego de expressőes como _sixteen days_ é um accidente de momento que se encontra em todas as linguas: quando a gente que as falla se acha em contacto com estranhos recorre á sua maior ou menor provisăo de termos estrangeiros. A composiçăo da lingua franca năo é realmente mais _mongrel_ que por exemplo a do inglez, que apresenta vocabulos provenientes de innumeras linguas. V. CONSIDERAÇŐES GERAES Năo foram só as linguas romanicas que serviram de base á formaçăo de dialectos como os que acâbamos de noticiar: podemos dar indicaçăo de dialectos similhantes de origem germanica, a cujo estudo procederemos logo que tenhamos materiaes sufficientes. O _negro-english_, dialecto assim chamado impropriamente, é fallado na colonia hollandeza de Surinam, na Guiana, por uma populaçăo de cęrca de 100:000 individuos, dos quaes 90:000 negros e 10:000 de origem européa. As fórmas grammaticaes estăo reduzidas n'este dialecto, como em todos os similhantes a um minimo. _The Bible of Every Land_, p. 213, dá noticia de traducçőes dos Psalmos e do Novo Testamento no _negro-english_. Julgâmos terem por objecto este dialecto os livros seguintes que ainda năo lográmos ver: _Kurzgefasste neger-englische Grammatik._ Bautzen, 1854. Van der Vegt, _Proeve eener handleiding om het neger-engelsch_. O creolez (ingl. _creolese_) é um dialecto tendo por base o hollandez, fallado pela populaçăo negra das ilhas de Santa Cruz, S. Thomaz e S. Joăo (Indias Occidentaes); năo tem distincçăo de genero nem numero, nem declaraçăo de nomes, nem conjugaçăo simples de verbos. Em 1781 o governo da Dinamarca fez imprimir em Copenhagen uma traducçăo do Novo Testamento n'esse dialecto; em 1818 fez-se nova ediçăo. Segundo _The Bible of Every Land_, pag. 212, parece que o creolez caíu em desuso. O inglez serviu de base na China á formaçăo dialectal chamada _Pidgin English_ (_pidgin_ é approximadamente a pronuncia chineza do inglez _biznes_, _business_). Năo vimos ainda a obra de Leland, _Pidgin English singsing, or Songs and Stories in the China-English dialect_. London, 1866. Na _Introduction to the Study of Sign Language among the north american Indians_ by Garrick Mallery (Smithsonian Institution-Bureau of Ethnology. Washington, 1880.) p. 12, achâmos a seguinte noticia: «Os kalapuyas do Oregăo meridional usaram até ha pouco uma linguagem de signaes, mas gradualmente adoptaram para a communicaçăo com o estrangeiro a lingua composta, commummente chamada giria _tsinuk_ ou giria _chinook_, que provavelmente se originou para fins commerciaes nas margens do Columbia antes da chegada dos europeus, fundada sobre o tsinuk, tsiholi, nutka, etc., mas agora enriquecido por termos francezes e inglezes, e esqueceram quasi inteiramente os seus antigos signaes. A prevalencia d'esta lingua mestiça, formada nas mesmas condiçőes que produziram o _pigeon-english_ ou a _lingua franca_ do oriente, explica a falta notada de lingua de signaes entre as tribus da costa noroeste». A giria tsinuk năo é talvez, apesar do que nos diz G. Mallery, mais do que um dialecto inglez da natureza dos que săo objecto do presente estudo. Ninguem ainda, que saibâmos, viu com clareza o verdadeiro caracter e reconheceu as leis geraes que presidem á formaçăo de dialectos de que nos occupâmos. O eminente philologo P. Meyer tocou a nosso ver em um dos pontos essenciaes da questăo, mas por falta sem duvida de termos de comparaçăo năo a collocou á verdadeira luz: «Estudar-se-hăo com interesse, diz elle, com relaçăo ao dialecto da Trinidad, os diversos tempos compostos pelos quaes os negros remediaram as lacunas da conjugaçăo, achar-se-ha materia para diversas comparaçőes com os factos parallelos que apresenta á formaçăo das linguas romanicas. Nada deve porém esquecer que a comparaçăo tem aqui a mais fraca base. Os negros, quando aprenderam o francez, estavam habituados a uma lingua absolutamente differente e nunca souberam mais que as _palavras e as fórmas mais usuaes_ de seu novo idioma, emquanto o latim vulgar de que saíram por desenvolvimentos individuaes e locaes as linguas romanicas, foi sempre um idioma sufficientemente completo, cujas transformaçőes foram assás lentas para que as lacunas tenham tido tempo de se encher facilmente ao passo que se formaram». _Rev. critique_, 1872 artigo 50. Na passagem seguinte, M. P. Meyer mostra ter repugnancia em admittir que a formaçăo de dois dialectos creolos obedeça a leis perfeitamente identicas: «Parece que o _patois_ da ilha de França offerece, na deformaçăo do francez, analogias com o da Trinidad que năo săo explicadas sufficientemente pela communidade do ponto de partida». O dr. Bos (_Romania_ IX, 571) admitte já a independencia d'essas formaçőes analogas, sem ver ainda aqui a acçăo de leis geraes: «Os diversos creolos (francezes) que se fallam nas Antilhas, na America, nas ilhas Mascarenhas, no Oceano Indico, tęem todos um ar de familia, uma similhança ainda mais accentuada que a que existe entre as linguas neo-latinas, e devida provavelmente á sua maior mocidade e á sua maior proximidade da lingua măe. Alem d'isso essa lingua măe, o francez, é unica para os idiomas creolos; e o latim vulgar, quando deu origem ás linguas neo-latinas, tinha talvez já perdido a unidade, e experimentado as influencias regionaes que deviam transformal-o, aqui em francez, acolá em provençal, alem em italiano, etc. Fóra pois da questăo de tempo, a grande similhança que existe entre as linguagens creolas provém provavelmente da unidade da lingua que lhe deu origem: o francez representa aqui o papel do latim vulgar com relaçăo ás linguas romanicas». As idéas geraes com relaçăo á formaçăo d'estes dialectos expressas por E. Tesa no seu citado estudo sobre o creolo de Curaçáo năo me parecem tambem exprimir a verdade dos factos. «Due studj sono a farsi nella istoria delle lingue: la libertŕ e la servitů. Una favella si disgiunge da una grande famiglia, serbando parte del tesoro commune e nei valori radicali che si incorporano in un grupo di suoni, e ne' canoni derivativi, e nelle flessioni. Questa ricchezza ereditata non giace inerte. Č un grande albero: e dei molti rami, quale si leva piů alto, quale si arresta a mezza la via; ma in ciascuno č una vita sua propria: vi discorre lo stesso succo a nutrirli, ma č vario lo spessore degli strati e le virtú: tutto č un agitarsi, un crescere; finchč le due ultime foglie, che si toccano in mezzo al sereno dei cieli, non rammentano piů che la radice commune č nascosta in un luogo solo e circondata di poca terra. «Beata la nazione alla quale, in codesta opera de' secoli, la lingua si disvolge senza ingiustamente comandare e senza miseramente servire; perchč anche negli organismi vocali cosě corrompe il vedersi schiavo como il farsi tiranno. «Bensě le lingue, presto o tardi, si incontrano, si impinguano, si tarpano l'una l'altra; o sia l'imitazione delle idee come nella prosa de' Cechi e de' Magiari, guidata in tanta parte dal tedesco: o da questa lingua in quella si trasfonda la somma delle parole, como le sanscrite nel tamulico; le turche nel greco, nell'armeno, nello schipetaro, nel româno, nel bulgaro, nel serbo. Talora poi le forme stesse o cedeno alle alle straniere o le accettano cooperatrici a rappresentare il pensiero; come nel persiano e piů nel turco e, con istrazio peggiore, nel huzuresco. «Un esempio di queste corruzioni profonde lo veggiano a Curassao; e non osservato, ch'io sappia, dai linguisti. Non ho trovato che un libro; e bisognerebbe sapere se altri ve ne sieno e serbino tutti le forme spagnuole, o incomincine a corrompere anche la lingua degli Olandesi, padroni nuovi. Poi sarebbe utile a conoscere QUALE DIALETTO VI PARLASSERO GLI ABORIGENI; quando sia scomparso o se ancora se ne conservino le tracce; finalmente quanto sieno in quel picciolo popolo i discendenti di Spagna i quanto di Olanda... «Certo da questo breve studio sul curassese saremo condotti a ristringere la opinione di Augusto Fuchs che lo spagnuolo, dominatore in tanta parte di America, non si mescolň a nessuna delle lingue indigene da formare um nuovo dialetto (Cfr. _Die romanischen Sprachen._ Halle, 1849, p. 7). Non s'č mescolato; ma IL PENSIERO NAZIONALE TRASCINŇ DIETRO A SČ LE FÓRME SPAGNUOLE E GLI AVANZI; cosě che ne derivň una favella che non assomiglia certo a nessuno dei dialetti metapireneici. «A me pare che uscirebbe un bel libro, ma da non farsi in Europa, chi si ponesse a ricercare come le lingue latine rimutassero; il francese nel Canada, in Haiti; il portoghese nel Brasile e lungo le coste d'India; a Cuba, a Portorico e via via lo spagnuolo. SAREBBE A DISCOPRIRSI LA GRAMATICA INDIGENA; E DEDURNE LE LEGGI DISSOLUTIVE DI QUELLA PAROLA, lŕ inerte o quasi, che fu stromento a forti pensiere e alle grazie dell'arte in bocca a Dante, a Cervantes, a Voltaire.» Como se vę o douto professor de Pisa inclina-se a admittir como explicaçăo dos dialectos creolos uma accommodaçăo das fórmas romanicas á grammatica das linguas dos povos entre os quaes esses dialectos se formam. Alguns eruditos brazileiros, conhecedores dos dialectos indigenas, admittem influencia grammatieal d'estes dialectos sobre o portuguez do seu paiz. «A lingua fallada pelos primitivos incolas d'El-Dorado, a lingua do selvagem, que teve voga nos primeiros tempos do desenvolvimento do Brazil, que durante dois seculos entre os proprios colonos europeus era «a lingua geral» e de uso quotidiano no tracto commum, usada e fallada até no pulpito, ainda hoje fallada no Paraguay, teve tal importancia já, que, temendo-se que fosse esquecida a lingua portugueza, mereceu ser proscripta expressamente a ponto de a mandarem abolir pela provisăo de 12 de outubro de 1727 (_Jornal do Timon_, t. 2.^o; p. 315). E depois, apezar de tudo, ella perdura ainda, já năo digo pelo facto de subsistir hoje entre varias e numerosas tribus do Amazonas e de Matto Grosso, porém, perdura na lingua portugueza, fallada pelos descendentes dos Brazis, dando-lhe um feitio caracteristico que distingue essencialmente essa falla brazileira da portugueza, năo só na inflexăo da voz, năo só na phonetica, mas ainda no tornęo grammatical e no phraseado que tem _seu que_ de novo, năo usado na terra lusitana, e a final em grande numero de vocabulos de todo năo portuguezes. A «lingua geral» é certo, morreu com o indio e ou si năo morreu ainda, vae morrer e desapparecerá com o derradeiro selvagem, que a locomotiva da civilizaçăo tem de aniquilar na sua marcha, no seu «avança para deante». Porčm, como em seguida á derrubada, onde era a mata virgem, surge a capoeira, do mesmo modo no campo de exterminio, do qual se-eliminou o indio, subsistem o mameluco, o caboclo, o caipira, o matuto; e essa pobre gente que constitue a nossa gente da roça, os nossos _officiaes de officio_, a nossa soldadesca e a nossa maruja, concorre sem a menor duvida com a maior percentagem para formar o algarismo da nossa populaçăo. Desappareceu o indio (_abá_), o indigena, o autochtone (_t-yby-abá_==_typynabá_), o selvagem (_tapyyia_),--mas ficou o caboclo, o perfilhado por branco (_caraďb-oca_==_caribóca_), o mameluco, o filho da mulher india (_membyrucá_), o pelle tostada (_caipíra_), ou o homem corrido, envergonhado, abatido, submettido (_kuaipira_). E esses mamelucos, caboclos e caipiras, fallando a lingua do «outro», do extrangeiro, do homem de lá longe, do emboaba, (_amo-abá_), fallando essa lingua corrompida pelo fallar do africano, do selvagem negro (_tapyyńuna_), conservam no sotaque, no phraseado, reminiscencias da «lingua geral» que văo se-fazer ouvir ainda no seio do parlamento, onde desgraçadamente predomina um francez assaz eivado de francezismos e tambem já de năo poucos inglezismos. Foi proscripta a lingua do indio (o _abá ńeenga_), mas na lingua do branco (no _caraď-ńeenga_) fallada pelos matutos, e reproduzida ás vezes com bastante merito em escriptos litterarios, subsistem dizeres _sui generis_, oriundos da lingua materna, certamente _materna_ pois que elles săo os mamelucos, os filhos da mulher indigena, săo os caboclos oriundos do homem branco. Como muito bem diz o sńr. dr. Couto de Magalhăes, na _linguagem popular_ do Brazil ha năo só grande _quantidade de vocabulos tupis_ ou _guaranis_, mas ainda _phrases, figuras, idiotismos e construcçőes peculiares_. Quanto ao vocabulario é incontestavel, e com um pouco de attençăo vę-se, que no portuguez brazilico abundam dicçőes de linguas americanas em numero mais consideravel talvez que o das dicçőes arabicas que se-conservam no lexicon portuguez. Dizemos «linguas americanas», porque na realidade năo ha só vocabulos do _abáńeenga_, e sim tambem do _chilidugu_, do _kechua callu_, do _karai-arianga_, e outras, como sejam _brisa_, _canôa_, _furacăo_, _piroga_, _mate_, _guasca_, _guampa_, _gaűcho_, etc. Nas sciencias naturaes (mórmente na botanica) e na geographia é mais que consideravel o numero de vocabulos oriundos de linguas americanas[7].» «Nem o tupi oriental, aquelle que era fallado na costa quando os jesuitas o escreveram, e que faz objecto dos diccionarios e grammaticas que nos legaram; nem a lingua Kirirí, um tupi que era fallado pela tribu d'esse nome, năo săo hoje linguas vivas. Assim como os selvagens ou desappareceram ou subsistem mestiçados, assim a lingua ou desappareceu ou mestiçou-se no rustico fallar do nosso povo, conseguindo introduzir na lingua portugueza do Brazil centenares de raizes[8]. «O cruzamento d'estas raças (indigenas do Brazil, negros e brancos) ao passo que misturou os sangues, cruzou tambem (se nos é licito servirmo-nos d'essa expressăo) a lingua, sobretudo a linguagem popular. É assim que, na linguagem do povo das provincias do Pará, Goyaz, e especialmente de Matto-Grosso, há năo só quantidade de vocabulos tupís e guaranís accommodados á lingua portugueza e n'ella transformados, como ha phrases, figuras, idiotismos, e construcçőes peculiares ao tupí. Este facto mostra que o cruzamento physico de duas raças deixa vestigios moraes, năo menos importantes do que os do sangue. O notavel professor norte-americano C. F. Hartt nota que săo rarissimos os verbos portuguezes que tęem raizes tupís, e cita como um d'esses raros exemplos, talvez unico, o verbo _moquear_. Se o illustre professor houvesse viajado outras provincias, veria que esse exemplo năo é isolado, e que năo temos um, mas muitos verbos vindos do tupí, e alguns d'elles tăo expressivos e energicos que năo encontrâmos equivalentes em portuguez; citarei entre outros os seguintes: _espocar_ (Pará) por: arrebentar abrindo; _petequear_ (Minas, S. Paulo) por: jogar; _entocar_ (geralmente em todo o Brazil) por metter-se em buraco, ou figuradamente, por: encolher-se, fugir á responsabilidade; _gapuiar_ (Pará, Maranhăo) por: apanhar peixe; _cutucar_ (geral) por: tocar com a ponta; _espiar_ (geral) por: observar; _popocar_ (Pará, Maranhăo) por: abrir arrebentando; _pererecar_ (geral) por: caír e revirar; _entejucar_ por: embarrear; _encangar_ por: metter os bois no jugo; _apinchar_ por: lançar, arremessar; _capinar_ por: limpar o matto; _embiocar_ por: entrar no buraco; _bobuiar_ por: fluctuar; _catingar_ por: exhalar mau cheiro; _tocaiar_ por: esperar, etc., săo outros tantos verbos com que o tupí enriqueceu a lingua popular dos habitantes do interior do Brazil, lingua ás vezes rude, năo o contestâmos, mas ás vezes tambem de uma energia e elegancia de que só póde fazer idéa, aquelle que tem estado em uma roda de gaúchos folgazăos a ouvil-os contar a historia de seus amores, suas façanhas de valentia, ou as lendas, ás vezes tăo tocantes e poeticas de suas superstiçőes, metade christăs, metade indigenas[9]... «Se dos verbos passassemos aos substantivos, nomes de animaes, logares, plantas, ver-se-hía que nada menos de mil vocabulos, quasi uma lingua inteira, passou e veiu fundir-se na nossa, assim como com o cruzamento tem passado e ha-de continuar a passar o sangue indigena a assimilar-se e confundir-se com o nosso[10].» Como se vę os dois escriptores brazileiros, que tęem um longo conhecimento do tupi-guarani, nenhum facto apresentam que prove a influencia grammatical que admittem: as suas indicaçőes resumem-se a factos lexiologicos, alguns dos quaes săo muito contestaveis. Năo entraremos n'um exame critico directo das diversas opiniőes que acabâmos de citar. Os materiaes por nós accumulados permittem-nos assentar os seguintes principios, em face dos quaes é facil julgar essas opiniőes. 1.^o _Os dialectos romanicos e creolos, indo-portuguez e todas as formaçőes similhantes representam o primeiro ou primeiros estadios na acquisiçăo de uma lingua estrangeira por um povo que falla ou fallou outra._ Este principio é por assim dizer evidente. Basta observar como os estrangeiros que năo tęem estudos grammaticaes começam a fallar a lingua de um paiz que năo é o seu para a ver perfeitamente confirmada. _Mi no fallá portuguese_ é uma phrase typica que todos conhecemos na bôca dos inglezes. Os factos observados nos dialectos creolos de Santo Antăo, Guiné, etc., revelam _graus diversos na acquisiçăo do portuguez_. A lingua franca póde ser considerada como o typo mais rudimentar das formaçőes de que nos temos occupado. Aqui devemos observar um facto interessante: consiste elle em que o povo de qualquer paiz achando-se em contacto com estrangeiros que năo fallam a sua lingua reduz esta tambem, por assim dizer instinctivamente, ao mesmo typo privado de fórmas grammaticaes que caracterisam os dialectos creolos[11]. Nos contos populares, os mouros, os turcos e os negros săo apresentados pelo povo a fallar uma lingua em que o infinito substitue as outras fórmas verbaes; assim em G. Pitré, _Fiabe, novelle e racconti popolari siciliani_, I, 17, n.^o 1, ha o seguinte dialogo entre um turco e S. Nicolau: «Bonciornu Santu Nicola!»--«Addiu Maumettu.»--«_Pigghiari_ tanticchia d'ogghiu?»--«_Pigghiari_ quanto vôi.» Póde comparar-se a versăo portugueza d'essa facecia em a nossa collecçăo de _Contos populares portuguezes_, n.^o 72. O douto e indefesso collector das tradiçőes sicilianas ministra-nos a seguinte nota: «Nel _Malmantile_ del Lippi annotato dal Minucci, vol. III, pag. 257, a proposito della frase del Lippi _star usanza_ si legge: «_Star usanza_. Č detto alla maniera degli stranieri, specialmente tedeschi, o turchi, che cominciando a parlar un poco Italiano, si servono quasi sempre dell'infinito in luogo di qualsivoglia tempo. Č curiosa la perifrase d'uno schiavo turco, che avendo rubato un turibolo d'argento, volendolo vendere, andava dicendo negli orecchi a coloro, ch'egli supponeva lo potessino comprare: _Voler comprar un andare un venire un sentir buono?_» É com razăo que M. E. Egger nas suas _Observations et réflexions sur le développement de l'intelligence et du langage chez les enfants_ (Paris, 1879. 8.^o) compara a linguagem das creanças aos dialectos creolos: «A vingt-huit mois l'enfant connaît le sens des trois mots: _ouvrir_, _rideau_ et _pas_ (négation); déjŕ il les rapproche avec une certaine dextérité, en les acompagnant du geste et du monosyllabe _ça_. _Pas ouvrir ça_ signifie «la fenętre est fermée»; _pas rideau ça_ signifie «la fenętre n'a pas de rideau». On reconnaît lŕ ces grossičres façons de parler qu'on décore parfois du nom de patois nčgre, parce que les nčgres de nos colonies n'empruntent gučre ŕ la langue de leurs maîtres qu'un petit nombre de vocables, les plus nécessaires, et qu'ils les accouplent, selon le strict besoin, sans aucun souci de la conjugaison et męme de la syntaxe.» Ob. cit., p. 44. Os dialectos de que nos temos occupado năo săo pois o resultado de uma transformaçăo lenta, gradual, tendo por ponto de partida principal a alteraçăo phonetica, como a que se opera nas linguas que seguem o curso normal da sua evoluçăo, como a que transformou o latim em portuguez, hespanhol, provençal, italiano e valachio; nos dialectos creolos e similhantes a alteraçăo phonetica é o menos; com ella pouco se explica da estructura morphologica e syntactica d'essas fórmas de linguagem. Bopp e Diez săo de muito pouca utilidade immediata, os principios da grammatica comparada usual de pouco nos servem para entendermos aquelles dialectos. A transformaçăo da linguagem em virtude da alteraçăo phonetica é um phenomeno de base physiologica; a formaçăo dos dialectos creolos é no que tem de essencial um phenomeno psychologico. Formam-se elles rapidamente, para acudir á necessidade das relaçőes; é o povo inferior pela raça, pelo estado de civilisaçăo, mas ao mesmo tempo mais forte de instinctos, mais rico de espontaneidade, é esse que os forma com os materiaes da lingua do povo superior, que em regra năo desce a aprender ou mesmo a dar attençăo ás expressőes do barbaro, do selvagem. Ao ouvido do povo inferior chegam primeiro como ondas sonoras tumultuosas as palavras do povo superior, depois aquelle percebe como que um rythmo, depois n'aquelle oceano de palavras descobre alguns pontos firmes, salientes; fixa-se n'elles: săo as fórmas mais geraes e frequentes da linguagem; ellas bastam--a lingua nova, o instrumento indispensavel para o trato está forjado; enriquecel-o, approximando-o do typo perfeito, é obra do tempo, se o houver, se as condiçőes o permittirem; mas a riqueza năo será muitas vezes mais do que anomalia, porque aquella fórma primeira de linguagem, nascida de um trabalho todo espontaneo, era perfeitamente coherente. Por fim dá-se muitas vezes um phenomeno curioso: entendido do povo superior, do povo que em geral manda, o povo inferior năo quer saber mais nada da lingua d'elle, contentando-se com o dialecto que formou: entăo o povo superior ver-se-ha obrigado a fallar a sua propria lingua alterada[12]. É innegavel que a primeira reducçăo morphologica (podemos assim definir o processo de formaçăo dos nossos dialectos) que uma lingua experimenta na bôca de um povo que tinha já outra deixa vestigios profundos, ainda quando o povo acaba por esquecer completamente a sua lingua propria e por conhecer de um modo mais completo a morphologia da lingua que adopta de um outro povo. Os processos periphrasticos da primeira phase da acquisiçăo da lingua estranha năo desapparecerăo de todo, e mais tarde, quando a alteraçăo phonetica, que elles favorecem, obscurecer certas fórmas grammaticaes, esses processos voltarăo a ser normaes na lingua. Năo será a causa d'esta natureza que serăo devidos os futuros periphrasticos, por exemplo, nas linguas romanicas? Até hoje năo se determinou com precisăo o grau e caracter da influencia exercida por um povo sobre a lingua estranha que a conquista ou outras causas lhe faz adoptar. O erro capital n'esta questăo consiste, a nosso ver, em se suppor que a lingua estranha é alterada pelo typo da lingua propria. O estudos dos dialectos creolos permitte-nos resolver esta questăo. 2.^o _Os dialectos romanico-creolos, indo-portuguez e todas as formaçőes similhantes devem a origem á acçăo de leis psychologicas ou physiologicas por toda a parte as mesmas e năo á influencia das linguas anteriores dos povos em que se acham esses dialectos._ Os factos accumulados por nós mostram á evidencia que os caracteres essenciaes d'esses dialectos săo por toda a parte os mesmos, apesar das differenças de raça, de clima, das distancias geographicas e ainda dos tempos. É em văo que se buscará, por exemplo, no indo-portuguez uma influencia qualquer do tamul ou do singalez. No dialecto macaista a formaçăo do plural por duplicaçăo do singular póde attribuir-se a uma influencia chineza, mas esse processo é tăo rudimentar que nenhuma conclusăo podemos fundar sobre elle. No dialecto da ilha de Sant'Iago _muito muito_ é um superlativo. Os phenomenos phoneticos que nos offerecem os dialectos creolos nada tęem de especial: a suppressăo do _r_ final, a tendencia para o iotacismo, por exemplo, apparecem-nos quasi por toda a parte; as proprias excepçőes săo as mesmas: assim temos _ser_ e năo _sę_ em Ceylăo, em Macau, no archipelago de Cabo Verde. Nenhum som das linguas indigenas foi transportado para os dialectos creolos; mas alguns sons das linguas europeas foram modificados. Ora na propria Europa se notam modificaçőes similhantes. A seguinte observaçăo do dr. Bos sobre o creolo da ilha Mauricio é, emquanto aos sons, quasi inteiramente applicavel a todos os dialectos similhantes: «É provavel que os sons do francez que o negro năo pôde reproduzir faltavam na sua lingua. A influencia das linguas negras reduziu-se a isso; ellas năo.... implantaram nenhum som novo; ellas supprimiram os que ellas ignoravam[13], para os substituir por outros mais ou menos analogos: _e_ mudo por _i_, _ui_ por _i_ , _j_ por _z_, _ch_ por _ç_, etc.» No fallar brazileiro, por exemplo, năo parece haver nenhum dos sons particulares do tupi-guarani. A acçăo das leis psychologicas geraes vae quasi sempre nos dialectos de que nos occupâmos até ás feiçőes miudas; assim năo só a periphrase com as fórmas mais geraes nos apparece para substituir as fórmas năo adquiridas, mas ainda a mesma preferencia por certas fórmas auxiliares se nota quasi por toda a parte; assim o presente formado com _ta_ (==_estar_) em Macau, nas ilhas de Cabo Verde, em Curaçáo; em Ceylăo como em Curaçáo _lo_ é o elemento formativo do futuro. Na Luisiania _té_==_était_ serve para formar o imperfeito. A preferencia dada n'esses dialectos aos pronomes regimens, que vęem occupar o logar dos pronomes sujeitos encontra-se entre nós no fallar das creanças e tem grande extensăo nas phrases populares das nossas linguas europęas[14]. A propria selecçăo lexiologica, isto é, a preferencia dada a certos termos, manifesta a acçăo das mesmas leis geraes, das mesmas tendencias nas formaçőes que estudâmos, apesar das differenças de raças e de meios; assim para significar fallar ou dizer encontrâmos em Ceylăo, Curaçáo, archipelago de Cabo Verde, etc., a palavra _papiá_, o que é tanto mais interessante quanto esse termo năo parece existir hoje nem em hespanhol nem em portuguez. O substantivo _misté_ (_mister_) em Ceylăo, em Macau, em Curaçáo, no archipelago de Cabo Verde, tem o valor de um verbo significando ser preciso, ter necessidade de, dever. _Pamóde_ e _promodi_(==por amor de) tomam em Macau, como em Santo Antăo, o logar da conjuncçăo porque, de um modo independente; em quanto o _passóba_ (==_por es'obra_) de Curaçáo nos lembra o _quamobrem_ latino. _Assilai_ por _tal_ em Ceylăo e Macau deve ter-se produzido tambem independentemente n'um e n'outro dialecto; a palavra é composta de _assi_ (d'este modo) e _lai_ por _laia_, que em portuguez significa especie, sorte, estofo. sentido desenvolvido do de _lă_. A extensăo já tăo consideravel d'este artigo năo nos permitte desenvolvermos mais completamente estas idéas, julgâmos porém ter ministrado sufficientes provas de que os dialectos creolos e formaçőes similhantes năo revelam influencia alguma directa, salvo no vocabulario, das linguas anteriores dos povos que os fallam, mas que se deve ver n'elles apenas o resultado da acçăo de leis geraes a que obedece por toda a parte o espirito humano. O nosso _Estudo sobre a grammatica e o vocabulario do indo-portuguez_ completará as nossas observaçőes na parte comparativa[15]. Notas: [1] Logo qui por _quę l'or qui_. Hoje é muito usado na cidade da Praia. [2] O desapparecimento da syllaba inicial de _minha_ explica-se pelo facto d'esta palavra se tornar proclitica? G. Vicente tem _enha_. [3] As particularidades historicas que seguem săo extrahidas da obra _Ceylon, an account of the Island_, etc. by sir James Emerson Tennent. London, 1860, 2 volumes, 8.^o [4] Istes Escrituras de Novo Testamento, (que nossa Senhor Jesus Christo ja papia,) _particularmente_ te da sabe, istes Mandamentos, que quer dizia. [5] _Apud_ Carl Engel, _An Introduction to the Study of National Music._ London, 1866. 8.^o, p. 351. [6] Catin en patois normand est une poupée. [7] _Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro._ 1878-1879. Vol. IV. _Manuscripto guarani da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro_, etc., _publicado com a traducçăo portugueza, notas, e um esboço grammatical do abáńee_ pelo dr. Baptista Caetano d'Almeida Nogueira, p. XI-XII. [8] _O Selvagem_, I. Curso da lingua geral segundo Ollendorf. II. Origens, costumes, regiăo selvagem, por Couto de Magalhăes. Rio de Janeiro, 1876, 8.^o, p. 40. [9] Ob. cit., p. 77. [10] _O Selvagem_, I. Curso da lingua geral segundo Ollendorf, etc., p. 77. [11] «Dčs 1633, le pčre Lejeune se plaignait qu'on employât entre Français et Indiens un jargon qui n'était, ŕ proprement parler, ni le français ni l'indien, et cependant, ajoutait-il avec surprise, les Français, ŕ l'user, se flattent de parler indien, et les Indiens pensent s'exprimer en bon français.» Maspčro _Rev. ling._ IX, 405. [12] Vid. acima as interessantes observaçőes de Bocandé. [13] Seria preferivel dizer: parte dos que ellas ignoravam. [14] Vid. J. Storm, _Englische Philologie_, I, 207 ss. [15] N'esse estudo tentaremos tanto quanto nos é possivel fazer com os materiaes que temos á nossa disposiçăo, indicar as particularidades phoneticas do indo-portuguez, escondidas em grande parte sob a orthographia adoptada pelos missionarios inglezes, e que julgâmos năo dever modificar no specimen que démos, reproduzido do folheto que contém _Oraçőes_, _Dez Mandamentos_, _O sermăo riba do montanha_ (sem data nem logar de impressăo). Lista de erros corrigidos Aqui encontram-se listados todos os erros encontrados e corrigidos: +----------+-------------------------+----------------------+ | | Original | Correcçăo | +----------+-------------------------+----------------------+ |#pág. 4| Anăto | Antăo | |#pág. 13| Estes cavallos săo teus.| Esta egua é tua. | |#pág. 30| _three voyage_ | _three voyages_ | +----------+-------------------------+----------------------+ As variaçőes de dialecto (por vezes escrito dialeto) foram mantidas de acordo com o original. As variaçőes de nomes próprios foram mantidas de acordo com o original (ex: Newtead e Newstead ) End of the Project Gutenberg EBook of Os dialectos romanicos ou neo-latinos na África, Ásia e América, by Francisco Adolfo Coelho *** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK DIALECTOS ROMANICOS OU NEO-LATINOS *** ***** This file should be named 33159-8.txt or 33159-8.zip ***** This and all associated files of various formats will be found in: https://www.gutenberg.org/3/3/1/5/33159/ Produced by Rita Farinha, José Carvalho and the Online Distributed Proofreading Team at https://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed. Creating the works from public domain print editions means that no one owns a United States copyright in these works, so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United States without permission and without paying copyright royalties. Special rules, set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you do not charge anything for copies of this eBook, complying with the rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose such as creation of derivative works, reports, performances and research. They may be modified and printed and given away--you may do practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is subject to the trademark license, especially commercial redistribution. *** START: FULL LICENSE *** THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free distribution of electronic works, by using or distributing this work (or any other work associated in any way with the phrase "Project Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project Gutenberg-tm License (available with this file or online at https://gutenberg.org/license). Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm electronic works 1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to and accept all the terms of this license and intellectual property (trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. 1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be used on or associated in any way with an electronic work by people who agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works even without complying with the full terms of this agreement. See paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic works. See paragraph 1.E below. 1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the collection are in the public domain in the United States. If an individual work is in the public domain in the United States and you are located in the United States, we do not claim a right to prevent you from copying, distributing, performing, displaying or creating derivative works based on the work as long as all references to Project Gutenberg are removed. Of course, we hope that you will support the Project Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with the work. You can easily comply with the terms of this agreement by keeping this work in the same format with its attached full Project Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. 1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in a constant state of change. If you are outside the United States, check the laws of your country in addition to the terms of this agreement before downloading, copying, displaying, performing, distributing or creating derivative works based on this work or any other Project Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning the copyright status of any work in any country outside the United States. 1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: 1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, copied or distributed: This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org 1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived from the public domain (does not contain a notice indicating that it is posted with permission of the copyright holder), the work can be copied and distributed to anyone in the United States without paying any fees or charges. If you are redistributing or providing access to a work with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or 1.E.9. 1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted with the permission of the copyright holder, your use and distribution must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the permission of the copyright holder found at the beginning of this work. 1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm License terms from this work, or any files containing a part of this work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. 1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this electronic work, or any part of this electronic work, without prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with active links or immediate access to the full terms of the Project Gutenberg-tm License. 1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any word processing or hypertext form. However, if you provide access to or distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than "Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm License as specified in paragraph 1.E.1. 1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. 1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided that - You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method you already use to calculate your applicable taxes. The fee is owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he has agreed to donate royalties under this paragraph to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments must be paid within 60 days following each date on which you prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax returns. Royalty payments should be clearly marked as such and sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the address specified in Section 4, "Information about donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." - You provide a full refund of any money paid by a user who notifies you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm License. You must require such a user to return or destroy all copies of the works possessed in a physical medium and discontinue all use of and all access to other copies of Project Gutenberg-tm works. - You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the electronic work is discovered and reported to you within 90 days of receipt of the work. - You comply with all other terms of this agreement for free distribution of Project Gutenberg-tm works. 1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm electronic work or group of works on different terms than are set forth in this agreement, you must obtain permission in writing from both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the Foundation as set forth in Section 3 below. 1.F. 1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread public domain works in creating the Project Gutenberg-tm collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic works, and the medium on which they may be stored, may contain "Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by your equipment. 1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all liability to you for damages, costs and expenses, including legal fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH DAMAGE. 1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a written explanation to the person you received the work from. If you received the work on a physical medium, you must return the medium with your written explanation. The person or entity that provided you with the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a refund. If you received the work electronically, the person or entity providing it to you may choose to give you a second opportunity to receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy is also defective, you may demand a refund in writing without further opportunities to fix the problem. 1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. 1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any provision of this agreement shall not void the remaining provisions. 1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance with this agreement, and any volunteers associated with the production, promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, that arise directly or indirectly from any of the following which you do or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of electronic works in formats readable by the widest variety of computers including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from people in all walks of life. Volunteers and financial support to provide volunteers with the assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will remain freely available for generations to come. In 2001, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit 501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by U.S. federal laws and your state's laws. The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered throughout numerous locations. Its business office is located at 809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email [email protected]. Email contact links and up to date contact information can be found at the Foundation's web site and official page at https://pglaf.org For additional contact information: Dr. Gregory B. Newby Chief Executive and Director [email protected] Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide spread public support and donations to carry out its mission of increasing the number of public domain and licensed works that can be freely distributed in machine readable form accessible by the widest array of equipment including outdated equipment. Many small donations ($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt status with the IRS. The Foundation is committed to complying with the laws regulating charities and charitable donations in all 50 states of the United States. Compliance requirements are not uniform and it takes a considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up with these requirements. We do not solicit donations in locations where we have not received written confirmation of compliance. To SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any particular state visit https://pglaf.org While we cannot and do not solicit contributions from states where we have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition against accepting unsolicited donations from donors in such states who approach us with offers to donate. International donations are gratefully accepted, but we cannot make any statements concerning tax treatment of donations received from outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation methods and addresses. Donations are accepted in a number of other ways including including checks, online payments and credit card donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic works. Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm concept of a library of electronic works that could be freely shared with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily keep eBooks in compliance with any particular paper edition. Most people start at our Web site which has the main PG search facility: https://www.gutenberg.org This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, including how to make donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.

32,897 words • 548h 17m read

— End of Os dialectos romanicos ou neo-latinos na África, Ásia e América —

Book Information

Title
Os dialectos romanicos ou neo-latinos na África, Ásia e América
Author(s)
Coelho, Adolfo
Language
Portuguese
Type
Text
Release Date
July 14, 2010
Word Count
32,897 words
Library of Congress Classification
PC
Bookshelves
Browsing: Language & Communication, Browsing: Literature
Rights
Public domain in the USA.